Operação contra corrupção e lavagem de dinheiro na cúpula do governo do Acre chegou à sua 3ª fase nesta quinta-feira (9). Advogados do governador emitiram uma nota à imprensa dizendo que vão recorrer das medidas cautelares
O governador do Acre Gladson Cameli publicou uma nota nas redes sociais nesta quinta-feira (9) a respeito das investigações da terceira fase da Operação Ptolomeu, que investiga corrupção e lavagem de dinheiro na cúpula do governo do estado.
“Essa é mais uma etapa da operação de mesmo nome. Com o andamento do processo, o governador confia que tudo será apurado e esclarecido. Mais uma vez, o governador se coloca à disposição das autoridades, colaborando com mais essa etapa das investigações. O governador reafirma o seu apoio e confiança na Justiça, para que a verdade sempre prevaleça”, diz a nota.
Também em nota, os advogados Ticiano Figueiredo, Pedro Ivo Velloso, Tarcísio Vieira de Carvalho Neto e Telson Ferreira disseram ver com “surpresa” a terceira fase do inquérito iniciado há dois anos.
“Trata-se de uma investigação baseada em uma pescaria probatória e uma devassa financeira ilegal, que atacou a família do governador como forma de driblar o foro adequado”, diz a equipe que atua na defesa de Cameli.
“Desde então, o governador já prestou os devidos esclarecimentos, colocou-se à disposição das autoridades e assim permanece. O governador confia na Justiça e irá cumprir todas as medidas. E respeitosamente irá recorrer das cautelares, o que inclui a descabida ordem para não falar com o próprio pai e irmãos”, completaram os advogados.
Nesta nova fase, o objetivo é bloquear bens para, no futuro, ressarcir os cofres públicos.
Operação Ptolomeu
A operação contra corrupção e lavagem de dinheiro na cúpula do governo do Acre, intitulada “Ptolomeu”, chegou à sua terceira fase nesta quinta-feira (9), com o cumprimento de 89 mandados de busca e apreensão em seis estados e no Distrito Federal.
A ação foi iniciada em 2021 e investiga, entre outros, o governador do Acre, Gladson Cameli (PP). A terceira fase da operação foi deflagrada a partir de investigações da Polícia Federal, da Procuradoria-Geral da República, da Receita Federal e da Controladoria-Geral da União. Os nomes dos alvos não foram divulgados.
Em nota, o governo do Acre informou não foi solicitada ao governador a entrega de celulares e que os documentos vão ser entregues dentro do prazo solicitado pelas autoridades policiais.
O STJ determinou o bloqueio de R$ 120 milhões em bens dos investigados, incluindo valores em contas bancárias, aeronaves, casas e apartamentos de luxo. Segundo a PF, o cumprimento dos mandados envolve mais de 300 policiais federais nesta quinta.
Os mandados são cumpridos no Acre, no Amazonas, em Goiás, no Piauí, no Paraná, em Rondônia e no Distrito Federal. No Acre, equipes da PF fizeram buscas em gabinetes da Casa Civil e da Secretaria de Fazenda do estado.
Por onde os policiais passaram nesta quinta (9) no Acre?
No Acre, segundo apurado pela Rede Amazônica, equipes da PF fizeram buscas na:
- Casa Civil
- Secretaria de Fazenda do Estado (Sefaz)
- Secretário de Estado de Obras Públicas (Seop)
- Secretaria de Estado da Saúde (Sesacre)
- Departamento de Estradas de Rodagens do Acre (Deracre)
- Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal (Idaf)
- Tribunal de Contas do Acre (TCE-AC)
Sobre a presença da PF na sede do TCE-AC, a Corte de Contas informou, em nota, que se tratou de um “mandado específico direcionado a servidor efetivo deste tribunal”, ocupante do cargo de auditor de controle externo e que “à época dos fatos investigados encontrava-se cedido ao governo estadual.”
“Atualmente, o servidor encontra-se afastado de suas funções, em gozo de licença-prêmio. Por fim, o TCE-AC reitera que se encontra integralmente à disposição para colaborar no que for necessário com as investigações, e reforça o seu compromisso em zelar pelo bom uso dos recursos públicos”, disse a nota.
Operação anterior
Em dezembro de 2021, Cameli já tinha sido alvo da primeira fase da operação. O político se elegeu governador do Acre em 2018 e foi reeleito para um segundo mandato no ano passado. Na época, 41 mandados de busca e apreensão e um mandado de prisão foram deflagrados. O Superior Tribunal de Justiça (STJ), que autorizou a operação, determinou o afastamento das funções públicas dos envolvidos.
De acordo com a PF, na operação da época, foram apreendidos, no total:
- Seis veículos, estimados em R$ 1,7 milhão;
- R$ 600 mil em espécie, entre dólares, euros e reais;
- 33 relógios e 10 joias de alto valor, totalizando mais de R$ 1 milhão, aproximadamente;
- R$139 mil reais em celulares apreendidos.
Também em 2021, Gladson Cameli afirmou que tinha a consciência “tranquila” e que a polícia estava cumprindo seu papel de apurar denúncias.
“Quem não deve, não teme. Não devo, não temo e quero que fique até o final, se tiver coisa errada vai para a rua [o servidor] e tem que prestar contas à sociedade, porque é dinheiro público”, disse à época.
Já na segunda fase, deflagrada ainda em dezembro de 2021, a PF disse que foi detectado que servidores públicos estavam obstruindo a investigação. Um vídeo, que a Rede Amazônica teve acesso com exclusividade, mostrava as investigadas ocultando celulares durante a deflagração da 1ª fase da ação.