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Saúde

Estudo sugere que erradicar Covid-19 é mais fácil que zerar poliomielite

Líder do estudo também usou como exemplo o sarampo, muito mais transmissível que a Covid-19, mas que foi eliminado das Américas, inclusive do Brasil

Segundo cientistas neozelandeses em  artigo publicado nesta segunda-feira (9) na revista BMJ (British Medical Journal),  a Covid-19 pode ser erradicada, mas para isso será necessário um esforço global. Os especialistas compararam a doença à varíola e à poliomielite, que também desafiaram a humanidade. 

Por meio da análise de 17 variáveis, os pesquisadores desenvolveram um escore para quão propensa à erradicação é cada doença. A nota final dependeria de questões técnicas, como a existência de vacinas eficazes, e socioeconômicas, como o investimento público em outras medidas preventivas e a adesão popular à vacinação e a outras formas de se proteger.

De 0 a 3, quanto maior a nota, maior a facilidade de erradicar a doença.  A varíola, já erradicada mundialmente, pontuou mais alto, com 2,7. Em seguida, apareceu a Covid-19, com nota média 1,6. Por fim, a poliomielite, com nota média 1,5.

Uma doença é considerada erradicada quando há a redução à zero de incidência e o agente infeccioso não consegue mais encontrar indivíduos suscetíveis em todo o mundo -- é o caso da varíola, que liderou o ranking. 

Segundo o estudo, a Covid-19 tem pontos fortes a favor de sua erradicação, como o interesse global em controlar a doença. Além disso, há também a eficácia de medidas de baixo custo, como distanciamento social, uso de máscaras, ventilação de ambientes e rastreamento de casos. Por outro lado, a maioria das vacinas existentes protege contra o desenvolvimento da doença, hospitalização e morte,  mas são incapazes de bloquear a transmissão do vírus.

Um outro problema pontuado pelos pesquisadores é a baixa adesão à vacina pela população, que muitas vezes é impactada por  campanhas de desinformação e fake news.

Nick Wilson, pesquisador e professor de medicina na Universidade de Ottago, na Nova Zelândia e principal autor do estudo, diz que medidas preventivas não-farmacológicas funcionam quando aplicadas em larga escala. Em relação às vacinas, o autor acredita que as fórmulas mais tecnológicas, como as que usam RNA, podem ser atualizadas para as novas variantes na medida que elas forem surgindo.

“Por isso, a combinação de medidas não-farmacológicas, como foi feito na Nova Zelândia, e o avanço da vacinação podem, pelo menos em teoria, permitir a erradicação da Covid-19 globalmente”, afirma Wilson.

“Variantes mais transmissíveis e com capacidade de fugir da proteção dada por vacinas são o principal desafio [para erradicação da Covid], mas a seleção natural de formas mutantes mais transmissíveis deve ser em grande parte contida pelas vacinas”, explica.

Wilson ainda lembrou do sarampo, muito mais transmissível, e que foi eliminado das Américas. “Isto é o que podemos alcançar com boas vacinas”, aposta o especialista, em publicação do jornal Folha de S.Paulo.