Prematuridade é a maior causa da mortalidade infantil, problema de saúde em que o Acre também é líder nas estatísticas; nutricionista acreana aponta caminhos para diminuir os índices
Dados do Departamento de Informação e Informática do Sistema Único de Saúde, o chamado Datasus, sigla para o departamento de informática do Sistema Único de Saúde do Brasil, revela um dado preocupante em relação ao futuro do Acre: o período de 2017 a 2021 (o último ano com informações disponibilizadas) mostra que o Acre aparece com a maior taxa de prematuridade de nascimentos do país – 14,02%, um cenário preocupante na visão de médicos e nutricionistas envolvidos com a causa.
A taxa de mortalidade infantil – cuja maior causa é o nascimento prematuro – no Acre é de 17,2 por mil nascidos vivos em 2022, os últimos dados disponíveis – índice muito superior ao resto da região da Amazônia Legal e superior ao resto do Brasil, que é em 13,2 por mil nascidos vivos e, no ano seguinte, em 13,8 em 2021.2 – também os últimos números disponíveis.
Ainda com base no Observatório da Atenção Primária à Saúde, em 2020, a taxa ficou em 13,2 por mil nascidos vivos e, no ano seguinte, em 13,8 em 202, mas o Acre sempre esteve acima disso.
O percentual de prematuridade no Acre é maior que a média nacional. Em uma média dos 5 anos analisados, o Acre lidera a maior taxa de prematuridade do país, com 14,02%, enquanto a média nacional fica na casa de 11,57%. Em seguida, aparecem Roraima (13,98%); Amapá (13,82%); Rio Grande do Norte (12,79%), e, por fim, o Rio Grande do Sul (12,04%).
Novembro Roxo é o mês de intensificação de campanha para combater o problema ao redor do mundo
Os números emergiram esta semana, na metade de novembro, mês apontado no Brasil pelo Ministério da Saúde como marco da campanha “Novembro Roxo”, quando, em nível global, há mobilização internacional que visa conscientizar e sensibilizar a população sobre a prematuridade e a importância de cuidar dos prematuros. Prematuro é toda criança que nasce antes das 37 semanas de gestação.
Devido a proporção preocupante, o Dia Mundial da Prematuridade, celebrado em 17 de novembro, reúne uma série de ações acerca dos desafios do tema. Com o tema “Pequenas ações, grande impacto: contato pele a pele imediato para todos os bebês, em todos os lugares”, a campanha global do mês de novembro reforça a importância de garantia dessa prática. Estudos têm demonstrado que prematuros extremos, os mais vulneráveis, são ainda mais beneficiados por esse contato quando feito de forma precoce. Diante disso, a OMS e as instituições que compõem a Aliança Global para o Cuidado do Recém-nascido (GLANCE), incluindo a ONG Prematuridade.com, escolheram enfatizar a questão novamente em 2024. Nesta época do ano, todos se unem em prol de levar o debate à sociedade civil.
No Brasil, a campanha terá ampla programação, contando com audiências públicas, simpósios, lives, ações nos hospitais, caminhadas e piqueniques, dentre outras atividades. Nas ações promovidas pela ONG, estão confirmadas participações de representantes da Organização Panamericana de Saúde (OPAS), Ministério da Saúde, Sociedade Brasileira de Pediatria e de outras importantes instituições no contexto da prematuridade, além de famílias de prematuros, profissionais de saúde, celebridades e formadores de opinião.
Atualmente, cerca de 12% dos bebês nascidos em solo nacional são acometidos pela síndrome, sendo ela a principal causa de mortalidade infantil em crianças menores de cinco anos. Em nível global, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 15 milhões de crianças são afetadas pela condição e mais de um milhão de bebês morrem devido à prematuridade.
Nem tudo está perdido: índices podem ser reduzidos, diz experiente nutricionista acreana
Apesar desta condição alarmante, a boa notícia é que isso pode ter fim ou descer a níveis razoáveis. Isso será possível com amplo acesso a cuidados maternos e neonatais de qualidade em todos os lugares, quando muitos casos podem ser evitados. Aliás, esse é justamente o tema da campanha “Novembro Roxo” em 2024, marcando um dos eixos estratégicos de atuação dos agentes envolvidos, lembra a nutricionista Janilda Moraes, de 39 anos.
Acreana de Brasiléia, Janilda Moraes é uma especialista em nutrição que há 15 anos trabalha como nutricionista de bebês prematuros em UTI (Unidade Tratamento Intensivo). Ela faz parte da ONG Prematuridade em João Pessoa, na Paraíba, e de volta à terra natal quer empregar seus conhecimentos para ajudar a combater os elevados índices de nascimentos de prematuros no Acre. Ela é representante da associação brasileira de pais e cuidadores de bebês prematuros ligado ao Ministério da Saúde.
A profissional aponta as causas. São pelo menos dez causas, as quais, se forem tratadas e controladas, não representam risco grave. Veja a seguir as dez causas:
- Hipertensão – Mesmo que pressão da mulher sempre tenha sido normal, ela pode se alterar durante a gravidez. Quando a máxima estiver acima de 140 e a mínima acima de 90, é motivo para preocupação e acompanhamento médico constante.
- Prematuridade anterior – Gestantes que já tiveram outros casos de prematuridade têm três vezes mais chances de dar à luz a bebê prematuro novamente do que as mulheres que tiveram parto no tempo certo.
- Malformação fetal – É o único fator que aparentemente vai determinar a prematuridade. E as complicações podem contribuir para um parto forçado antes do tempo.
- Patologias do útero – Miomas, malformação uterina, colo do útero curto e problemas no colo do útero são algumas causas de prematuridade. Se a questão é o colo do útero curto, por exemplo, a musculatura não consegue conter a gestação. A ultrassonografia transvaginal é a melhor forma de prever o risco de um bebê prematuro. Em casos relacionados ao útero, o médico provavelmente irá pedir repouso absoluto.
- Infecções maternas – Uma infecção urinária pode até parecer simples, mas se não for tratada vai representar risco à gestação, assim como qualquer outra infecção vaginal. Além disso, as infecções sistêmicas (que afetam o organismo) são risco sério, que podem causar trabalho de parto prematuro.
- Gestação de múltiplos – Hoje, com os tratamentos para engravidar, é mais fácil ficar grávida de não apenas dois, mas de três ou quatro embriões. É muito provável que a gravidez se antecipe. Para trigêmeos, por exemplo, a gestação é interrompida geralmente antes de 33 semanas.
- Idade materna – Em geral, mulheres acima dos 35 anos já estão com a profissão estabelecida e, em muitos casos, ocupam cargos de alta responsabilidade. O estresse e os problemas do dia-a-dia estão associados ao baixo peso do bebê ou ao trabalho de parto prematuro. E as adolescentes, com útero imaturo e sem cuidados essenciais com a alimentação, também fazem parte do grupo de risco à prematuridade.
- Incidência alta de cesariana – Com o parto programado, existe o risco de erro na hora de contar a idade gestacional. Qualquer erro pode fazer os médicos tirarem o seu bebê ainda prematuro de dentro da barriga. Hoje, no Brasil, o número de cesáreas está acima de 35%, enquanto a Organização Mundial da Saúde considera 15% o máximo.
- Posicionamento da placenta – Em alguns casos, a placenta, em vez de estar inserida na parede do útero, fica em cima do colo do útero. Isso pode levar ao sangramento e, então, ao parto prematuro.
- Pré-natal malfeito – O ponto crucial para evitar a prematuridade é um bom acompanhamento médico. É nesta fase que é possível identificar os problemas que podem levar ao parto pré-termo. O mínimo são cinco consultas e dois exames de ultrassom, mas o ideal é um acompanhamento mensal.
Em palestra para médicos mexicanos, Janilda Moraes vai expor formas de melhorar a saúde neonatal
A experiência de Janilda Moraes na área é tamanha que ela participará, via online, no sábado (17), do I Simpósio Mexicano de Terapia Nutricional em Prematuros: Um Marco na Saúde Neonatal. O México enfrenta altas taxas de mortalidade infantil, especialmente entre bebês prematuros, com índices bem maiores que o Brasil. Uma das causas principais identificadas é a falha na nutrição adequada durante o período de internação em UTIs neonatais do país. Outro dado alarmante: O país inteiro não conta com nutricionistas especializados em nutrição neonatal para prematuros, revelando uma lacuna crítica no cuidado desses bebês vulneráveis.
De acordo com o aconselhamento médico em relação a tema, para que os índices de mortes sejam reduzidos a níveis razoáveis, a saída é a perevenção. A prevenção da prematuridade se inicia antes mesmo da mulher engravidar, com o planejamento familiar adequado. Em seguida, o acompanhamento pré-natal é fundamental para garantir a saúde do binômio materno-fetal. Essa é a maneira mais segura e eficaz de garantir o desenvolvimento de uma gestação saudável e reduzir os riscos envolvidos, entre eles, o de um parto prematuro.
Há também, após o nascimento e a saída do bebê da UTI neonatal, algumas recomendações. São elas:
- Colocar o prematuro para dormir de barriga para cima;
- Não fumar dentro de casa ou próximo a ele;
- Evitar lugares fechados e com aglomerações;
- Manter distância de pessoas com infecções respiratórias (tosse ou coriza, por exemplo). Se for inevitável, usar máscara N95;
- Lavar as mãos com frequência e passar álcool 70%;
- Priorizar o aleitamento materno;
- Manter a carteira de vacinação em dia;
- Trocar fraldas a cada duas ou três horas;
- No banho, fazer a limpeza suave, com sabonete neutro, sem esfregar;
- Beijos? Só da mamãe, do papai e de quem já mora na mesma casa (se for na testa, melhor).