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Amazônia

Acre queima mais porque liderou aumento de desmates na Amazônia

Terra natal de Chico Mendes, o Acre se apresentou ao longo deste mês de agosto entre o segundo e o terceiro estado da Amazônia Legal que apresentou os maiores aumentos no número de queimadas

entre primeiro de janeiro deste ano até esta terça-feira, 27/8, segundo demonstram os dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE).

Os dados do INPE apontam que, na última sexta-feira, 23, o estado mais ocidental do país apresentava 2.669 focos de incêndio no decorrer deste ano de 2019, representando aumento de 191% em relação ao mesmo período do ano passado, considerado o segundo maior aumento entre os nove estados da Amazônia Legal, só perdendo para o vizinho estado de Rondônia.

Até esta terça-feira, 27, os acreanos já haviam convivido com 2.920 focos de incêndio no decorrer de 2019, o que representava aumento de 129% em relação ao mesmo período de 2018, considerado o terceiro maior entre os apresentados pelos estados da Amazônia desde o início do monitoramento das queimadas na região, só sendo superado pelos estados do Pará, com aumento de 171%, e de Rondônia, com aumento de 167%.

Já ostentando 30 mil atendimentos ambulatoriais este ano de pessoas com graves problemas respiratórios, segundo dados do governo acreano, o Acre está queimando muito mais floresta e vegetação este ano porque apresentou, disparado, os maiores aumentos nos números de desmatamento entre os estados da Amazônia, segundo revelou o Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), que também monitora por satélites a devastação crescente da maior floresta tropical do mundo, considerada essencial ao equilíbrio climático do planeta.

Segundo dados publicados pelo Imazon no final de julho passado, o Acre apresentou o monumental aumento de 364% no seu desmatamento no primeiro semestre deste ano, quando foram desmatados 6,5 mil hectares de floresta, contra o 1,4 mil hectares derrubados no primeiro semestre do ano passado. Em 16 de agosto, o Imazon também revelou dados mostrando que o estado apresentou o também monumental aumento de 257% em seu desmatamento entre agosto de 2018 e julho de 2019, quando desmatou 37,1 mil hectares, contra os 10,4 mil hectares de floresta derrubada entre agosto de 2017 e julho do ano passado.

Tradicionalmente sem parecer na lista dos estados mais devastadores da Amazônia, o Acre também surpreendeu nos dados de satélites do Imazon com a inclusão de Feijó como o quinto município que mais devastou a Amazônia, derrubando 4,6 mil hectares de floresta. Além disso, o Imazon também incluiu a Reserva Extrativista (Resex) Chico Mendes, situada no Vale do Alto Acre, como a quarta unidade de conservação mais desmatada na região amazônica, com 1,6 mil hectares.

Aumentos menores em desmates e queimadas na maioria dos estados

O Imazon também mostrou que, além do Acre, ampliaram seus desmatamentos florestais os estados do Amapá, que aumentou de 200 hectares entre agosto de 2017 e julho de 2018 para 400 hectares entre agosto de 2018 e julho deste ano (aumento de 100%); do Amazonas, de 83,6 mil para 101 mil hectares (aumento de 21%); de Rondônia, de 64,1 mil para 76 mil hectares (aumento de 19%); e do Pará, de 148,2 mil para 179,2 mil hectares (aumento de 21%), que foi quem mais desmatou na Amazônia entre os dois períodos.

A relação entre os números de desmatamento e os números de queimadas na Amazônia foi esclarecida em nota técnica emitida este mês por pesquisadores do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam) e da Universidade Federal do Acre (Ufac), que mostra que o recente aumento no número de queimadas na Amazônia está diretamente relacionado ao desmatamento.

Segundo a nota técnica, os dez municípios da região amazônica com mais alertas de desmatamento são também os que mais registraram focos de incêndio neste ano. A correlação entre desmatamento e queimadas contraria o argumento de que os focos de incêndio deste ano seriam algo natural, decorrente apenas do período de estiagem no Norte do país.

A nota técnica também afirma que não é possível atribuir o aumento no número de focos de incêndio ao período seco: na verdade, a estiagem deste ano está mais branda na região do que em anos anteriores, quando o número de focos de incêndio foi menor.

“Os dez municípios amazônicos que mais registraram focos de incêndios foram também os que tiveram maiores taxas de desmatamento. Estes municípios são responsáveis por 37% dos focos de calor em 2019 e por 43% do desmatamento registrado até o mês de julho. Esta concentração de incêndios florestais em áreas recém-desmatadas e com estiagem branda representa um forte indicativo do caráter intencional dos incêndios: limpeza de áreas recém-desmatadas”, diz o texto da nota técnica.

*Editor do site www.expressoamazonia.com.br.

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