Mas, como traz a política como um sinal na pele, quando não está falando sobre o vírus, o governador está chamando lideranças do MDB a ajudá-lo a governar o Acre
Focado no combate à pandemia do coronavirus, que não tem dado trégua ao Brasil – e no Acre não tem sido diferente -, o governador Gladson Cameli tirou alguns minutos desta manhã de quarta-feira 31/03, numa conversa com um jornalista a quem trata como amigo pessoal, para falar de política. Disse, inicialmente, que está buscando o MDB e outros aliados que estavam em seu palanque em 2018, para uma repactuação e participação no governo com vistas a 2022, quando ele deve ser de fato candidato à reeleição.
“Antes, temos que nos juntar todo mundo para combater este vírus maldito”, disse o governador, sobre o coronavirus. “Depois, a gente fala de política”, afirmou.
Mas, como traz a política como um sinal na pele, o governador não escondeu que, nesta manhã, estaria muito ocupado, falando ao telefone com as lideranças locais do MDB. Aliás, logo ao chegar ao Palácio Rio Branco, nesta manhã, Gladson Cameli avisou aos assessores mais próximos que queria ser incomodado o menos possível porque estaria muito ocupado ao telefone. Para o amigo pessoal, ele revelou para quem estava ligando, pessoalmente, um a um.
Pela ordem, quem primeiro recebeu a ligação via celular foi o deputado federal Flaviano Melo. E, em seguida, os ex-deputados Vagner Sales, João Correia e os ex-prefeitos Aldemir Lopes e Mauri Sérgio. Não por acaso, essas pessoas são os dirigentes do MDB – o maior partido político do Acre – no Estado. “O Flaviano é o símbolo do MDB e por isso foi a primeira pessoa para quem eu liguei” revelou o governador.
Os telefonemas aos emedebistas têm razão de ser: o Governo Gladson Cameli está se recompondo com o chamado “Glorioso”, como seus militantes se referem à sigla cuja imagem foi imortalizada junto com a do deputado democrata Ulysses Guimarães. É que as pessoas que estão a receber as ligações são exatamente aquelas que vinham se mostrando arredias em relação aos apelos de Gladson Cameli para que o MDB, que estava na chapa que o levou ao governo, em 2018, voltasse a fazer parte da administração com vistas à 2022.
O grupo vinha esticando a corda da discórdia mesmo com a posse do pecuarista Neném Junqueira na Secretaria de Estado de Agricultura e Pecuária (Seap), por indicação do senador Márcio Bittar. Mesmo o senador sendo na atualidade uma das maiores lideranças do MDB nacional, no Acre o partido não se sente contemplado com as indicações de Bittar e por isso vinha esticando a corda para não vir para o Governo. Com as ligações e o chamado público para o MDB ajudá-lo a governar, o governador deve ceder outras secretarias e outros órgãos às lideranças locais do partido e apaziguar o partido, pelo menos em parte.
É que, mesmo com os chamados públicos do governador para o MDB vir para o governo, na Assembleia Legislativa, pelo menos dois deputados do partido devem se manter independentes: Roberto Duarte e Meire Serafim. O primeiro, por vontade própria e pelo que ele entende por coerência. A segunda, por ser esposa do prefeito de Sena Madureira, Mazinho Serafim, um dissidente que só espera uma brecha na legislação eleitoral para se bandear para o PSD do senador Sérgio Petecão. Mudar de Partido, para Mazinho Serafim e seu grupo, incluindo a esposa, não é nenhum vexame: eles já foram até do PT, por onde Mazinho foi deputado estadual, e agora demonizam o partido que lhes deu guarida e os tirou da insignificância política. O sonho de Mazinho é que Sérgio Petecão seja candidato a governador, com sua esposa Meire Serafim de vice.
Mesmo assim, Gladson Cameli diz que está de braços abertos ao MDB, a essa banda saudável que age sob a batuta de Flaviano Melo. O governador acha que o MDB jamais deveria ter deixado o governo e ele próprio vai continuar acenando para que outros grupos que deixaram o governo retornem ao grupo que chegou ao poder em 2018. “Muitos deles optaram por se afastar, mas eu continuo chamando”, disse o governador num telefonema a um jornalista de sua relação pessoal.
Mas, para evitar ser criticado por fazer política num momento em que a pandemia do coronavirus mais ataca, Gladso Cameli disse: “Quero juntar todo mundo pra gente derrotar esse vírus maldito. Depois a gente fala de política”. Mas, como traz a política no sangue, Gladson Cameli disse: “Vou tratar com todos, porque ganhamos o governo com eles e por causa deles”. É uma referência a todos os grupos que se uniram em 2018 para derrotar e tirar o PT do poder.
O senador Márcio Bittar, que vem sendo questionado por grupos de seu próprio partido, foi defendido pelo governador. “Ele tem ajudado nossa gestão em todos os sentidos. É um diplomata, apaziguador”, disse.
Além do MDB, outros aliados de 2018 chegam ainda esse ano. A ideia é ajudar no combate à Covid, “depois a gente fala de política”. Segundo Cameli, não adianta querer falar em eleição de 2022 com ele nesse momento. “Por favor, vamos respeitar as vítimas desse vírus. A política vem depois”, concluiu.