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Canetada

Canetada

Ontem o presidente Luiz Inácio Lula da Silva demitiu o comandante do exército Júlio César de Arruda, nomeado há pouco mais de 20 dias. O relacionamento do novo governo com os militares requer uma estratégia diferenciada no petista. Fato pé que ao longo dos quatro anos do governo de Jair Bolsonaro (PL), a presença de militares em cargos civis mais que dobrou, com presenças em postos-chave, como a chefia do Ministério da Saúde durante a pandemia. 

Descarrego 

O cenário incomodava Luiz Inácio Lula da Silva (PT), agora à frente do Planalto, desde antes da campanha eleitoral. Em abril de 2022, o petista disse que teria que tirar “quase 8 mil membros das Forças Armadas” de cargos comissionados, caso fosse eleito.

Gota d’água 

O alinhamento de grande parte dos militares ao bolsonarismo e a expansão dos acampamentos golpistas em frente a quartéis fez com que esse incômodo crescesse gradativamente até a demissão de Júlio César de Arruda, ontem, sábado, do comando do Exército. O estopim, no entanto, passou por um aliado fiel de Bolsonaro, em um dos últimos movimentos do ex-presidente no poder.

Fora das 4 linhas 

A situação se agravou ainda mais com os apelos de bolsonaristas, já depois das eleições do ano passado, para que as Forças Armadas assumissem o comando do país, destituindo o presidente eleito, Lula. Os discursos, de teor naturalmente golpistas e sutilmente orquestrados por Bolsonaro, tinham entrada especialmente em militares com baixas patentes, ou membros da reserva.

Desafio 

No fim de novembro, por exemplo, um militar da Marinha lotado no GSI gravou vídeo em um ato antidemocrático e disse “ter certeza” de que Lula “não sobe a rampa”, em referência à posse presidencial do petista, que transcorreu normalmente no primeiro dia deste ano. Discursos similares contra o resultado nas urnas eram propagados nas redes sociais.

Insubordinação 

E mesmo ainda durante o período pré-eleitoral, Pazuello, que naquele momento era general da ativa, chegou a participar de um ato em favor do ex-presidente, por exemplo. O cenário, portanto, já de desconfiança de Lula com os militares teve ainda outro ponto de ebulição: a proliferação dos acampamentos bolsonaristas ao redor do Brasil, e em frente a quartéis. No caso do general Júlio César de Arruda, que assumiu o Exército como interino no penúltimo dia do governo Bolsonaro, as instalações bolsonaristas em Brasília foram ainda mais determinantes para a decisão do petista.

Me dê motivos 

Segundo apurado, contribuiu para a demissão de Arruda a falta de alinhamento do general com Lula e o comportamento do militar diante dos acampamentos na capital federal. Arruda teria protelado a desocupação dos alojamentos, ao contrário do que queria o presidente. E Lula já havia criticado o que chamou de conivência do Exército com os terroristas que invadiram o Palácio do Planalto, o Congresso e o Supremo Tribunal Federal (STF). Arruda teria ainda sido resistente à tentativa de pacificação da relação entre o presidente e o Exército.

Incômodo 

O desconforto foi reforçado neste sábado pela presidente do PT, Gleisi Hoffmann, após a demissão do general. Ela explicou que “Lula busca uma concepção legalista e que acate a hierarquia suprema do presidente”, e citou os acampamentos como um dos exemplos do desconforto.

Fator decisivo 

O ponto mais crítico foram os atos golpistas de 8 de janeiro, quando manifestantes bolsonaristas invadiram e depredaram os prédios da Praça dos Três Poderes. No dia seguinte, o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, pontuou que existia desconfiança no governo federal de contaminação de indivíduos das Forças Armadas pelo bolsonarismo, mas não sobre a instituição.

Rastros 

Três dias depois, Lula deu outro recado de sua insatisfação, ao afirmar, durante café da manhã com jornalistas no Planalto, que a porta do palácio presidencial havia sido “aberta para essa gente entrar”, em referência aos manifestantes golpistas. Na ocasião o presidente deixou claro o entendimento de que a entrada dos invasores foi facilitada e disse que havia “gente das Forças Armadas aqui dentro conivente” com a depredação do local.

Simples assim 

A presença de militares como manifestantes nos atos golpistas também contribuiu. Já na última quarta-feira, em entrevista à GloboNews, Lula falou sobre o assunto e disse que “quem quiser fazer política, que tire a farda, renuncie a seu cargo, crie um partido político e vá fazer política”.

Coronel Cid

Diante de todo o caos instaurado após os atos golpistas, o que contribuiu para a demissão de 80 militares do governo em cinco dias nesta semana, a gota d’água para que Arruda deixasse o comando do Exército passou pelo tenente-coronel Mauro Cid, que foi o ajudante de ordens de Jair Bolsonaro durante todo o seu mandato.

Prestígio 

Ainda em maio de 2022, com Bolsonaro, Cid foi escolhido para o comando do 1º Batalhão de Ações e Comandos, unidade de Operações Especiais, mas só assumiria em fevereiro deste ano. Dado o alinhamento do ex-ajudante de ordens com o ex-presidente, no entanto, o Planalto já havia indicado que esperava que Arruda anulasse a nomeação.

Insubordinação 

Lula determinou a imediata remoção do tenente-coronel do comando do batalhão. Arruda, no entanto, se recusou a cumprir a ordem. Como informado pelo jornalista Lauro Jardim, no jornal O Globo, o general também disse a vários interlocutores militares nos últimos dias que não aceitaria se fosse expedida uma ordem de prisão contra Cid, que é investigado por Alexandre de Moraes num inquérito que corre no STF.

Raízes 

Filho do general Mauro Cesar Lourena Cid, que foi colega de Bolsonaro no curso de formação de oficiais do Exército, o tenente-coronel tem um histórico de relacionamento com o ex-presidente, o que inclui afinidades familiares. Seu nome ganhou notoriedade nesta sexta-feira, após reportagem de Rodrigo Rangel, do portal Metrópoles, apontar que investigações da PF, sob o comando do Supremo Tribunal Federal (STF), apuram se o ajudante de ordens do ex-presidente operava uma espécie de “caixa paralelo”. O ex-presidente Bolsonaro nega as informações. 

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Postura histórica 

Na última quarta-feira, 18/01, a fala do Comandante Militar do Sudeste, general Tomás Miguel Miné Ribeiro Paiva – enaltecendo e enfatizando o papel constitucional das Forças Armadas, diante do que estabelece a Constituição de 1988 -, poderá ter a mesma relevância para a democracia brasileira que o papel histórico do general Henrique Duffles de Teixeira Lott que, ao impedir o golpe contra a posse de Juscelino Kubitscheck, garantiu dez anos a mais de democracia.

Constatação óbvia 

A fala de Tomás Miguel é um chamado histórico em defesa da honra militar, de um Exército apolítico, apartidário, defensor da pátria. Sua manifestação exibiu um contraste absoluto com a anomia de seus colegas, que aceitaram calados a formação do golpe sob suas barbas. 

Bom senso 

Tomás Miguel chama os militares ao brio, levanta temas esquecidos, como a honra militar, o apego à disciplina e à democracia. E, como um verdadeiro comandante, estende seu discurso a seus comandados permitindo, pela primeira vez em muitos anos, um sentimento de confiança em relação a uma corporação que se perdeu nos escaninhos da política partidária. 

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