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Amazônia

Papa Francisco cobra respeito aos povos indígenas da Amazônia

Ao falar nesta segunda-feira, na primeira sessão de trabalho dos bispos participantes do Sínodo sobre a Amazônia, que será realizado até o dia 27, no Vaticano, o Papa Francisco afirmou que a sociedade moderna não deve tentar impor suas regras aos povos indígenas,

mas sim respeitar sua cultura e permitir que eles planejem seu próprio futuro.

A afirmação do pontífice foi uma resposta direta a Jair Bolsonaro, que desde que tomou posse na Presidência vem martelando para que haja exploração econômica das terras dos índios sob a inconsistente justificativa de que os índios precisam se integrar à sociedade, usufruindo dos bens e das riquezas existentes em seus territórios. Junto com os Estados Unidos, Bolsonaro quer transformar a Amazônia em gigantescos campos de seja, gado e mineração.

Em discurso preconceituoso e xenófobo que fez dia 17 de abril deste ano, às vésperas de se comemorar o Dia do Índio, Bolsonaro desrespeitou o direito constitucional dos índios brasileiros de definirem o modo de vida que desejam levar em seus territórios de acordo com sua cultura e suas tradições.

Grosseiramente, Bolsonaro chegou a dizer que os índios vivem em seus territórios “como se fossem animais pré-históricos”, quando poderiam usufruir das riquezas neles existentes.

Advertindo que se deve controlar os impulsos de “domesticar os povos originais”, o Papa Francisco também respondeu indiretamente a Bolsonaro dizendo que os povos indígenas da Amazônia querem ser protagonistas de sua própria história. “Nos aproximamos dos povos amazônicos na ponta do pé, respeitando sua história, suas culturas”, afirmou o Papa.

Segundo Francisco, os povos indígenas “possuem uma sabedoria própria, consciência de si”, pois têm “um sentir, uma maneira de ver a realidade, uma história”. No Sínodo sobre a Amazônia, o chefe da Igreja Católica advertiu que “as ideologias são uma arma perigosa”, e defendeu que “a colonização ideológica é muito comum hoje”. O líder católico disse também que é preciso se afastar de “colonizações ideológicas”, pois as ideologias são redutivas.

Missão do Sínodo é servir aos povos indígenas

O Papa Francisco afirmou, ainda, que a missão do Sínodo sobre a Amazônia é servir aos povos indígenas. “E fazemos isso recorrendo a um caminho sinodal, não em mesas redondas, conferências ou discussões, porque um sínodo não é um parlamento”, assinalou, ao explicar que, em vez disso, o Sínodo quer “caminhar juntos sob a inspiração e guia do Espírito Santo”.

Neste domingo, durante a missa de abertura do Sínodo, o Papa Francisco denunciou a “ganância dos novos colonialismos”. “O fogo ateado por interesses que destroem, como o que devastou recentemente a Amazônia, não é do Evangelho. O fogo de Deus é calor que atrai e congrega em unidade. Alimenta-se com a partilha, não com os lucros”, completou.

Por fim, o Papa Francisco pediu para que os participantes do Sínodo falem com liberdade, mas também ouçam os outros com humildade durante as três semanas do evento, que ele deseja que tenha uma “atmosfera fraternal” e um clima de “intimidade” sobre os assuntos da gigantesca floresta tropical sul-americana.

Brasileiro de maior destaque no Sínodo dos Bispos sobre a Amazônia, o cardeal Dom Cláudio Hummes, relator-geral, responsável pela redação dos documentos do evento, afirmou no final da semana passada que a demarcação de terras indígenas é algo fundamental para a conservação da floresta amazônica. “Nós sabemos que, para os indígenas, isso é fundamental. Também as reservas geograficamente delimitadas são importantíssimas para a preservação da Amazônia”, assinalou Hummes.

O encontro anual de bispos da Igreja Católica, que em 2019 está discutindo sobre a maior, a mais rica e a mais bonita floresta tropical do mundo, essencial para o equilíbrio climático do planeta, vai até o dia 27 de outubro debatendo temas ambientais, sociais e próprios da Igreja Católica, que se faz presente nos territórios do Brasil, Bolívia, Colômbia, Equador, Peru, Guiana, Guiana Francesa, Venezuela e Suriname, formadores da Amazônia sul-americana, com mais de 500 milhões de hectares de florestas tropicais.

(*) Editor do site www.expressoamazonia.com.br.

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