A preocupação e o medo do Covid-19 é um tema que vem marcando de forma cada vez mais palpável a vida coletiva e individual do ser humano, resultando na modificação de comportamentos sociais, hábitos mentais, de rotina, dentre outros.Entretanto, essas atitudes são consideradas normais, porque é um mecanismo intrínseco de defesabiológicado ser humano ao se deparar como que é novo ou desconhecido.Com certeza, dentre as muitas dúvidas queafligem e preocupam os seres humanos, nesses tempos de pandemia, a segurança alimentar, não deixa de ser menos importante. Mas, afinal, em relação à segurança alimentar, existe motivos para tamanha preocupação? Segundo a Organização Mundial da Saúde – OMS, o vírus não é um ser vivo, e portanto, precisa de um hospedeiro humano ou animal para se multiplicar e sendo assim, não é capaz de se desenvolver nos alimentos, como a exemplo das bactérias, fungos e outros microrganismos. Vírus, são microrganismos invasivos, precisam penetrar nas células para se reproduzir.
A superfície dos alimentos, são apenas potenciais veículos de circulação do vírus ou contaminação superficial, caso tenham sido manipulados por alguém contaminado, assim como pode ocorrer com a maçaneta da porta de casa ou do carro, ou qualquer outro objeto.
Segundo a classe cientifica e os profissionais da área de saúde, a transmissão do novo Covid-19, ocorre principalmente por meio de secreçõesque são expelidas da boca e nariz depessoas contaminadas que ao entrarem em contato comas mucosas “boca, nariz e olhos” de outros indivíduos sadios, pode ocorrer o contágio. A contaminação também pode ocorrer pelo contato das mãos com superfícies onde o agente infeccioso esteja presente, e ao levar as mãos aos olhos, nariz e boca, a pessoa pode se contaminar. Segundo os cientistas da FORC em surtos anteriores, causados por outros tipos de coronavírus “Sars-CoV e Mers-CoV”, não foi registrado nenhum caso via transmissão pelos alimentos, corroborando até agora com o atual momento da pandemia do Covid-19.
A ciência ainda não conseguiu determinar a origem do SARS-CoV-2, porém, existem hipóteses e especulações, que possivelmente, o vírus tenha origem em hospedeiros animais, como o pangolim e o morcego, e que a partir do contato ou mesmo ingestão da carne contaminada desses animais, tenha começado a disseminação entre os humanos. Uma informação positiva para nos deixar mais tranquilos é o fato de não existir qualquer evidência ou comprovação científica de que animais de consumo humano, como aves, suínos e bovinos, sejam portadores do novo Covid-19. Entretanto, como dizia nossos antepassados, “cautela e caldo de galinha, não fazem mal a ninguém”. Usando dessa cautela, a Organização Mundial da Saúde recomenda que o consumo de carnes mal assadas, mal cozidas ou fritas, sejam evitadas nessa época de pandemia. Portanto, até que se avance nessa área e em outras áreas do conhecimento sobre o vírus, melhor não trocar o certo pelo duvidoso. Tem um dito popular que alerta: “Melhor prevenir do que remediar”, até porque, pelo alto grau de poder de contaminação e letalidade do vírus, melhor se prevenir mesmo, porque as vezes, você poderá não ter a oportunidade de remediar e se curar.
As Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos (EFSA), avaliaram o risco de pessoas serem contaminadas pela alimentação durante as epidemias da Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS) e da Síndrome Respiratória do Oriente Médio (MERS) e, nas duas situações, concluíram que, não houve transmissão dos microrganismos para seres humanos através da ingestão de alimentos. Essas evidênciaspodem nos levar a crer, que o SARS-CoV-2 tenha comportamento semelhante aos vírus causadores da SARS e da MERS. Como, até o atual momento, não se tem conhecimento de casos de Covid-19 causados pelo contato ou ingestão de alimentos, essa hipótese vem se configurando como verdadeira, embora continue sendo apenas uma hipótese, sem pesquisas que a comprovem. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) comunga e endossa a conclusão da EFSA.
Porém, aAgência Francesa de Vigilância Sanitária do Meio Ambiente e do Trabalho (ANSES), faz uma importante observação em relação a esse tema, quando afirma que se a pessoa que contém o vírus, estiver próxima de alimentos ou pessoas se alimentando, pode liberar fluidos para o alimento através da boca ou nariz e, assim contaminar outras pessoas.
O tempo de sobrevivência do vírus, pode ser por dias, ou até mesmo por algumas horas, entretanto, isso vai depender das condições ambientais onde ele esteja inserido, como: umidade e temperatura, além da superfície de contato. Entretanto, se adotarmos medidas sanitárias e de sanitização dos alimentos e do ambiente onde os mesmos são preparados, estaremos nos prevenindo de uma possível contaminação pelo Covid-19.
Alimentos geralmente consumidos crus, como as hortaliças folhosas, a exemplo da alface, cebolinha, coentro, couve, espinafre, rúcula e outras, primeiro, deve-se fazer uma pré limpeza, como, remover as folhas danificadas ou que apresente sintomas escurosou de fungos e, em seguida deixá-las em imersão, por 15 minutos, em uma solução de água com hipoclorito de sódio, conhecido comercialmente como água sanitária, na proporção de uma colher de sopa diluída para um litro de água. Após esses tempo, o vegetal deve ser lavado novamente para retirar o excesso de cloro e colocado para escorrer e guardar na geladeira na parte de baixo. Para higienização das frutas, os procedimentos são os mesmos.
O processo de cocção (cozimento) dos alimentos, quando realizados de maneira correta, elimina todos os eventuais microrganismos presentes, inclusive o Covid-19. Entretanto, após o cozimento, fritura ou assadura é preciso evitar que os alimentos voltem a ser contaminados. Também é importante não deixar no mesmo ambiente, alimentos crus e cozidos em contato, para evitar uma possível contaminação cruzada.
Nessa época de quarentena, onde os atendimentos delivery são amplamente solicitados, os cuidados devem ser redobradosem relação ao consumo de refeições entregues a domicílio. Antes de comprar o alimento, recomenda-se pesquisar ou se informar sobre a empresa que vai realizar a entrega. Fazer o pedido por aplicativos de celular ou pelo próprio telefone. Prefiraque os alimentos venham em embalagens de papelão, sempre que possível, já que os especialistas acreditam que o vírus resiste por menos tempo em papel do que em plástico ou alumínio, e, faça a desinfecção das embalagens antes de abri-las, com álcool gel a 70%, água e sabão ou detergente. Outra medida importante, é evitar o contato direto com quem vai fazer a entrega. Se realizar o pagamento com cartão ou dinheiro em espécie,higienize as mãos antes de manipular o alimento e se alimentar.
De maneira geral, nos ambientes domiciliares ou de produção de entrega delivery de alimentos é importante tentar colocar em prática os princípios básicos das Boas Práticas de Fabricação de Alimentos, descrito a seguir:
Ao manipular alimentos crus como: hortaliças, frutas e carnes, lavar as mãos com frequência, principalmente, depois de: colocar as mãos nos olhos, nariz, boca, tossir ou espirrar, ir ao sanitário, manusear lixo, chaves, celular, dinheiro, maçanetas de porta de carros ou de casa, dentre outros objetos;
Quando for lavar as mãos, faça uso de detergente, sabão liquido ou outro produto do gênero, esfregue as pontas dos dedos, além do punho com bastante água limpa e corrente;
Seja rigoroso no momento de fazer a higienização de utensílios e superfícies após a manipulação de carnes cruas ou vegetais não lavados. Esses alimentos são reconhecidos como fonte de contaminação de doenças transmitidas por alimentos,as chamadas (DTAs).
Os alimentos devem ser bem cozidos, uma vez que muitos dos agentes transmissores das doençassão sensíveis ao calor. No caso dos alimentos que são consumidos crus a atenção deve ser redobrada com a origem, procedência e a higienização.
Desde a manipulação e o preparo dos alimentos, até o momento de servir e se alimentar, não assovie, espirre, tussa, cante ou converse sobre os mesmos, de modo que os fluidos corporais, principalmente, da boca e nariz, não caiam sobre os alimentos, utensílios e superfícies;
O manipulador de alimentos, não deve utilizar adornos que possam acumular microrganismos ou outros tipos de sujeiras. As unhas devem ser mantidas aparadas, sem esmaltes, e os dedos e os punhos, devem estar sem aliança, anéis e relógio, respectivamente;
Não comprar produtos que apresentemembalagens amassadas, furadas, trincadas, estufadas, enferrujadas, vazadas, rasgadas, abertas ou com qualquer outro tipo de defeito.
Com essas informações básicase, os demais cuidados e precauções, em relação as Boas Práticas de Fabricação de Alimentos, você pode se proteger e proteger sua família de uma possível contaminação do Covid-19 através da alimentação. Finalmente, para maiores informações e esclarecimentos sobre segurança alimentar e o Covid-19, os sites da ANVISA, MAPA, MS, OMS, e outros, que garantam segurança das informações sobre o assunto, devem ser consultados através de seus respectivos sites oficiais.
#cuide da sua saúde e se possível fique em casa#
Reginaldo Ferreira da Silva
Engenheiro Agrônomo
Doutor em Ciência dos Alimentos
Professor e Pesquisador da UFAC
Curso de Bacharelado em Nutrição
Centro de Ciência da Saúde e do Desporto