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Política

Ilderlei Cordeiro diz que vai acionar PF por ter arrombado porta da prefeitura em operação no interior do AC

Ilderlei Cordeiro criticou a forma como a PF cumpriu os mandados. Audiência dos envolvidos deve ocorrer na tarde desta segunda (17)

O prefeito de Cruzeiro do Sul, Ilderlei Cordeiro, criticou a Operação Presságio da Polícia Federal que resultou na prisão de dois secretários do município, Idelcleide Cordeiro e Paulo Sá, além de mais três funcionários da prefeitura e de uma ONG que presta serviço para a cidade.

Em reunião com servidores na manhã desta segunda-feira (17), Cordeiro diz que acredita na inocência de todos os envolvidos e disse que vai acionar a Justiça porque a porta da prefeitura foi arrombada durante a operação da PF. Destacou que não é contra as investigações, mas criticou o modo como os policiais entraram na sede.

“A única coisa que peço é que possam, em outras operações, ter mais respeito com o bem público. Entraram na prefeitura quebrando a porta e eu vou entrar com ação contra quem fez isso. Não precisava fazer isso. É um bem público, tem servidor lá que abre a porta para vocês entrarem a vontade”, desabafou.

A Operação Presságio da Polícia Federal foi desencadeada na sexta-feira (14) e cumpriu mandados de busca e apreensão e de prisão no Acre, Amazonas, Rondônia, Minas Gerais, Sergipe e Distrito Federal.

Cordeiro afirmou que a prefeitura estava colaborando com todas as informações e todos os documentos pedidos foram entregues à polícia.

“Tudo que foi de documento desde abril, que é quando a operação iniciou, foi tudo entregue. Hoje mesmo nós estamos com um auditor da CGU que está desde a semana passada dentro da prefeitura levantando todas as informações da prefeitura e de outros setores, tudo que é denúncia estamos entregando os documentos, prestando esclarecimentos”, acrescentou.

Idelcleide teve o pedido liminar de habeas corpus negado pelo Tribunal de Justiça do Acre (TJ-AC). Todos os presos na operação devem ser ouvidos, nesta segunda, em audiência de custódia.

Órgãos da prefeitura de Cruzeiro do Sul são alvos de operação da PF que investiga lavagem de dinheiro — Foto: Divulgação/PF-AC Órgãos da prefeitura de Cruzeiro do Sul são alvos de operação da PF que investiga lavagem de dinheiro — Foto: Divulgação/PF-AC

Órgãos da prefeitura de Cruzeiro do Sul são alvos de operação da PF que investiga lavagem de dinheiro — Foto: Divulgação/PF-AC

Inocentes

O prefeito disse acreditar na inocência dos servidores que tiveram o nome envolvido na operação e foram presos.

“Acredito na inocência de todos, porque tudo que foi pedido foi entregue, tudo que eles levantaram foi entregue e os depoimentos também.Então, acredito, como eu acredito cada dia mais em homens e mulheres trabalhadores na nossa cidade. Agora se tem algo, não é comigo”, defendeu.

Além disso, o prefeito afirmou que não vai contratar novos secretários e que vai aguardar a soltura de Sá e Idelcleide. Os dois ocupavam o cargo de secretário de comunicação e chefe de gabinete, respectivamente.

“Eles pediram exoneração, eu não dei. Porque eles querem responder fora do cargo para justamente não desmoralizar uma cidade que tem homens e mulheres trabalhadoras. E na hora oportuna, eles vão voltar”, acrescentou.

O prefeito ainda criticou a lei de abuso de autoridade e pontuou que os servidores têm o direito de se defender, antes que sejam apontados como corruptos e que há alguns pontos que precisam ser ajustados. Ele ainda afirmou que não é necessário pedir a quebra de sigilo bancário porque já está aberto.

“Estou aqui dizendo para a PF, para o Judiciário, MP e para todos os órgãos competentes, não precisam vocês pedirem a autoridades para abrir meu sigilo bancário, ele está aberto, meu e-mail está aberto, a minha vida pessoal e pública está aberta, mas exijo respeito ao meu nome”, disse.

Respeito

Após a repercussão da operação, o prefeito que estava fora do município, na sexta-feira (14), ainda fez críticas aos veículos de comunicação que citaram o nome dele ao fazer referência à operação e pediu para ser respeitado.

“Quero pedir respeito a todos. Aqueles que não fizeram nenhuma matéria citando meu nome, muito obrigado. E aqueles que fizeram matéria citando meu nome, eu exijo respeito, sou um pai de família igual a você que é repórter, igual você que está escrevendo, que está filmando, sou um pai igual a você que sabe os momentos bons e ruins da vida”, exigiu.

Desvio

A ONG CBCN foi contratada com dispensa de licitação pela prefeitura, porém, segundo a PF, nunca prestou os serviços que foram acordados nos termos de colaboração com a gestão.

O casal Rosa Sampaio e Jocélio Araújo de Melo, que administram a ONG, também foi presos. Melo foi preso pela PF em Brasília, já a mulher dele estava em Cruzeiro do Sul quando foi levada pela polícia.

A investigação apontou que foram firmados cinco termos com diversas secretarias da prefeitura no valor de mais de R$ 52 milhões. Até o fim do exercício de 2019, a ONG já tinha recebido cerca de R$ 27 milhões.

Apesar de ter recebido já mais da metade do contrato, a polícia apurou que os serviços licitados pela prefeitura não foram efetivamente cumpridos, e sequer existe a possibilidade de que venham a ser até o fim da vigência dos contratos.

Em nota, o advogado que faz a defesa da CBCN, Daniel Gerber, alega que não houve desvio de verbas e nem recebimento de valores sem contraprestação.

“Os valores repassados pela Prefeitura de Cruzeiro do Sul foram todos aplicados na execução dos objetos dos termos de colaboração firmados com o ente municipal. Não existiu qualquer repasse de valores para o centro de tratamento de resíduos que transformará o lixo em energia. Não haverá verba pública nessa etapa. O investimento será exclusivo da iniciativa privada”, destaca na nota.

Como funcionava

A polícia levantou que o modus operandi da suposta organização criminosa era complexo e envolvia diversas pessoas, tanto físicas quanto jurídicas. A investigação apontou que os pagamentos que ela recebia da prefeitura eram utilizados para o pagamento de uma empresa contratada pela própria ONG.

Essa empresa, que foi criada especificamente para prestar serviços à ONG em Cruzeiro do Sul, repassava os valores para diversas empresas de fachadas. Essas empresas, por sua vez, distribuíam o dinheiro entre os membros da organização criminosa.

A ação foi batizada como “Operação Presságio” porque a equipe de investigação detectou que os integrantes da suposta organização criminosa pressentiam e temiam que logo o esquema seria descoberto e eles presos.