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Polícia

Família nega que enfermeira morta em perseguição policial no AC tinha pistola: ‘forjaram isso’

Família nega que enfermeira morta em perseguição policial no AC tinha pistola: ‘forjaram isso’

José Nilton diz que irmã baleada pelo Gefron nesse sábado (2) nunca usou arma de fogo e critica posicionamento da polícia sobre armamento encontrado próximo ao carro da enfermeira. Comandante da equipe e patrulheiro foram presos e devem passar por audiência de custódia

Amigos e familiares da enfermeira Géssica Melo de Oliveira, de 32 anos, estão inconformados com a morte dela durante uma perseguição policial nesse sábado (2) na BR-317, em Capixaba, interior do Acre. O Grupo Especial de Fronteira (Gefron) afirma que Géssica estava armada, fazia manobras perigosas que colocavam em risco a vida de outras pessoas e por isso atiraram no carro para pará-la.

Após a morte, a polícia achou uma pistola 9 milímetros jogada próximo do local do acidente. A arma é de uso restrito das forças armadas.

A família contesta a versão apresentada e diz que a enfermeira não tinha arma de fogo. Ainda segundo os parentes, Géssica sofria de depressão, teve um surto no sábado, pegou o carro e saiu dirigindo em direção ao interior do estado.

Da equipe, composta por três militares, foi dada ordem de prisão ao comandante da equipe e ao patrulheiro, com flagrante lavrado neste domingo. “A custódia ainda não aconteceu, estão juntando documentos para então acontecer a audiência. Talvez aconteça hoje (3) ainda ou amanhã (segunda-feira,4) antes das 24h”, disse a assessoria do Tribunal de Justiça do Acre (TJ-AC).

A enfermeira morava no bairro Jorge Lavocat, em Rio Branco, e tinha três filhos, de 11, 6 e 3 anos. Dois policiais militares, cedidos ao Gefron e que estavam na equipe, foram presos em flagrante ao se apresentarem no comando da Polícia Militar do Acre (PM-AC).

“Forjaram isso. Ela nunca manuseou uma arma, isso é mentira de pessoas que ceifaram a vida da minha irmã. Estava passando por um processo de depressão, pegou o carro e saiu, dizem que estava em alta velocidade. A polícia tinha outros meios de parar ela, se queriam atirar, porque não atiraram no pneu do carro? Fizeram isso com minha irmã, uma covardia e ainda querem forjar com arma. Isso nos deixa mais indignados”, disse ao g1 o irmão de Géssica, o servidor público José Nilton de Oliveira.

Ainda segundo o parente, Géssica foi diagnosticada há alguns meses com depressão, mas não fazia tratamento recentemente. Há cerca de 25 dias, Oliveira relembra que a irmã teve uma recaída e teve um surto semelhante.

“A pessoa está depressiva. Se você se depara com duas ou três viaturas atrás de ti, a tendência é se agitar e acelerar. Ela estava só em casa, os filhos estavam com o pai, ficavam com ele durante a semana por causa da escola”, relatou.

O servidor público afirmou também que o carro usado por Géssica está no nome de uma amiga dela, que inclusive é médica e a atendeu no hospital de Senador Guiomard. “O carro era da Géssica, mas estava no nome da Fabíola, não tinha transferido ainda. Eram amigas, tinha comprado esse carro há algum tempo”, complementou.

Entrada como vítima de trânsito

A família afirma também que Géssica deu entrada no hospital como vítima de acidente de trânsito.

“Falaram que tinha sido acidente, mas, depois de tudo, foi à tona que não teria sido acidente. Os policiais falaram isso para médica, só que viu perfurações, inclusive, de arma tipo fuzil. Dizem que foram os policiais que entregaram”, alegou.

José Nilton diz que amigos e familiares estão revoltados com tudo que aconteceu. “Uma menina que não fazia mal a ninguém, trabalhava e batalhava para ajudar a pagar o salário deles. Ceifaram a vida da minha irmã, não podemos deixar que isso fique impune”, criticou.

Perseguição

Géssica Melo de Oliveira, de 32 anos, morreu na manhã desse sábado (2) após ser baleada em Senador Guiomard durante uma perseguição policial na BR-317, que começou em Capixaba, ambas as cidades no interior do Acre. Equipes da Polícia Militar e do Grupo Especial de Fronteira (Gefron) perseguiam o carro após ela furar um bloqueio policial em Capixaba. A corregedoria da Polícia Militar (PM-AC) apura o caso.

A coordenação do Gefron informou que um policial da equipe viu a motorista com uma arma nas mãos e atirou em direção ao carro na tentativa de pará-lo. Após os disparos, no quilômetro 102, nas proximidades da entrada do Ramal da Alcoolbrás, a enfermeira perdeu o controle do veículo, entrou em uma área de mata e bateu o carro em uma cerca.

Imagens obtidas pelo g1 mostram o início da perseguição ao carro de Géssica por uma equipe da PM-AC de Capixaba na área urbana da cidade (veja o vídeo acima). Depois, há imagens da perseguição fora de Capixaba pela mesma equipe policial.

A Secretaria de Justiça e Segurança Pública (Sejusp) divulgou uma nota destacando que ‘diante dos fatos, a Polícia Militar instaurou inquérito por meio da corregedoria para apurar o caso’. A PM também publicou uma nota afirmando que os militares envolvidos na ocorrência foram ouvidos (veja abaixo na íntegra).

Nota da PM-AC

Sobre a ocorrência de acompanhamento no sentido Capixaba/Rio Branco:

Policiais militares realizavam patrulhamento de rotina quando avistaram um veículo em alta velocidade, iniciaram o acompanhamento usando sinais sonoros e luminosos e solicitavam a parada do automóvel. A condutora a todo momento ignorava as ordens e oferecia risco aos transeuntes com direção perigosa.

Os militares solicitaram apoio do Gefron e da PRF que fizeram um bloqueio a fim de parar o veículo.

A condutora do automóvel mais uma vez não obedeceu a ordem de parada. A equipe do Gefron seguiu o veículo e em dado momento afirmaram terem visto uma arma de fogo na mão da condutora. Após isso foram realizados disparos de arma de fogo.

Alguns metros a frente o veículo saiu da pista, momento que a condutora foi identificada, estava ferida. O serviço de atendimento médico foi acionado e a condutora encaminhada a uma unidade de saúde pelos policiais do Gefron.

A polícia técnica foi acionada e foi realizada perícia no veículo e no local do fato. A Polícia Militar realizou todos os procedimentos necessários para a investigação dos fatos. Os militares envolvidos na ocorrência foram ouvidos na corregedoria da Polícia Militar onde foi realizado o flagrante, dando início ao procedimento investigativo sobre a situação. Os policiais passarão por audiência de custódia.

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