Rio Branco, AC 25 de dezembro de 2025 01:55
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Quem era Moisés Alencastro, ativista cultural encontrado morto a golpes de faca no Acre

Figura influente no meio cultural, Moisés conciliava serviço público com atuação ativa na cultura e no colunismo social. Corpo do colunista foi encontrado na noite de segunda-feira (22), em Rio Branco

Moisés Ferreira Alencastro, de 59 anos, era uma das figuras mais conhecidas e respeitadas do meio cultural acreano. Ativista cultural, advogado, colunista social e servidor do Ministério Público do Acre (MP-AC), ele foi encontrado morto na noite de segunda-feira (22), dentro do apartamento onde morava, no bairro Morada do Sol, em Rio Branco.

O velório está previsto para ocorrer a partir das 13h desta terça (23) no Cemitério Morada da Paz, na capital.

O corpo apresentava ferimentos de faca, e a principal linha de investigação da polícia é de homicídio. O MP também acompanha o caso.

“O caso foi iniciado pela equipe de pronto emprego, na noite de ontem a perícia esteve no local para realizar do levantamento de dados probatórios do crime. A DHPP inicia as investigações na data de hoje e aguarda o resultado do exame cadavérico”, afirmou a Polícia Civil ao g1.

Servidor do MP-AC há mais de 19 anos, Moisés iniciou sua trajetória no órgão em meados de 2006 e, atualmente, atuava no Centro de Atendimento à Vítima (CAV).

Ao longo da carreira, o órgão disse que ele se destacou pela dedicação ao serviço público e pela capacidade de conciliar a atuação institucional com uma presença constante na vida cultural do estado.

“Servidor do Centro de Atendimento à Vítima (CAV), Moisés Alencastro atuava diretamente no acolhimento de pessoas atingidas pela violência e seus familiares”, disse em nota.

Advogado licenciado, a Ordem dos Advogados do Brasil – Seccional Acre (OAB-AC) pontuou que ele ‘foi um exemplo de humildade, competência e comprometimento com o trabalho e com a nossa sociedade’.

“A advocacia está de luto e, unidos, rogamos para que Deus conforte os corações de seus familiares e amigos neste momento de tamanha tristeza”, complementou.

Perda na cultura

Amiga pessoal de longa data, a jornalista Andréa Zilio disse que ele foi crucial na criação do primeiro conteúdo de turismo no Acre, o Turismo Pé na Estrada.

“Você partir assim, com toda essa energia que sempre transbordou, já é triste demais. Dessa forma, então, é simplesmente inconcebível. Sua luta sempre foi pela vida, pelo amor, pelo encontro, pela celebração do que há de bom”, homenageou ela.

Amigos homenageiam Moisés Alencastro, encontrado morto em Rio Branco — Foto: Reprodução/Instagram

No campo das políticas culturais locais, Moisés teve participação ativa no Conselho Estadual de Cultura, onde contribuiu para a formulação e o fortalecimento das políticas culturais do Acre.

Reconhecido pelo diálogo e pelo compromisso institucional, era defensor da valorização da identidade cultural acreana e atuava como articulador entre artistas, produtores e o poder público.

“No jornalismo, deixou sua marca como observador atento da vida social e cultural, registrando pessoas, acontecimentos e memórias do nosso tempo”, frisou o presidente da Fundação de Cultura Elias Mansour (FEM), Minoru Kinpara, em nota publicada após a morte do ativista.

Fundação Elias Mansour publicou nota de pesar pela morte de Moisés Alencastro — Foto: Reprodução/Instagram

Além da atuação institucional, Moisés deixou marca no colunismo social, área em que se consolidou como observador da vida cultural e social do estado.

Por meio de textos e registros, acompanhava eventos, personagens e acontecimentos que ajudaram a construir a memória contemporânea do Acre.

“Que o nosso Senhor Jesus te receba de braços abertos, amigo. Foram grandes momentos de alegria nessa vida terrena”, lamentou o jornalista e colunista social Vagno Di Paula nas redes sociais.

Colunistas sociais lamentam morte de Moisés Alencastro — Foto: Reprodução/Instagram

O caso

Moisés foi visto pela última vez no domingo (21). Após perderem contato com ele, amigos e colegas passaram a tentar localizá-lo.

O sinal do serviço de nuvem do celular, compartilhado com uma amiga, indicou localização no bairro Eldorado, o que levantou suspeitas. Diante da ausência de resposta, o MP-AC autorizou o arrombamento da porta do apartamento.

Carro de Moisés Alencastro foi encontrado no km 15 da Estrada do Quixadá, em Rio Branco — Foto: Reprodução

O corpo foi encontrado deitado sobre a cama na noite de segunda-feira (22). O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) confirmou o óbito. A área foi isolada pela Polícia Militar, e o corpo recolhido pelo Instituto Médico Legal (IML). O caso é investigado pela Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP).

Durante as diligências, o g1 apurou que o carro de Moisés foi localizado pela Polícia Militar na Estrada do Quixadá, na região do bairro São Francisco, com os pneus furados e o porta-malas aberto. Até a última atualização desta reportagem, ninguém havia sido preso.

Carro de Moisés Alencastro foi encontrado na Estrada do Quixadá, em Rio Branco, e passa por perícia — Foto: Júnior Andrade/Rede Amazônica

Comoção

O governador do Acre, Gladson Camelí, lamentou a morte e afirmou que Moisés “era uma pessoa muito querida na sociedade acreana, conhecido por sua alegria e espontaneidade e parte deixando um legado na cultura do estado e no colunismo social, bem como no serviço público”.

A Fundação de Cultura Elias Mansour (FEM) manifestou solidariedade aos familiares, amigos, colegas de trabalho e membros do Conselho Estadual de Cultura, classificando a perda como ‘irreparável’.

“Neste momento de dor, a FEM se solidariza com os familiares, amigos, colegas de trabalho e membros do Conselho Estadual de Cultura, expressando votos de conforto e serenidade diante desta perda irreparável”, disse.

O presidente da Associação dos Homossexuais do Acre (Ahac), Germano Marino, destacou a importância de Moisés no cenário cultural local. “[Ele] não merecia partir dessa forma, e sua ausência deixa um vazio imenso. Que possamos honrar sua memória com dignidade, empatia e união neste momento tão difícil”, complementou.