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Amazônia

Dados do Inpe mostram explosão de incêndios em toda a Amazônia

No Acre, incêndios nos primeiros 12 dias deste mês já superam os ocorridos durante todo o mês de agosto de 2018

Viajando à noite por cima dos quase três mil quilômetros que separam Manaus (AM) de São Paulo (SP), a Terra fica tão iluminada pelas queimadas que a noite parece dia. “Há pouco tempo, sobrevoei a Amazônia à noite e fiquei estupefato com a quantidade de fogueiras que víamos por todos os lados, num voo de Manaus e São Paulo. Estava tão iluminado que parecia que estávamos de dia”, relata o arqueólogo francês Stéphane Rostain, diretor de pesquisas do renomado Centro Nacional de Pesquisas Científicas (CNRS).

É tempo de derrubadas e queimadas de árvores sem limites na Amazônia brasileira, a maior, mais rica e mais bonita floresta tropical do mundo, considerada pelos cientistas internacionais como essencial para o equilíbrio climático do planeta, entre outros ativos ambientais que oferece para o bem-estar da humanidade, tais como água, ar puro e remédios.

Depois dos gigantescos aumentos de desmatamentos de 88% em junho e 278% em julho em relação aos mesmos meses de 2018, segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), as queimadas começam a incendiar a Amazônia, no segundo ciclo anual de destruição da grande floresta, cujos incêndios, além de aniquilarem seu meio ambiente, prejudicam a produção agrícola e produzem densas fumaças que ameaçam seriamente a saúde de seus 25 milhões de habitantes.

Segundo o Portal Programa de Queimadas, do Inpe, até esta segunda-feira, 12 de agosto, os nove estados da Amazônia Legal brasileira apresentaram neste ano de 2019 o total de 40.614 focos de incêndio, que já representam 64,8% de aumento em relação à quantidade de focos incendiários ocorridos na região no mesmo período do ano passado.

Se for levado em conta que o mês de agosto é um dos dois meses de seca mais incendiários da Amazônia (o outro é setembro) e que a sua média é de 34.430 focos desde que o Inpe pesquisa os incêndios por satélites (1998), o aumento de focos nos oito primeiros meses do ano pode chegar a quase 60 mil, o que implicaria no estrondoso aumento de 117% em relação ao mesmo período de 2018.

amazonina 2Quantidade mensal de focos de incêndio na Amazônia nos últimos anos - Foto: Reprodução Inpe

O crescimento das queimadas no início deste mês de agosto, por exemplo, já levou os estados do Acre e do Amazonas a decretarem esta semana, respectivamente, estado de alerta e de emergência contra os graves riscos das queimadas, que ameaçam a saúde dos habitantes e põem em risco suas produções agropecuárias, entre outros malefícios que devem causam ao clima da região.

Crescentes focos de incêndios preocupam os estados

Embora não tenham ainda decretado oficialmente estado de alerta ou de emergência, as autoridades do Mato Grosso, Roraima, Tocantins e Rondônia estão preocupadas com os crescentes focos de incêndios ao longo de seus territórios, que já registram aumentos significativos em relação ao mesmo período de queimadas do ano passado.

O Mato Grosso, por exemplo, assumiu o topo do ranking nacional de queimadas em 2019 devido ao tempo mais seco e quente do estado. De janeiro até esta segunda-feira, foram detectados 11.687 focos, já superior aos 8.849 focos ocorridos nos oito meses do ano passado. Campeão amazônico e nacional de desmatamentos e queimadas de florestas, Mato Grosso e suas queimadas prejudicam em muito a sua produção agrícola. Os incêndios deste ano no estado estão queimando inclusive a palhada do milho, que é usada na produção da soja.

Ainda de acordo com os dados do Inpe, a tabela do campeonato de tragédias ambientais, econômicas e sociais provocadas pelo fogo na Amazônia traz como segundo colocado até este 12 de agosto o estado do Pará, com 6.130 focos de incêndios (contra 4.879 focos nos oito primeiros meses de 2018); o Tocantins em terceiro, com 5.235 focos (4.499 em 2018); e Roraima em quarto lugar, com 4.606 focos (1.982 em 2018).

Seguem na tabela do trágico campeonato os estados do Maranhão, com 4.081 focos (contra 5.670 em 2018); e de Rondônia, com 3.705 focos (contra 2.990 até agosto 2018). O Amazonas vem a seguir com 2.912 focos (2.518 em 2018); o Acre, com 1.556 focos (1.812 em 2018); e o Amapá que apresentou até agora apenas 13 focos de incêndios (contra 66 entre janeiro e agosto de 2018).

A exemplo do que vem ocorrendo com o desmatamento, que nunca correu tão solto na Amazônia desde que o presidente Bolsonaro assumiu o governo, afrouxou a fiscalização e estimulou até invasões de terras indígenas e outras unidades de conservação da região por garimpeiros, madeireiros e pecuaristas, as queimadas chegam ao seu período mais crítico destruindo tudo por onde passa.

É o caso que ocorreu com o pequeno agricultor Vinícius Costa, do Tocantins, que teve grande prejuízo em sua propriedade, onde a chama devastaram a vegetação, cercas, pastos e colocaram a vida de animais em risco. “Quando viemos olhar aqui, o fogo já estava dentro da propriedade, já queimou uns 5, 6 alqueires aqui dentro”, lembra Costa.

Além de se somar ao desmatamento na emissão de gases de efeito estufa, aumentando o desequilíbrio climático do Brasil e do restante do planeta, as queimadas na Amazônia destroem a fauna e a flora, empobrecem o solo, reduzem a penetração de água no subsolo, destroem ecossistemas e em muitos casos causam mortes, acidentes e perdas das propriedades rurais. Na vasta Amazônia, a densa fumaça causada pelas queimadas provoca forte poluição atmosférica com graves prejuízos à saúde de milhões de pessoas e elevado risco o transporte terrestre e o tráfego aéreo na região.

(*) Editor do site www.expressoamazonia.com.br.

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