Especialistas explicam como identificar sinais do corpo que não podem esperar a pandemia passar
De acordo com uma pesquisa divulgada pelo Google, cerca de 35% dos brasileiros têm como prioridade para 2021 cuidar mais da saúde. A meta fica na frente de todas as outras, como comprar uma casa (29%), emagrecer (26%), aprender outra língua (24%), investir dinheiro (23%) ou comprar um carro (19%). E é esse cuidado com a saúde que pode fazer a diferença nos números de mortes, não apenas pela Covid-19, mas também por outras doenças graves, que ficaram sem acompanhamento em 2020.
Durante o ano passado, a pandemia espantou muita gente dos consultórios médicos. O medo do contágio pelo coronavírus fez com que pessoas que necessitavam de acompanhamento contínuo deixassem de realizar exames. Isso se refletiu no aumento de mortes por diversas outras doenças, na chamada terceira onda da pandemia. Só no Hospital Marcelino Champagnat, que é referência em cardiologia, neurologia e ortopedia em Curitiba, o número geral de exames caiu 40%, se comparado a 2019.
Com a possibilidade desse cenário se repetir em 2021, é importante ficar atento às indicações que o corpo dá, de que está na hora de procurar atendimento médico. O primeiro passo para evitar dores e complicações desnecessárias é entender os sinais. Dores no mesmo local por mais de três dias, falta de ar, dificuldade na fala, formigamento, sangue na urina, febre e vômitos são algumas características que não podem ser negligenciadas.
Confira outros aspectos a serem observados em áreas importantes da saúde:
Neurologia - Perda de força, fraqueza ou formigamento de um lado do corpo podem ser sinais de AVC
O médico Carlos Twardowschy, neurologista e coordenador do serviço de neurologia do Hospital Marcelino Champagnat, explica alguns sintomas que necessitam de atendimento imediato, em função de serem sinais indicativos de AVC, a segunda maior causa de morte no Brasil. Alteração da fala ou dificuldade em pronunciar as palavras, boca torta, alteração de visão podem ser sintomas de AVC e o serviço médico tem que ser procurado de forma imediata, de preferência em um local que tenha atendimento especializado em neurologia. Também não dá para ignorar características que surgem subitamente como: perda de força, fraqueza ou formigamento de um lado do corpo. “O AVC tem tratamento e quanto mais cedo for iniciado, maiores as chances de recuperação e menores as sequelas. A cada minuto perdido de tratamento, 2 milhões de neurônios morrem. Então o AVC é uma emergência, não pode esperar”, ressalta.
Cardiologia - Falta de ar e dor no peito que irradia para os braços e o queixo exigem atendimento imediato
A médica cardiologista e coordenadora do serviço de cardiologia do Hospital Marcelino Champagnat, Lidia Zytynski Moura, possui na ponta da língua as principais características de problemas cardíacos que precisam de um atendimento especializado. “A piora da falta de ar, dor no peito, em especial, as dores que irradiam para os braços e para o queixo e, principalmente, desmaios”, explica. “É importante que diante desses sintomas você procure seu médico, seja por telefone ou via telemedicina, principalmente em caso de piora”, recomenda. Ela também defende que pacientes que já possuem doenças cardíacas ou doenças crônicas precisam redobrar os cuidados nesse período. “É importante manter os seus tratamentos, manter-se atento à glicemia, se for diabético, manter-se atento aos níveis de pressão arterial se você for hipertenso e tomar a medicação exatamente conforme foi prescrita pelo médico”.
Cirurgia geral - Dor no lado direito da região abdominal pode ser caso cirúrgico
Para o médico Wagner Sobottka, cirurgião geral e coordenador do serviço de emergência do Hospital Marcelino Champagnat, qualquer pessoa com dor na região abdominal do lado direito deve procurar o pronto atendimento. “Quanto antes for feito o diagnóstico, antes será realizada a cirurgia, um tratamento cirúrgico mais eficiente e o paciente fica menos tempo internado, facilitando a recuperação no pós-operatório”, esclarece.
Segundo ele, uma infecção no colo, uma colecistite aguda, diagnosticada precocemente possui um tratamento cirúrgico muito efetivo com baixo índice de complicação. “É preciso sempre prestar atenção aos seguintes sintomas abdominais: náuseas, vômitos, dores abdominais, febre, diarreia, mudanças no funcionamento do intestino”, destaca. No caso de dores na parte superior do abdômen, a dor pode estar relacionada às pedras nas vesículas (pancreatite aguda). Já na região inferior direita do abdômen, se associado à febre, falta de apetite e mal-estar, o quadro pode ser de apendicite. “Apendicite aguda pode trazer complicações e um quadro infeccioso grave, que apresenta um risco de mortalidade se não for tratado adequadamente”, alerta.
Urologia - Forte dor na região lombar e aumento na frequência urinária associados à febre podem ser sinais de cálculo urinário
O médico urologista Mark Neumaier explica que, além dos riscos para a saúde, negligenciar os sinais de problemas nessa região acarretam em um sofrimento desnecessário, em função da dor gerada. Alguns sinais de alerta para doenças do sistema urinário são: sangue na urina, incontinência urinária, forte dor na região lombar e febre. “Dor nas costas, na altura das costelas, de forte intensidade e muitas vezes associada ao aumento da frequência urinária. Esse sintoma é muito comum e está relacionado ao cálculo urinário. Se não for reconhecido e tratado pode trazer consequências, inclusive, irreversíveis”, informa. O médico também faz um apelo sobre o aumento de pessoas trabalhando home office e o risco para a saúde. “Tenho notado que muitas pessoas deixam de se levantar, passam mais tempo sentadas, inclusive, deixam de se hidratar adequadamente, e isso favorece algumas doenças específicas como infecção urinária. A cada hora sentado, procure levantar, estipular metas de ingestão de líquidos. Pelo menos dois litros e meio de água por dia”, indica.
Ortopedia - Uma dor que dura mais de três dias e não melhora deve ser atendida por um especialista
O ortopedista, especialista em cirurgia de coluna, Antônio Krieger, também vê com preocupação as consequências do isolamento social e do home office para a integridade da coluna vertebral. “Nem toda casa tem a ergonomia e o escritório perfeito para que se possa trabalhar durante seis, oito horas sentado. O desktop que permite uma visão na mesma altura do monitor foi trocado por um notebook que muitas vezes exige uma flexão do pescoço e com isso começaram a surgir sintomas de cervicalgia, dor no pescoço e dor lombar”, aponta.
Sobre a dúvida de quando ir ao hospital ele diz que os sintomas que o paciente precisa estar bastante atento são: uma dor que dura mais de três dias e não melhora. “Seja uma dor na cabeça ou nas costas, tomou um analgésico e melhorou, não é o caso de buscar o hospital. Agora uma dor que dura três dias, já está uma semana, uma dor limitante, que não lhe permite ficar longos períodos em pé ou sentado, perda de força nos membros, precisa”, compara.
O ortopedista Thiago Fuchs, que atua nas áreas de cirurgia de joelho e quadril, diz que as mudanças na vida, nos hábitos e rotinas, nessa época de pandemia, vão impactar em aumento nos problemas ortopédicos. Nas articulações de carga, como o joelho e o quadril, é importante procurar o médico em caso de dores articulares relacionadas aos movimentos ou de ficar muito tempo sentados. “Aquela dor que lhe incomoda todos os dias, aquela dificuldade de calçar os sapatos ou realizar atividades simples do dia a dia são sintomas e sinais clínicos que não devem ser deixados de lado e que, algumas vezes, quando se passa muito tempo daquele sinal ou sintoma, o tratamento fica muito mais difícil, complicado e, muitas vezes, necessita de uma cirurgia”, afirma.