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Educação

Professores viram personagens do Sítio do Picapau Amarelo para levar material a alunos da zona rural no AC

A trilha sonora do Sítio, na caixa de som da moto da Emília, anuncia a chegada do grupo na zona rural de Porto Acre. Alunos do ensino infantil não têm acesso à internet

Emília, Visconde de Sabugosa, Saci, dona Benta, Pedrinho, Narizinho e até a malvada Cuca enfrentam sol, chuva, poeira e muita caminhada para uma missão muito importante: entregar o material escolar de alunos da zona rural de Porto Acre (AC) durante a pandemia.

Os professores decidiram se fantasiar dos personagens do Sítio do Picapau Amarelo, do autor Monteiro Lobato, para mudar um pouco a realidade dos estudantes.

Com as aulas presenciais suspensas desde março devido à Covid-19, os alunos passaram a ter acesso ao conteúdo on-line. Só que os estudantes da Escola Joaquim Falcão Macedo não têm acesso à internet e o material foi disponibilizado para os pais buscarem na escola.

Os pais até iam busca o conteúdo na escola, mas os professores perceberam que os estudantes não estavam fazendo as atividades. Então, sete deles resolveram colocar a fantasia e o pé na estrada para entregar pessoalmente o material.

sitio 2 webGrupo enfrenta a nuvem de poeira que se forma na estrada de terra — Foto: Reprodução Rede Amazônica

“Conseguimos confeccionar esse material com o que a escola tinha, dentro das possibilidades porque como é uma área rural é até difícil a gente ir em Rio Branco para comprar material. Aí pensamos: cada um fez a sua caracterização e fomos até as casas visitar uma por uma”, contou a diretora da escola, Zélia Maria da Silva.

Caracterização

A preparação e transformação começa cedo. Todo mundo se ajuda na maquiagem e entre as fantasias tem até vestido doado. A professora Suzy Caroline Lima da Silva explicou como montou a fantasia dela.

“O vestido foi uma amiga quem fez, agora a peruca foi a minha vózinha com minha ajuda. Eu contando o TNT e ela costurando. Confesso que deu um pouco de trabalho porque a franja não dava certo, mas estou aqui. Valeu muito a pena [todo trabalho]”, confessou.

sitio 3 webMomento é aguardado pelas crianças — Foto: Reprodução Rede Amazônica

Fantasiados e maquiados, os professores sobem cada um em sua motocicleta e seguem para as casas dos alunos. O caminho ainda tem direito de trilha sonora do Sítio do Pica-pau Amarelo na caixa de som da Emília.

O percurso não é fácil, o ramal não tem boas condições de tráfego. O grupo encara o calor, a poeira, sol, com muito esforço para superar os desafios e chegar ao destino final.

“Foi muito gratificante ver o rostinho das crianças felizes por nos ver dessa maneira”, revelou a professora Sheila de Carvalho Freitas.

Distância

Algumas das casas ficam até seis quilômetros de distância. É o caso da residência da agricultora Antônia Souza Cavalcante, que tem três filhos na escola.

Antônia diz que as crianças sentem saudade da escola e agora fazem as tarefas rapidinho para que os professores voltem logo com a alegria do conto infantil.

“Ela terminou o trabalho no mesmo dia que era para virem. Mas, eu disse que não iam vir. Ela ficou brava, esperando. Mas, pra mim é gratificante ver esses professores dando o melhor que eles têm, ensinando para eles pois não posso, passo o dia no roçado trabalhando”, lamentou.

Maria Clara é uma aluna especial para os professores. Ela tem cardiopatia congênita e o primeiro ano de vida ficou internada em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Parte do grupo de risco, Maria Clara recebeu uma lembrança especial da professora Sandra Martins que foi caracterizada de Cuca.

“É um imenso prazer, ficou realizada de vê-la se dedicando nas atividades. A mãe disse que ela está tão empenhada que quer fazer todas as atividades de uma vez só, e eu tive a oportunidade de me orgulhar dessa pequena que é tão dedicada”, disse Sandra.

O produtor rural Jorge Antônio de Araújo Sales, que é pai de Maria Clara, disse que a filha fica ansiosa pela chegada dos professores.

“Eles passam na estrada e ela aponta ‘olha, pai, meus professores’. E aí pergunta quando vai voltar para escola, se ainda tem vírus e eu digo: ‘sim, minha filha, ainda tem vírus’”, concluiu.

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