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Política

Jorge Viana é contra alteração no Parque da Serra do Divisor

Ex-senador não cita Mara Rocha, mas diz que ideia de mudanças é inimiga da proposta de integração como Peru

A proposta de transformação do Parque Nacional da Serra do Divisor (PNSD) em Área de Proteção Ambiental (PA), na qual é possível inclusive a criação de gado, apresentada em projeto de lei de autoria da deputada federal Mara Rocha (PSDB-AC) foi duramente criticada pelo ex-governador e ex-senador da República Jorge Viana, que também vem a ser engenheiro florestal e difusor do conceito de florestania – ideia de preservação ambiental eu prega cidadania também nas florestas. Sem citar o nome da parlamentar, o político atualmente sem mandato (foi derrotado nas eleições de 2018 na tentativa de reeleger-se para o Senado), veio a público num vídeo de dois minutos veiculado em suas redes sociais para dizer que a proposta da deputada é a “maior inimiga da ideia” de integração do Acre por via terrestre com o Peru.

O Parque Nacional da Serra do Divisor fica na região do Alto Juruá, interior do Acre, na fronteira com o Peru. Por ali deve passar a estrada que deverá integrar o Brasil ao território peruano por via terrestre, um projeto almejado por políticos acreanos nos últimos 40 anos e que está próxima de ser concretizada a partir de articulações envolvendo o senador Márcio Bittar (MDB-AC), o vice-governador Wherles Rocha e a própria Mara Rocha, que apresentou a ideia de mudanças no PSND. O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, já esteve no território por onde deve passar a rodovia ligando a cidade brasileira de Mâncio Lima com Pucallpa, já no Peru, numa extensão de pelo menos 150 quilômetros. O presidente Jair Bolsonaro anunciou aos parlamentares acreanos envolvidos com a questão que banca o projeto de construção da estrada. A propósito, Márcio Bittar, além do senador Sérgio Petecão (PSD-AC) e deputados federais do Acre e de Rondônia estiveram no Peru, no ano passado, quando ouviram das autoridades daquele país o interesse da ligação terrestre, inclusive para financiar parte da obra.

Mara Rocha, que vem a ser irmã do vice-governador do Estado, apresentou o projeto com a justificativa de que, com sua atuação configuração jurídica, o Parque Nacional da Serra do Divisor – criado em 1986, no governo do então presidente José Sarney – não permitiria a ação de homens e máquinas trabalhando na área. O projeto de Mara Rocha também visa alterar a configuração jurídica da Reserva Extrativista Chico Mendes, localizada numa área que envolve pelo menos cinco municípios – Sena Madureira, Xapuri, Epitaciolândia, Brasiléia e parte de Assis Brasil, no Alto Acre.

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É disso que Jorge Viana discorda. “Se te um jeito de a integração não acontecer e a estrada também não sair é [a aprovação] de uma proposta como esta”, diz o ex-senador. “A proposta é a pior inimiga da ideia de fazer a estrada. Por que isso? Porque você vai trazer um problemão com a ideia de extinguir um parque importantíssimo, porque tem a maior biodiversidade da Amazônia brasileira, e isso vai vir para a discussão, para o debate”, acrescentou.

Em seguida, Viana propõe uma reflexão: “O mundo mudou, gente! O Acordo de Paris, que foi assinado em 2015, vai entrar em vigor agora, em 2020. São 190 países que o assinaram. Nós, que preservamos nossas florestas, vamos ter nisso agora uma vantagem, para poder ganhar dinheiro, para poder ajudar a melhorar a vida das pessoas”, disse.

O político lembrou que o início da integração terrestre do Acre com o Peru foi feita em seu governo e nos demais da Frente Popular, que governou o Acre por 20 anos, em cinco mandatos consecutivos, até 2018. “Nós trabalhamos na integração de Rio Branco a Cruzeiro do Sul, de Rio Branco a Assis Brasil e, com ajuda do governo federal, fizemos essas integrações todas, com o Peru e a Bolívia. Isso tem que ser melhor usado, do ponto de vista econômico, com o governo federal atuando e resolvendo problemas das aduanas”, disse.

Jorge Viana também lembrou o interesse da China em interligar esta região da América do Sul com o Oceano Pacífico, no Peru. “Em 2014, o governo chinês, com o atual presidente da China vindo ao Brasil para assinar com a [então] presidente Dilma [Rousseff] as primeiras tratativas para fazer a ferrovia para ligar o Brasil ao Oceano Pacífico. Eu trabalhei nisso, junto com o César Messias [então deputado federal] e outros parlamentares. Foram gastos R$b150 milhões só nos primeiros estudos. A ferrovia passa pelo Acre e busca fazer a integração com o Oceano Pacífico, no Peru”, revelou.

O ex-senador pergunta no mesmo vídeo: “Por que o governo e os políticos do Acre também não trabalham nisso? Vocês viram o que foi discutido no Foro de Davos. O que estão discutindo lá agora? Um jeito de a economia mundial se voltar para a questão da sustentabilidade. Eu espero que o governo e os políticos do Acre trabalhem pela integração, fortalecendo o que já fizemos, mas especialmente, na região de Cruzeiro do Sul e do Juruá, mas fazendo do jeito certo e dentro da lei”.

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Reação

O que diz a deputada sobre as críticas a respeito do projeto

A reportagem tentou falar com a deputada Mara Rocha em relação às críticas que ela vem recebendo desde que foi noticiado, pelo jornal “Folha de S. Paulo”, a ideia de alteração na lei que criou o Parque Nacional da Serra do Divisor. A assessoria da parlamentar informou que ela está viajando e que estaria, portanto, incomunicável.

No entanto, nesta segunda-feira (27), na sala de vídeo da página do Facebook administrada pelo odontólogo Marcos Gripp, esposo da deputada, ela aparece, também em vídeo, falando sobre a polêmica. Veja o que diz a deputada: ‘Estaremos indo para Brasília dia 1º de fevereiro para o reinício dos trabalhos. Por enquanto, ainda estamos por aqui e demos uma paradinha para gravar este vídeo, a respeito de uma matéria tendenciosa, falando de um projeto de lei que iria contribuir para a destruição do Parque Nacional da Serra do Divisor. Quero dizer que isso é uma inverdade. Essa mídia que bancou essa matéria é a mesma mídia que trabalha contra o desenvolvimento do Brasil, que trabalha contra o governo do presidente Jair Bolsonaro”, disse.

Mara Rocha afirma que, na verdade, a ideia original do projeto é do senador Márcio Bittar. “Devido a grande importância desse projeto para o Acre e para a região do Juruá, eu pedi autorização do senador para também apresentá-lo na Câmara Federal e o senador assim me autorizou e eu o apresentei. A aprovação desse projeto vai ser de grande importância para o Acre e para a região do Vale do Juruá. O que é que muda? Na realidade, esse projeto propõe que a Serra do Divisor possa ter ocupação humana, que possamos utilizar os recursos naturais de forma sustentável. Com isso, poderemos ter até construções naquela localidade – desde que se obedeça os estudos de impacto ambiental. Então isso trará um grande progresso para o nosso Estado”, disse.

Mara Rocha diz ainda no vídeo que o Parque Nacional da Serra do Divisor é uma das áreas mais belas do Acre e do Brasil e com grande potencial para turismo, que não é utilizado por ser de difícil acesso. “Nós sabemos que as pessoas que saem para fazer turismo elas querem o conforto e querem também acesso a seu local de destino”, disse. “Com a aprovação deste projeto de lei, as pessoas vão poder ter acesso à Serra do Divisor com um mínimo de estrutura. Este projeto visa fomentar o turismo no Vale do Juruá”, disse.

Também sem citar o nome do ex-senador Jorge Viana, que a criticou pela ideia, Mara Rocha disse: “Quero dizer que pretendo, infinitamente, defender o desenvolvimento do meu país, defender o desenvolvimento do meu Estado, a geração de emprego e renda, e ao produtor rural e não ir para a tribuna de uma Casa Legislativa fazer apologia ao uso de entorpecentes”, acusou. “O mesmo grupo que critica esse projeto é o mesmo que não quer o desenvolvimento da Amazônia. É o mesmo grupo que, no Governo Orleir Cameli, não queria a construção da estrada para Cruzeiro do Sul. É o mesmo grupo que governou o Acre sem a geração de emprego e que hoje, ao criticar a violência, não percebe que os jovens que estão no mundo do crime é a geração que cresceu sem oportunidades de trabalho”, afirmou.