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Política

Após ter mandato cassado em decisão inédita no AC, vereador agride esposa do presidente da Câmara no Bujari

Após ter mandato cassado em decisão inédita no AC, vereador agride esposa do presidente da Câmara no Bujari

Presidente da Câmara e mulher registraram boletim de ocorrência por agressão ainda na noite dessa terça-feira (19)

Após a cassação de seu mandato por quebra de decoro parlamentar em uma decisão histórica no Acre, o agora ex-vereador do Bujari, Gilvan Souza, protagonizou um novo episódio de violência contra mulher no interior do estado. Ele foi denunciado de ter agredido a esposa do presidente da Câmara Municipal da cidade, que está grávida, após o término da sessão extraordinária que resultou na sua cassação.

Em julho deste ano, Gilvan Souza foi indiciado por violência política contra a mulher ao ofender de forma machista e proferir ameaças contra a parlamentar Eliane Abreu (PP) durante uma sessão extraordinária na Câmara no dia 27 de janeiro. Segundo ela, o colega chegou a dar vários socos na mesa, proferiu palavras de baixo calão e intimidação, partiu para agressão e disse: ‘eu vou te quebrar’.

Ele teve o mandato cassado por 4 votos a 3 na noite dessa terça-feira (19). O pedido foi votado pelos parlamentares e julgado 70 dias após a Comissão de Ética aprovar a solicitação. Antes da votação, o parlamentar entrou com um pedido de suspensão da sessão, mas foi negado pela presidência.

O g1 tentou contato com Souza, mas não obteve resposta até última atualização desta reportagem.

O voto decisivo para a cassação do vereador foi do presidente da Câmara do município, James Mourão, do Progressistas.

Veja como votou cada vereador

Minutos após o fim da sessão, o parlamentar voltou a se envolver em confusão, desta vez, com a esposa de Mourão. O presidente contou que ele e a esposa registraram um boletim de ocorrência contra Souza ainda na noite dessa terça (19) por agressão.

“Depois que terminou tudo, eu entrei na minha sala e a minha esposa me acompanhou, me abraçou e depois ela saiu. Daí, eu escutei uns gritos e em seguida, ela entrou na sala dizendo que ele tinha machucado ela. Quando eu olhei para o braço dela e vi que estava inchado, eu não aguentei, saí da sala rapidamente e fui procurar por ele. Mas, Deus foi tão maravilhoso que não deixou que eu chegasse até ele, os vereadores me seguraram. Chamei ele de covarde, que ele tinha feito mais uma covardia. Registramos o boletim de ocorrência por agressão e agora vamos aguardar os trâmites”, disse Mourão.

Decisão histórica

A vereadora Eliane Abreu disse que ficou feliz com o resultado da sessão e que o sentimento foi de “dever cumprido”. Ela destacou que essa foi a primeira vez que um vereador teve mandato cassado no Acre por quebra de decoro por agressão à mulher, o que tornou a decisão histórica.

“Sensação de dever cumprido, muito embora cumprir o dever não seja muito fácil, você passa por uma batalha física, espiritual, emocional, mas graças a Deus nós conseguimos fazer com que a justiça fosse feita. Não é pelo fato, é pela causa, essa causa em defesa das mulheres, para garantir que a gente possa ter segurança nos espaços de poder, não só na política, mas em qualquer outro espaço de poder que a mulher queira participar. Então é um marco para todas as mulheres do município e do Acre, porque é um fato que realmente nunca tinha acontecido”, afirmou Eliane.

A parlamentar disse ainda que, muito embora essa tenha sido a primeira vez de uma cassação por esse motivo, ela recebeu muitos relatos de outras mulheres que estão na política e que já sofreram a mesma coisa.

“Foi um processo de seis meses de muita luta, muita intervenção de poderosos. Eu considero como uma sessão histórica no município, porque nós conseguimos reunir movimentos e essa foi uma ação apartidária, não tinha cor de partido. A luta contra a violência contra a mulher não tem cor, não tem religião, não tem partido, ela tem apenas a vontade de defender as mulheres que são agredidas”, concluiu.

Quem assume cadeira

O presidente da Câmara do Bujari informou que será publicado no Diário Oficial do Estado (DOE) desta quinta-feira (21) a resolução que retira Gilvan Souza do cargo e convocando o vereador Marivaldo Rodrigues Freitas (PCDB), que era suplente dele, para assumir a vaga.

A sessão de posse do novo vereador está marcada para as 18h desta quinta (21), na Câmara do Bujari.

Denúncia

A parlamentar afirma que, durante a discussão de um projeto que retiraria o pagamento de gratificação a servidores municipais, ao qual ela era contrária, Gilvan Souza teria iniciado as ofensas. A parlamentar tentou contra argumentar e a discussão seguiu até o momento que o vereador partiu para agressão verbal.

Segundo Eliane Abreu, o parlamentar apresentava sinais de embriaguez e só não conseguiu efetuar as agressões físicas porque foi contido por outro colega. Ela registrou um boletim de ocorrência tanto na cidade do Bujari , como na especializada em Rio Branco.

Além do processo interno na Câmara, o caso também corre na Justiça. Em fevereiro, o vereador foi por violência política contra a mulher.

Em fevereiro, em entrevista ao g1, o vereador afirmou que estava confiante e que os fatos narrados pela colega parlamentar não eram confirmados pela provas, o que contraria a tese da Polícia Civil. Questionado se reconheceu o erro na forma de se expressar ou se desculpou com a vereadora, o parlamentar disse que não errou em nenhum momento da sessão.

Essa não foi a primeira vez que a vereadora denunciou o agora ex-parlamentar. Em 2021, ela denunciou que durante uma sessão, ele a teria ofendido e ela prestou queixa. O fato acabou sendo resolvido dentro do código de ética da casa e o processo foi concluído com um pedido de desculpas.