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Saúde

Morte de idosos por causa da Covid-19 pode alterar drasticamente a renda das famílias

Novo panorama afeta principalmente domicílios onde o idoso responde por mais de 50% do total de rendimentos na família

Além da contínua perda de vidas humanas, a pandemia de Covid-19 começa a impor ao Brasil outras consequências negativas em núcleos familiares formados por idosos e seus dependentes financeiros. Esse novo panorama afeta mais diretamente os lares onde a renda do idoso responde por mais de 50% dos rendimentos totais do domicílio, o que pode colocar mais de 20 milhões de pessoas em situação de extrema dificuldade se o principal provedor for vencido pela doença.

De acordo com um estudo desenvolvido pela economista Ana Amélia Camarano, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), 73,8% das mortes registradas pela Covid-19 até 1º de julho deste ano no país foram de indivíduos com 60 anos ou mais, boa parte dos quais atuava como provedores de seus lares. “A pandemia atingiu duplamente os idosos. Em primeiro lugar, por serem os mais vulneráveis pela própria doença. Depois, porque têm perdido mais empregos ou, pelo preconceito, encontram dificuldades de se colocar novamente no mercado de trabalho”, alertou.

Em uma simulação que considera cenários extremos, Camarano avalia o impacto da perda da renda do trabalho e, também, da renda do idoso no caso da sua morte. Em 20,6% dos lares brasileiros, a renda dos idosos responde por mais de 50% dos rendimentos da família. Se esses idosos morressem, o rendimento médio per capita desses domicílios cairia de R$ 1.621,80 para R$ 425,50, uma redução de quase 75% que afetaria cerca de 11,6 milhões de pessoas. Se todos os maiores de 60 anos morressem, cerca de 30 milhões de não idosos teriam sua renda mensal per capita reduzida de R$ 1.380,60 para R$ 1.097,80, desde que também não haja perda de rendimento do trabalho.

O estudo “Os Dependentes da Renda dos Idosos e o Coronavírus: Órfãos ou Novos Pobres?” suscita uma questão de fundamental importância em tempos de pandemia: a diminuição da renda domiciliar provocada pela morte de um provedor ou pela perda de emprego num momento de difícil acesso a um trabalho remunerado. A tendência esperada é, segundo Camarano, de um crescimento do número de mortes de idosos e do desemprego mesmo depois da pandemia, o que terá um grande impacto nas famílias. “Esse grupo específico de famílias ainda não é contabilizado nas estatísticas atuais, mas não resta dúvida de que em pouco tempo essa situação irá criar um problema grave para a economia, além do aumento significativo da pobreza”, pontuou.

Em 2018, a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) revelava que, dos 71,3 milhões de domicílios brasileiros, 33,9% tinham ao menos um idoso. Nestes lares moravam 62,5 milhões de pessoas, das quais pouco mais de 30 milhões eram não idosas. Outro dado interessante é que, dentre esses não idosos, havia um contingente de 16,6 milhões sem trabalho. O idoso contribuía com 69,8% da renda desses domicílios, e 56,3% dessa renda vinha de pensões ou aposentadorias.

Na avaliação da pesquisadora do Ipea, o fenômeno, observado desde a década de 1990, é caracterizado por um período em que os filhos passam novamente a depender economicamente de seus pais, em função de fatores como dificuldades de inserção no mercado de trabalho, ao maior tempo despendido na escola e à maior instabilidade das relações afetivas.

Outro fator que agrava essa dependência se refere aos chamados “nem-nem”, jovens (15 a 29 anos) e homens adultos (50 a 59) que não trabalham, não estudam e, neste último grupo, também não são nem aposentados ou pensionistas. Segundo a Pnad os “nem-nem” entre 50 e 59 anos que moravam com pais idosos passaram de 5,3% em 1992 para 9,1% em 2012.

Leia a íntegra do estudo