Parlamentar critica Gladson Cameli, diz que setor de saúde piorou e fala de política e de disputa em Tarauacá
A redação do Juruá Em Tempo, em Cruzeiro do Sul, recebeu o deputado estadual Jenilson Leite (PSB) para uma entrevista, nesta quinta-feira 15 – Dia de Nossa Senhora da Glória. Convidado pelo ex-deputado federal César Messias, presidente estadual do PSB, novo partido do deputado, ele foi participar da segunda maior festa religiosa da região Norte do Brasil – perde apenas para a festa em honra à Nossa Senhora de Nazaré, em Belém, no Pará.
Na redação, Jenilson Leite foi recebido pelo jornalista Paulo Amorim, que o saudou em nome de toda a equipe, para a seguinte entrevista. A seguir, os principais momentos da entrevista:
Jenilson Leite – Para mim é uma honra ser assunto deste jornal, que tem se destacado em todo o Estado, sobretudo no Juruá, como uma publicação que aborda diversos assuntos, sempre se pautando pelo interesse público.
Deputado, vamos falar então sobre uma recente pesquisa, feita em todo o Estado, que o coloca como o deputado estadual mais produtivo. Como o senhor recebeu esta notícia?
Eu fiquei muito feliz, porque é a população que está dizendo isso. Avalio de forma positiva porque se é a população que diz isso, significa que nossa caminhada está sendo feita em rumo certo. Eu tive o prazer de, em 2018, também terminar o ano como um deputado produtivo, o mais produtivo segundo pesquisas, e isso se deve a muitas coisas, a muitos sacrifícios. Para isso, a gente tem que abdicar de muitas coisas para fazer com que a população possa estar representada a Assembleia Legislativa. Eu não tenho final de semana, feriado ou dia santo. Todos os dias são dias de trabalho. Da mesma maneira que estou no gabinete ou no plenário da Assembleia, estou também nas ruas, na zona rural, nas barrancas de rios, numa aldeia indígena, sempre visitando as bases. Entendo que você só pode representar bem a população se você for onde ela estiver, para ver como ela está vivendo e ouvir o que ela está pensando.
Exercendo o segundo mandato de deputado estadual, o senhor é o vice-presidente da Assembleia Legislativa, como se fosse a terceira pessoa mais importante do Estado do Acre. Como se deu isso?
Isso fez parte de uma série de uma série de entendimentos em que a gente acabou chegando lá, mas também é necessário dizer que a gente não chega sozinho a determinadas instâncias de poder. É claro que o nosso perfil acaba favorecendo a isso, mas isso não é mérito só meu. Tivemos ajuda de vários colegas. Também foi importante nossa participação na legislatura e no mandato anterior, mas devo dizer que sou o primeiro vice-presidente do deputado Nicolau Júnior, que é daqui da região, graças a uma relação de respeito e confiança apesar de ele ser do PP e eu, até pouco tempo, estava no PC do B do B e agora estou no PSB.A diferença partidária não foi nenhum fator de impedimento porque uma coisa é a disputa política e outra, bem diferente, é a representação institucional. Mas isso, para mim, também não é nenhum fator de vaidade, mas devo dizer que a gente acaba também ficando muito honrado pelas oportunidades de representar a nossa população nessas instâncias de poder.
Deputado, quem é daqui da região, percebe uma participação bem ativa de políticos do Juruá na representação de poder no Estado. Nós temos o governador do Estado, que é de Cruzeiro do sul, assim como o presidente da Assembleia, o deputado Nicolau Júnior, que também é daqui e temos também o vice-presidente da Assembleia, na pessoa do senhor, que é de Tarauacá. Isso mostra então que os políticos do Juruá estão em boa ascensão não é?
A vida é assim: uma hora o pêndulo vai para um lado, outra hora vai para o outro. É isso. Nós sabemos que a nossa região, que poucas vezes teve a oportunidade de ter um governador de Estado, agora de tem, pela segunda vez, um governador da região – o primeiro foi o governador Orleir e agora é o Gladson sobrinho dele. Isso é importante porque o Juruá e Cruzeiro do Sul fazem parte de uma região importante, com grande densidade populacional e muitos recursos. Se a gente tem uma boa relação com a capital, as coisas favorecem. O Gladson teve essa oportunidade de ser governador e, claro, utilizou toda a influência para a eleição do Nicolau como presidente do Poder Legislativo, como legítimo representante do Juruá, e nós, ficamos ali no meio, como representante do povo de Tarauacá e Envira. Isso é importante porque indica que as populações destas regiões precisam ser mais agraciada com ações do Governo.
Mas, mesmo com uma mudança partidária, o senhor continua como deputado de oposição ao atual governo. Eu pergunto como o senhor avalia esses quase oito meses de governo e aproveito para lhe perguntar também, como profissional de saúde, já que o senhor também é médico, como analisa o governo neste setor?
Analiso que, nestes primeiros sete meses, o governo tem patinado muito, do meu ponto de vista. O governador, em todas as suas falas, mostra o seu desejo de realizações, de ver as coisas acontecerem, mas ainda há muitos conflitos na própria base de governo. O governo ainda não se organizou o suficiente para dizer à própria equipe o seguinte: olha, nós vamos gastar a nossa energia para fazer gestão. Não chegou esse momento ainda. Desde o início o governo está mergulhado em conflitos internos, com seus próprios membros. Uma hora é com a equipe, com deputados, com seus próprios partidos, numa guerra e disputa por espaços de poder. Isso é muito ruim porque o governo deixa de governar, de fazer sua parte institucional e de atender à população, para resolver problemas internos. É um governo que, até aqui, só administra crises políticas. A saúde é um bom exemplo disso. Minha avaliação não é no sentido de torcer para que não dê certo. Pode até vir a melhorar, mas, sinceramente, até agora não melhorou. O setor enfrenta as mesmas dificuldades do passado e, em alguns momentos, algumas delas até se aguçaram mais ainda.
Essa troca recente de secretários na Saúde foi uma tentativa de melhorar o setor?
Pode até ter havido essa tentativa, mas o fato é que não melhorou. Eu diria até que piorou porque, além das dificuldades técnicas, que haviam com o secretário anterior, agora o setor de saúde também vive uma crise política instalada. O deputado da base que se dizia o deputado da saúde, José Bestene, que tem todo o meu respeito, foi expurgado da saúde. Isso criou o que chamo de problema institucional na saúde. Isso significa, para dizer só isso, gasto de energia, perda de tempo, desvios de rumo. Isso faz com que, ao se perder tempo com isso, deixe de se atender as demandas da área, inclusive no setor básico. Isso significa a necessidade de mais profissionais nos hospitais, mais medicamentos e mais equipamentos – ações que não estão sendo efetivadas por causa desses problemas institucionais que apontei. Não tivemos até agora uma licitação para aquisição de medicamentos e só agora tivemos um concurso para a contratação de profissionais – isso depois de o primeiro concurso ter sido suspenso por irregularidades. Então é por isso que o governo ainda patina muito para poder trazer à população às melhorias que prometeu em campanha eleitoral.
Mudando de assunto: a população de seu município de Tarauacá, está reclamando muito da situação por lá, principalmente devido às péssimas condições das ruas da cidade. O que está acontecendo ali? É falta de gestão, é falta de apoio do governo? Qual é sua opinião sobre seu município?
Apoio do governo, pelo menos do ponto de vista moral, não deve ser. O governador acaba de conceder à prefeita de Tarauacá, Marilete Vitorino, a Ordem da Estrela do Acre, uma das maiores – senão a maior – honrarias do Estado. Portanto, apoio moral não falta. O que falta mesmo, eu acho, é gestão. Me sinto muito triste com a situação e até impotente porque você sabe que um deputado de oposição não tem condições ou poder para alterar determinadas realidades, porque quem tem essa oportunidade é do prefeito e o governo que apoia. A realidade é que hoje você chega nos entornos de Tarauacá ou em Feijó e faz uma comparação, vai ver que só Tarauacá está lastimável. Feijó, Jordão e Cruzeiro do Sul estão melhores. Eu diria que Cruzeiro do Sul está bem diferente da realidade do Acre. Aí você chega em Tarauacá e encontra a cidade com todas as ruas esburacadas, escura, sem vida social porque a violência também está tomando de conta da cidade, principalmente na periferia. A população está sem perspectiva porque, no verão, é a poeira e, no inverno, a lama. A crise financeira é um elemento que pode justificar isso? Talvez. Mas, eu acho que não justifica porque vamos tomar como exemplo o município de Brasiléia. Depois daquela grande enchente, Brasiléia teve que ser praticamente reconstruída. Se você chegasse em Brasiléia dias após àquela enchente, diria que a cidade não se recuperaria nunca mais. Mas aí entrou a prefeita Fernanda Hassem e hoje você chega em Brasiléia e encontra uma cidade com flores na praça, com os prédios públicos pintados, as ruas em constantes operações de tapas buracos e as instituições funcionando – enfim, um município bem administrado, apesar das mesmas dificuldades financeiras dos demais. A gente ver que ali há uma prefeita fazendo a sua parte. Mas em Tarauacá a gente não ver isso. No entanto, o povo coloca, o povo tira o administrador que não deu certo. É isso que esperamos que aconteça.
O senhor pretende disputar a eleição em Tarauacá ou fazer parte de um grupo que possa disputar a Prefeitura lá?
Olha, eu estou fazendo todo o esforço possível para isso, para mudar o projeto que hoje está instalado em Tarauacá. Em política a gente não pode dizer que nada é descartável, mas eu, particularmente, não tenho a pretensão de colocar meu nome nesta disputa. Estamos conversando com várias pessoas e estou convencido de que temos bons nomes e boas pessoas para assumir esta tarefa.
Depois, de muitos anos militando no PC do B, o senhor está deixando o Partido para ir para o PSB. Por que o senhor está deixando o PC do B?
Eu estou mudando de partido, mas não de rumos, de princípios e de jeito. Continuamos no campo em que sempre atuamos e minha ida para o PSB é uma forma de colocar como um dos nomes – e não o nome principal – para tentar reorganizarmos a Frente Popular, depois daquela derrota de 2018. Acho que está chegando a hora de nós nos reintegrarmos, de voltar a conversar. Acho que, nos últimos 20 anos de governos da Frente Popular, onde tivemos muitos erros, tivemos também muitas coisas boas. O Acre de antes da Frente Popular não é o mesmo da Frente Popular depois de 20 anos de governo, apesar de alguns rumos. Acho que chegou a hora de reaproximarmos o nosso campo político e nos apresentarmos melhor para a população.