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Polícia

Sargento de trisal que atirou em estudante no AC tem pedido de análise de insanidade mental negado

Sargento de trisal que atirou em estudante no AC tem pedido de análise de insanidade mental negado

Defesa alegou no pedido que sargento Erisson Nery sofre de humor instável, episódios depressivos, ansiedade, entre outros problemas. Juíza da Comarca de Epitaciolândia negou pedido e advogada disse que vai recorrer. Militar segue preso no Bope, em Rio Branco

A Vara Única Criminal da Comarca de Epitaciolândia, interior do Acre, negou um pedido de análise de insanidade mental para o sargento da Polícia Militar Erisson Nery, que atirou no estudante Flávio Endres Ferreira, de 30 anos, em novembro de 2021.

A vítima levou ao menos quatro tiros e ficou com sequelas em uma das mãos. Após passar por uma cirurgia na região do abdômen e ficar nove dias internado no pronto-socorro de Rio Branco, o estudante Flavio recebeu alta no dia 7 de dezembro.

A defesa do militar pediu a instauração de incidente de insanidade mental alegando que Nery ‘sofre de humor instável, episódios depressivos, ansiedade, euforia e, por vezes, excesso de energia e ideias de extermínio’. Nery está preso desde a época do crime no Batalhão de Operações Especiais (Bope), em Rio Branco. Em dezembro do ano passado o militar foi afastado dos batalhões policiais.

O pedido foi analisado e negado pela juíza de direito Joelma Ribeiro Nogueira no último dia 13. Na decisão, a magistrada afirmou que não foi comprovado qualquer indicativo de que a saúde mental do militar esteja comprometida. A juíza utilizou as condições físicas e mental apresentadas pelo PM durante a prisão para embasar a negativa.

Segundo a magistrada, o policial demonstrou, durante o interrogatório na delegacia, que estava ciente dos atos e acusações contra ele e, inclusive, decidiu ficar em silêncio. Naquele momento, o PM estava acompanhado de um advogado e revelou lucidez ao utilizar o direito constitucional.

“No caso, verifica-se que, no momento da prisão, o requente desenvolvia normalmente suas atividades laborais e de que nem sequer havia relatos de surtos paranóicos ou psicóticos ou quanto à precedência de tratamento médico do gênero. Com efeito, não há o mínimo de prova nos autos a demonstrar a existência de doenças psíquicas no acusado, que possam influir na capacidade cognitiva do mesmo, estando presente somente alegações da defesa desprovidas de elementos probatórios”, argumentou a juíza.

A advogada do militar, Helane Christine, chamou a decisão de absurda e disse que vai recorrer do resultado, inclusive nas instâncias superiores.

“Nery é acompanhado semanalmente por um psicólogo da policlínica, toda semana ele tá lá desde que foi preso e já muito antes do ocorrido. Dentro dos autos temos laudos do psiquiatra, atestados, receitas, afastamento. Tudo comprovando as razões do pedido”, destacou.

O sargento ficou conhecido nas redes sociais após assumir um trisal com a mulher, também sargento da PM, Alda Nery, e a administradora Darlene Oliveira. Os três moravam na cidade de Brasileia, no interior, e há alguns meses a sargento fazia tratamento psicológico, quando o casal voltou a gerar polêmica ao surgir boatos de separação.

No dia 31 de janeiro, a defesa do militar já tinha entrado com um pedido para que a prisão preventiva fosse convertida em domiciliar ou em monitoramento por tornozeleira eletrônica. O pedido foi negado pelo Poder Judiciário. O MP-AC chegou a se manifestar contrário ao pedido da defesa do militar.

A advogada do militar entrou, novamente, com um pedido de revogação de prisão em março, mas a juíza de direito Joelma Ribeiro decidiu pela manutenção da prisão.

Denúncia

Em fevereiro desse ano, a Justiça aceitou a denúncia do MP-AC contra o sargento. Nery responde pelos crimes de tentativa de homicídio qualificado por motivo fútil e recurso que impossibilitou a defesa da vítima, porte irregular de arma de fogo de uso permitido e por lesão corporal de natureza grave.

A denúncia do MP-AC, assinada pelo promotor Rodrigo Fontoura de Carvalho, foi feita à Justiça no dia 18 de janeiro. Na decisão, a magistrada deu um prazo de 10 dias para a defesa do militar responder às acusações.

O sargento também já responde a um processo por ter matado um adolescente de 13 anos em 2017, quando o menino tentou furtar a casa dele. Mais de quatro anos após o crime, o policial ainda não foi julgado. O MP fez a denúncia em julho do ano passado pelos crimes de homicídio e fraude processual e a denúncia foi aceita um dia depois pela Justiça.

Inquérito desmembrado

No decorrer das investigações, a polícia percebeu que seria necessário também investigar a sargento da PM-AC e esposa de Nery, Alda Radine. Por isso, o inquérito foi desmembrado e instaurado um outro procedimento para apuar a conduta da militar por fraude processual, lesão corporal e denunciação caluniosa.

“No decorrer do inquérito, como vimos que a arma permaneceu com a Alda no final dos vídeos, teve também uma requisição judicial para apurar a conduta dela. Somado também à questão de ela ter feito agressões contra a vítima que já estava desfalecida no chão, conforme as imagens, e ainda nós termos constatado que a denúncia que ela fez foi falsa, quando disse que a vítima a teria importunado sexualmente e isso não aconteceu. Então, desmembramos o inquérito”, disse a delegada Carla Ívane, que presidiu as investigações.

Outro ponto que a polícia precisava solucionar era em relação ao paradeiro da arma utilizada pelo sargento Nery no crime. No dia em que foi preso e ouvido, o militar ficou em silêncio sobre a arma. Ele e a esposa estavam afastados dos cargos por questões de saúde e as armas institucionais foram recolhidas.