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Especial

Empresários europeus com negócios no Acre, reconhecem dívidas  mas não dizem quando pagarão

Um deles, Pedro Ruhs, escreveu livro sobre como ter um “bumbum lindo” e a obra está à venda na Internete ao custo de R$ 10,00

A expressão acreana que qualifica gente velhaca segundo a qual o sujeito é capaz de “dar calote até no santo”, para credores e prestadores de serviços da Laminados Triunfo, empresa instalada no Parque Industrial de Rio Branco, no Acre, e que está sob controle acionário de empresários de capital estrangeiro e com negócios na Europa, há muito deixou de ser piada. Não é brincadeira porque a ameaça de um calote generalizado é cada vez mais real, mesmo que eles admitam as dívidas.

Uma das empresas mais ameaçadas de calote, porque é a que talvez mais tenha a receber dos empresários, é a Fortís Administração Judicial e Participações Ltda, que foi a responsável pelo planeamento estratégico resultante no equacionamento do passivo que a Laminados Triunfo tinha junto a bancos, fornecedores, trabalhistas e “terceiros”. A empresa até recebeu alguns valores, mas o grosso da dívida, que já devia ter sido liquidado, virou um mistério. 

Graças ao trabalho ainda não remunerado da Fortis os novos controladores da empresa obtiveram sucesso nas negociações que se tornaram peça fundamental para que o sócio fundador da empresa, Jandir Santin, concretizasse a venda da empresa para os empresários Flavio Meira Penna, Maurizio Totta e Pedro Ruhs. Os três são investidores do mercado financeiro, controladores de empresas mundo afora e homens de negócios na Europa, mas, no Acre, onde acham que é terra de ninguém, não passam de caloteiros, segundo credores reunidos sob um projeto de criação de uma associação a qual só não foi ainda instalada por causa do decreto do governador Gladson Cameli proibindo aglomerações de pessoas em função da pandemia do coronovírus.

O que passei para Amaury [o homem encarregado de representar no Acre os empresários que vivem em ponte aérea internacional], foi que logo que fecharmos esta operação vamos colocar em dia TODOS os atrasados contigo e com o Jandir tmbém. O aporte deve ser da ordem de R$ 10 milhões, o que certamente trará uma grande tranquilidade para todos”

Em e-mail enviado para a administração da empresa Fortis, datado do dia 22/11/2019, o sócio Flavio Meira Penna, filho do ilustre diplomata José Oswaldo de Meira Penna, falecido em 2017 aos cem anos de idade e autor de livros elogiados até pelo Prêmio Nobel de Literatura Mário Vargas Llosa, reconhece que deve salários dos próprios executivos das empresas laminados triunfo e CIFLOX, bem como inúmeros fornecedores, além do próprio Jandir  Santim e que uma operação no valor de 2,2 milhões de dólares colocaria a casa em ordem.

Um dos credores, que condiciona o fornecimento de informação à omissão de seu nome por temer o poderio financeiro dos devedores, disse que preocupa muito é a atual gestão da empresa, apontada como inexperiente e que tem pago um preço alto para “tentar aprender”. Apesar dessas visíveis dificuldades, os empresários bilionários não contratam executivos que entendem do assunto. “Se formos analisar hoje a situação do estoque de tora, é visível o pátio da empresa a existência de madeira se perdendo, madeiras alternativas que não fazem parte do escopo da matéria-prima utilizada para laminar e fazer o compensado, sendo que boa parte é “bicheira” ou madeira para fazer o miolo do compensado. No entanto, o miolo dá para fazer até mesmo de Eucalyptus”, disse um dos credores.

maurizioMaurizio Totta, uma espécie de capo italiano tem negócios no Acre que não vem honrando, cobram, credores - Foto: Cedida

Ironias do destino - Para outro credor, “a incompetência, burrice e irresponsabilidade é tamanha que as últimas toras para fazer a capa de compensado (samaúma, copaíba, manité) acabaram no mês de janeiro, em pleno inverno e sem a possibilidade alguma de fazer extração na floresta. A ironia do destino é que, aquele que vem sendo torturado psicologicamente, aquele que vem sendo humilhado, aquele que vem sendo desprezado, sacaneado e caloteado, nada mais nada menos que o senhor Jandir Santin, é quem tem condições de aparecer para consertar e salvar a empresa ao garantir o suprimento de madeira de lamina até o mês de junho, com o seu estoque, mês que inicia a safra 2020”. De acordo com a mesma observação, do jeito que vai a atual gestão  quebra a empresa sem haver uma segunda chance, “pois o segmento é bastante competitivo e com empresas bastante eficientes que anseiam em vender a um mercado bastante competitivo que é o Americano, seria sem sombra de dúvidas caixão e vela preta para Laminados Triunfo, sem possibilidade de ressuscitar, prospectar cliente no mercado exterior, negócios internacionais em que primeiro deve haver muita confiança, muitas das vezes os pagamentos são antecipados, e isso é um processo que leva ao menos dois anos”.

madeiraMadeira apodrecendo no Pátio da Laminados Triunfo por incompetêbcia da atual gestão - Foto: Cedida

Além disso, ainda há problemas com o ICMS, o Imposto Sobre Circulação de Mercadorias. “E quanto ao mercado interno digo que não há como sobreviver pagando 17% de ICMS e 9,25% de PIS/COFINS frente uma venda incentivada como é a exportação”, disse outro credor. “Em resumo, a Laminados Triunfo é a engrenagem fundamental no setor madeireiro acreano, é a única que tem interesse na madeira de lamina e isso ajuda a otimizar os custos das demais madeireiras, mas está fadada ao fracasso”, disse.

“primeiro, com relação a te responder e atender. Como estou fora do Brasil e o Maurizio também, delegamos ao pessoal no Brasil para manter os contatos e as negociações com este assunto”.

O credor faz reclamações de que sequer é atendido.   Flávio Meira Penna responde. Ele escreve: “primeiro, com relação a te responder e atender. Como estou fora do Brasil e o Maurizio também, delegamos ao pessoal no Brasil para manter os contatos e as negociações com este assunto”. E acrescenta, ao admitir as dívidas: “Acho que, se você está devendo, você TEM que atender ao cobrador, por pior que seja”.

Mais abaixo, ele confessa que deve de forma cândida: ‘Hoje, além dos valores devidos a você, estamos com atrasos junto ao próprio Jandir bem como a inúmeros fornecedores no Acre, e deixamos de fazer importantes investimentos na fábrica da Triunfo para poder aumentar a produção. Os executivos da Triunfo e Xapuri, como Alisson, Marcelo, Silmar e outros, estão há três meses sem receber”, disse Flávio Meira Penna.

Hoje, além dos valores devidos a você, estamos com atrasos junto ao próprio Jandir bem como a inúmeros fornecedores no Acre, e deixamos de fazer importantes investimentos na fábrica da Triunfo para poder aumentar a produção. Os executivos da Triunfo e Xapuri, como Alisson, Marcelo, Silmar e outros, estão há três meses sem receber”

No mesmo comunicado, ele confessa: “O que passei para Amaury [o homem encarregado de representar no Acre os empresários que vivem em ponte aérea internacional], foi que logo que fecharmos esta operação vamos colocar em dia TODOS os atrasados contigo e com o Jandir tmbém. O aporte deve ser da ordem de R$ 10 milhões, o que certamente trará uma grande tranquilidade para todos”, escreve.

Segundo Flávio Meira Penna, “os atrasos ocorreram apenas porque do nosso lado pessoas assumiram compromisso de nos pagar o que nos devia (Maurizio e eu), e isso não aconteceu. Outro dia – prossegue ele – até comentei brincando com o Maurizio é que Brasileiro tem fama de dar colete e atrasar pagamentos, mas no nosso caso temos ingleses, irlandeses, americanos e portugueses atrasando os pagamentos que nos deviam”.

Acho que, se você está devendo, você TEM que atender ao cobrador, por pior que seja”

Por fim, Flávio Meira Penna diz a seu interlocutor que não está copiando os outros – ou seja, impedindo que as mensagens chegue para todos os sócios  -   por preferir manter esta conversa “entre nós e o Amaury”.

Além dos valores das dívidas, superiores a casa dos R$ 100 milhões, que é o valor a ser pago na Recuperação Judicial e de pelo menos mais R$ 10 milhões contidos naquela confissão de dívidas de novembro do ano passado, é a gestão da empresa, as novas dívidas que não são honradas e a forma como o terceiro homem envolvido no caso, Pedro Ruhs, age no processo – em absoluto silêncio. Empresário do mercado financeiro, ex-ginasta do Flamengo e que chegou a disputar torneios olímpicos, Ruhs também enveredou pelo mundo da literatura de  auto-ajuda. Em parceria com uma certa Denilce Campos, ele escreveu um livro com o sugestivo título de “Exercícios para um Bumbum Lindo”, ilustrado por um par de glúteos dignos mesmo de capa de revista ou de livros. Aliás, o livro está à venda pela Internete. “Eu só espero que eles não queiram pagar as dividas com a venda deste livro”, ironizou um empresário credor. O livro custa R$ 10,00. 

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