Kedma Araujo deixou o trabalho formal para assumir a empresa da família, que saiu do Ceará com destino a Goiás
A Ápice Moda Praia surgiu a partir da luta de uma família que, em meados de 1979, saiu do estado do Ceará com destino a Goiânia. Os pais de Kedma Araujo, que é a atual responsável pela empresa, batalharam desde a mudança para comprar um lote na cidade e, em 1993, a propriedade foi conquistada. A partir daí, a história da Ápice começou a ser trilhada.
No lote, que se tornou a residência da família de Kedma, foi construída uma grande sala comercial que, posteriormente, foi dividida em três salas. O pai da empresária, Vicente de Paulo, utilizou uma das salas para o conserto de geladeiras, ares-condicionados e tanquinhos. Por sua vez, a matriarca da família, Maria das Graças, utilizou o espaço para expor algumas peças em crochê fabricadas por ela.
As habilidades de Maria na costura eram admiráveis e, desde a mudança para o estado de Goiás, a mulher trabalhou como costureira, sem horário para o início ou para o fim da jornada. Quando Kedma tinha cerca de 18 anos, o acerto em um dos empregos que assumiu resultou em R$ 300. Sua mãe, que possuía visão empreendedora, utilizou o montante para investir em material para a produção das peças em crochê e conseguir uma rentabilidade maior para a família. A partir dessa iniciativa, em 1993, a Ápice Moda Praia foi desenvolvida, mesmo que na época a família não imaginasse o sucesso que estaria por vir.
Depois de 11 anos, em 2014, Vicente foi diagnosticado com Alzheimer. Kedma trabalhava na área de materiais de construção e sua mãe era a responsável pela loja, que funcionava de segunda a segunda. No entanto, como a condição de Vicente demandava uma atenção maior, Maria precisou se dedicar ao marido e Kedma deixou o emprego para assumir a administração da Ápice.
“Na época, eu não gostava da ideia de tomar conta da loja. Eu não entendia porque minha mãe trabalhava tanto, incansavelmente. Mas, aos poucos, ela foi me ensinando e eu comecei a me dedicar”, explicou Kedma. Segundo ela, um dos pontos principais nesse processo foi o entendimento de que tudo deveria ser feito com prudência, da forma como a matriarca sempre havia feito.
“Minha mãe sempre fez muitos cursos no Sebrae. Ela participava das feiras e exposições e eu sempre a acompanhava. Então eu já sabia como funcionava parte desse mundo. Comecei a fazer cursos e a entender como eu poderia expandir o negócio que foi o sustento da minha família por tantos anos, mas sempre com os pés no chão”, ressaltou.
No decorrer dos anos e especialmente durante a pandemia da Covid-19, a empresa adotou o modelo de vendas on-line. No início deste período os desafios foram grandes, já que a loja física precisou ficar de portas fechadas, mesmo com uma grande quantidade de produtos em estoque. “O comércio on-line ainda não era tão presente na Ápice e eu comecei a pensar no que poderíamos fazer. Eu não sabia se conseguiríamos, mas entrei em grupos da região nas redes sociais e passei a divulgar os produtos. Para reduzir o estoque, nós fizemos um bazar. Peguei tudo aquilo que estava parado, analisei os preços que eu poderia aplicar e consegui fazer duas edições. Foi um sucesso. Mesmo com a loja fechada, nós conseguimos vender na pandemia”, comentou Kedma.
De acordo com a empreendedora, o Sebrae apoiou a execução da iniciativa e, mesmo após as duas edições do bazar, a parceria continuou. “Me orientaram sobre a possibilidade de avaliação do perfil no Instagram e eu não pensei duas vezes. Mandei o nosso Instagram para o Sebrae, daí eles avaliaram e me mandaram um relatório. Fiz tudo o que eles apontaram e já comecei a ver diferença. Depois fiz o curso Up Digital e aprendi bastante. Percebi que eu sabia muito, mas não estava aplicando da maneira correta. Através desse curso, de agosto para cá, posso dizer que nosso faturamento cresceu 100%”, declarou.
Ainda de acordo com ela, muitos outros ganhos já foram obtidos a partir dos conhecimentos propiciados pelo Sebrae. “Os consultores sempre estão presentes aqui na loja. Com esse apoio, eu pude realmente conhecer a nossa persona e trabalhar com o nosso público-alvo. Nós estamos investindo no nosso público e fazendo anúncios semanais direcionados a eles. Já estamos com 17 mil seguidores no Instagram e eles são, de fato, potenciais clientes. Nossas vendas on-line aumentaram muito e o Sebrae sempre foi nosso parceiro nessa jornada”, exemplifica a empresária.
Para Kedma, além do envio das mercadorias para todos os locais do Brasil, um diferencial da empresa é a experiência propiciada ao cliente, o que fez, inclusive, com que o nicho fosse modificado. “Noventa por cento do nosso público é composto por mulheres. São mães, idosas e crianças. Com a nossa forma de divulgação, percebi que estamos ampliando espaço com o público plus size. Diante disso, estamos investindo nessas mulheres e mostrando a elas que existem peças que as deixarão confortáveis e muito bonitas, sem a necessidade de estar em um padrão”, explicitou.
Neste ano, a microempresa completou 30 anos de história. Mesmo que a administração do negócio esteja na responsabilidade da filha, Maria vai à loja todos os dias e se dedica a conversar pessoalmente com os clientes. “O empreendedorismo está no sangue. Isso nunca muda. Minha mãe gosta muito do que ela fez e me entregou. Eu acho que todas as dificuldades que ela passou foi confiando que um dia eu assumiria a empresa e levaria isso para a frente”, ressaltou Kedma.
E o amor da mãe pela empresa foi, de fato, passado para a filha. “Para quem não gostava da ideia de gerir a empresa, hoje eu me dedico integralmente a ela. A Ápice se tornou uma filha para mim. E eu vejo o brilho no olhar da minha mãe quando entra um cliente, quando nós vendemos e conseguimos pagar nossos boletos, quando conseguimos comprar coisas novas. Hoje eu vejo o significado dos anos de trabalho que a minha mãe e o meu pai tiveram”, expôs Kedma.
Com uma trajetória inspiradora, a empresária deixa um recado para aqueles que desejam entrar no mundo do empreendedorismo. “Se tiver algo parado, se movimente. Faça com os recursos que tiver, da forma como puder. Eu não tenho recursos para pagar uma influencer digital para fazer propaganda para a loja, então eu me tornei a própria influencer da Ápice. Eu faço as fotos, os vídeos e planejo todos os conteúdos do Instagram. Muitas vezes as pessoas sentem vergonha ou insegurança, mas se a gente quer que aconteça, é preciso fazer a nossa parte. E fazer nossa parte não necessariamente envolve dinheiro, mas envolve amor”, finaliza.