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Polícia

Policiais penais já tinham pedido retirada de armas de dentro do presídio no AC onde aconteceu rebelião

Policiais penais já tinham pedido retirada de armas de dentro do presídio no AC onde aconteceu rebelião

Grupo de servidores procurou o g1 para denunciar que Segurança Pública já teria tido acesso a informações que apontavam para uma rebelião no presídio de Segurança Máxima

Quase 20 dias depois de presos fazerem rebelião no único presídio de segurança máxima do Acre, Antônio Amaro Alves, o g1 recebeu denúncia de servidores da unidade que aponta que a inteligência da Secretaria de Justiça e Segurança Pública (Sejusp) tinha tido acesso a áudios e outros materiais que mostravam o plano de uma possível tentativa de fuga no presídio, porém, ignorou as informações.

Por medo de represálias, o grupo prefere não se identificar, mas, segundo alegações desses servidores, havia material mostrando que um dos grupos criminosos estava tentando uma fuga massa. Além disso, os servidores falam de outros pontos, como, por exemplo, a sala de armas onde os presos tiveram acesso até a fuzis. Segundo a denúncia, vários policiais penais teriam alertado e até pedido a retirada de armas do local, o que não foi feito. Os presos tiveram acesso a 15 armas no dia da rebelião.

Segundo as informações, as chapas de ferro também foram serradas, o que não teria como ser feito apenas em um dia. Segundo os denunciantes, os presos agiam há mais tempo comprometendo a estrutura, o que apontaria uma falha na segurança e vistoria dentro da unidade.

Outro ponto é que as lâmpadas que haviam queimado naquele pavilhão não foram trocadas, dificultando, inclusive a visibilidade do vídeo que mostra o início da ação dos presos.

“A Segurança já sabia, já tinham interceptado áudios que apontavam para essa tentativa de fuga. Além disso, os policiais escreviam relatórios pedindo a retirada do paiol de dentro do presídio, porque era um risco permanente”, aponta a denúncia.

Na ação, um policial penal foi ferido no olho e um segundo foi mantido refém por 24 horas. Cinco presos foram mortos e, destes, três foram decapitados. A Sejusp trata o caso como uma tentativa de fuga com tomada de reféns. Porém, foi levantada a hipótese de uma facção ter arquitetado a rebelião para matar membros de um grupo rival.

O que diz a Sejusp

O delegado Marcos Frank, diretor operacional da Sejusp, disse não ter conhecimento das alegações. Apenas reforçou que há dois inquéritos abertos investigando o que houve.

“Há dois inquéritos sob presidência da Polícia Civil e as investigações ficam a cargo da Polícia Judiciária. Não temos conhecimento de nenhum tipo de denúncia nesse sentido. Existe uma investigação capitaneada pela Polícia Civil e deve chegar a um deslinde em um futuro bem próximo”, disse.

A assessoria da Sejusp informou que todo o relatório de inteligência produzido é uma compilação de todos os informes de várias e diversas fontes. Destacou ainda que não tem informações sobre o pedido de retirada de armas.

“Que se constituem: da coleta, análise e interpretação de dados, nominado ‘produção de conhecimento’. A partir daí é feito o documento chamado: relatório de inteligência, no qual é repassado para todos os núcleos, diretorias e unidades das forças de Segurança Pública que compõem ao Sistema Integrado. As instituições de posse dessas informações tomam as medidas que acharem pertinentes para resolver os problemas e contrapor qualquer ato criminoso”, diz à nota assinada pelo secretário da Sejusp, Américo Gaia.

Ele destaca ainda que qualquer informação obtida pela diretoria de Inteligência da Sejusp é repassada aos órgãos do Sistema Integrado de Segurança Pública.

“Quanto às ocorrências ou problemas estruturais ou administrativos, é de responsabilidade de cada instituição, não chega até a Sejusp essas informações, uma lâmpada queimada é resolvida pela administração do Iapen. Medidas administrativas são de cunho da própria instituição”, disse.

Exonerações

Apesar de não passar muitos detalhes sobre as investigações, o governo do Acre publicou, no começo deste mês, a exoneração de Glauber Feitoza Maia, que ocupava o cargo de presidente do Instituto de Administração Penitenciária do Acre (Iapen-AC). Ele ficou mais de 1 ano e três meses à frente do instituto.

Na mesma edição do Diário Oficial do Estado, também saiu a demissão do diretor executivo operacional do Iapen, Marcelo Lopes da Silva. Nomeado no dia 19 de janeiro deste ano, ele ficou mais de seis meses no cargo.

Para ocupar o cargo que Feitoza ocupava, Cameli nomeou Alexandre Nascimento de Souza. Como diretor operacional, quem responde agora é Tiênio Rodrigues da Costa. As exonerações ocorreram nove dias após a rebelião do presídio.

Vídeo

Imagens das câmeras internas do Presídio de Segurança Máxima Antônio Amaro, em Rio Branco, mostram o momento em que presos de um pavilhão saem da cela, rendem o detento que ajudava a servir a refeição, um policial penal e iniciam a rebelião. O vídeo viralizou nas redes sociais no dia 31.

O vídeo mostra que era 11h03 do dia 26 de julho, quando os detentos deixaram as celas. Primeiro aparece nas imagens um policial penal entregando as marmitas e caminha em direção ao final do pavilhão. A primeira informação é de que a rebelião teria começado às 9h30.

Logo depois, um preso, que é chamado de faxineiro e fica solto no pavilhão auxiliando os policiais, aparece carregando mais marmitas, quando dois detentos saem das celas - um corre em direção ao policial penal e outro ao faxineiro.

O detento que estava com as marmitas é puxado pelo pescoço pelo rebelado e depois empurrado até a grade para que outro preso o segure por trás enquanto o comparsa sai correndo. Neste momento, é possível ver que o preso que está dentro da cela já parece estar armado, pois nas imagens é possível ver um clarão quando ele aponta a mão para a fora.

A rebelião

A rebelião na unidade de segurança terminou apenas na quinta (27) após mais 24 horas. Com pausa, a negociação com os presos que mantinham um policial penal refém, durou cerca de 16 horas. Cinco presos, que seriam de uma facção rival aos rebelados, foram mortos no conflito. Destes, três tiveram a cabeça arrancada.

Um policial penal foi atingido ainda com um tiro de raspão no olho e um preso levou um tiro no braço. A Secretaria de Justiça e Segurança Pública do Acre (Sejusp) iniciou uma investigação para descobrir todas as causas da situação. A pasta trata o caso como uma tentativa de fuga no presídio.

Dois inquéritos foram abertos pela Polícia Civil para investigar como foi a dinâmica da rebelião dentro do presídio de segurança máxima.

Há duas possibilidades de motivação: a que a Secretaria de Justiça e Segurança Pública (Sejusp) divulgou oficialmente é de houve uma tentativa de fuga de 13 presos, que foram contidos e, por conta disso, teria mantido reféns para garantir as negociações.

Há também uma versão de que a facção criminosa que orquestrou a rebelião queria apenas entrar no pavilhão da grupo criminoso rival e matar os integrantes para demonstrar poder na guerra por territórios.

O Presídio de Segurança Máxima Antônio Amaro Alves existe há 15 anos e tinha 99 presos, segundo o Instituto de Administração Penitenciária do Estado do Acre (Iapen-AC). Os tipos de presos são aqueles que exercem poder de chefia nos grupos criminosos que fazem parte. Os grupos criminosos são separados por pavilhões.

Toda a dinâmica e motivação devem ser esclarecidas nos inquéritos abertos pela Polícia Civil. O primeiro vai ser conduzido pela Delegacia de Homicídios e Proteção a Pessoas (DHPP) e o outro conduzido pelo Departamento Técnico-Científico, onde será possível traçar como iniciou a rebelião dentro da unidade.

Os inquéritos têm 30 dias para serem concluídos.