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Polícia

PF quer saber se ex-chefe de gabinete do governador presa em operação tem acesso a regalias em presídio no AC

Comando da PM nega e Sejusp diz que não tem conhecimento. Rosângela da Gama Pereira Pequeno foi presa preventivamente no dia 22 de dezembro e levada ao Bope

A Polícia Federal questionou o Comando da Polícia Militar e a Secretaria de Segurança Pública sobre supostas regalias dadas a ex-chefe de gabinete do governo do Acre, Rosângela da Gama Pereira Pequeno, que está presa na unidade prisional que fica no Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope).

As denúncias apontam que a ex-chefe de gabinete teria acesso à internet e televisão, mesmo estando presa. Após as supostas regalias repercutirem localmente, a Polícia Federal encaminhou ofício pedindo explicações.

Ela foi presa preventivamente no dia 22 de dezembro na 2ª fase da Operação Ptolomeu, da Polícia Federal, que investiga supostos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro por membros ligados ao governo do Acre.

Além das supostas regalias, também há um questionamento sobre o porquê de Rosângela estar presa no Bope, uma vez que não faz parte das Forças Armadas ou da Segurança Pública.

O estado tem três batalhões da Polícia Militar que são usados para atender policiais que cumprem penas por processo criminais e também usados para prisões que precisam de recolhimento de Estado-Maior e o Bope é um deles.

Ao g1, o comandante da Polícia Militar, coronel Paulo Cesar Gomes da Silva, negou que Rosângela tenha qualquer tipo de cela especial e afirmou que ela está reclusa no Bope após sua defesa entrar com um pedido.

“Foi feito um pedido pela defesa dela, ela tem nível superior e o Bope é uma unidade prisional, temos outros presos. Então, foi feito o pedido pelo advogado dela, nós analisamos a questão até de saúde, vimos que tinha condições e ela foi trazida, mas sem regalia nenhuma, sem televisão, sem internet, em local fechado com grade. Nós respondemos à Polícia Federal na semana passada e, se entenderem que aqui não tem condições, ou o próprio Ministério Público Federal, é só fazer a transferência dela para outra unidade”, afirmou o comandante.

Internada

Rosângela passou mal há alguns dias e foi levada pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) ao Instituto de Ortopedia e Traumatologia do Acre (Into-AC) e, atualmente, está internada no Hospital Santa Juliana com Covid-19. Ainda segundo o coronel, uma escolta da Polícia Militar acompanha a presa.

A direção do hospital informou que Rosângela está em observação na enfermaria da unidade, mas está bem e que tem previsão de alta médica em breve.

O secretário de Segurança Pública do Acre, Paulo Cézar, também foi questionado pela Polícia Federal e, ao g1, informou que não tinha conhecimento, sequer, do local onde Rosângela estava reclusa e negou qualquer intervenção da Sejusp.

“Não houve intervenção da secretaria no sentido de alterar regime de prisão, nem tampouco garantir benefícios. Por sinal, desde o início da gestão, em 1 de janeiro de 2019, nunca houve qualquer contato da secretaria ou secretário com qualquer diretor de unidade prisional ou comandante de unidade nesse sentido. Para se ter uma ideia, nós não sabíamos nem onde se encontrava a custodiada, para se ver o nível de intervenção da Secretaria. Já oficiamos a Polícia Federal dando ciência, bem como o Comando da Polícia Militar solicitando informações a fim de tomar providências a respeito”, afirmou o secretário.

Celas sem portas e presos sem escolta

A UP7 é composta por três estruturas, sendo uma instalação no Batalhão de Operações Especiais (Bope), outra no Batalhão Ambiental e a última em Cruzeiro do Sul, na Companhia de Operações Especiais (COE).

Em dezembro do ano passado, o Grupo de Monitoramento e Fiscalização do Sistema Carcerário (GMF) do Tribunal de Justiça do Acre (TJ-AC) fez uma vistoria nessas unidades em Rio Branco, onde constatou que a maioria dos presos andava livremente e estava em celas sem portas ou grades. No Bope, segundo nota do TJ, a maioria deles não é de policiais e sim de civis.

Segundo a nota, os magistrados se depararam com presos circulando livremente pela área do batalhão sem escolta policial. Inclusive, um dos presos usava um “smart watch”, que foi apreendido.

Na época, o presidente do Instituto de Administração Penitenciária do Acre (Iapen-AC), Arlenilson Cunha, disse que há um impasse, uma vez que, apesar de as unidades serem ligadas ao sistema prisional do estado, são geridas pela Polícia Militar.

Operação Ptolomeu

A operação Ptolomeu investiga supostos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro por membros ligados ao governo do Acre. A Polícia Federal, com apoio da Controladoria-Geral da União (CGU), deflagrou, no dia 16 de dezembro, a primeira fase da operação, quando foram cumpridos 41 mandados de busca e apreensão e um mandado de prisão no Acre, Amazonas e Distrito Federal.

Já na 2ª fase, a Polícia Federal disse que foi detectado que servidores públicos, entre as quais Rosângela, estavam obstruindo a investigação, na tentativa de destruir provas essenciais para a continuidade das apurações, após a deflagração da 1ª fase. Um vídeo, que a Rede Amazônica teve acesso com exclusividade, mostra as investigadas ocultando celulares durante a deflagração da 1ª fase da ação.

A exoneração de Rosângela saiu no Diário Oficial de 24 de dezembro. O governo não citou o nome da investigada, apenas usou o número do primeiro decreto.

Defesa não se posiciona

Tanto sobre o vídeo, como da exoneração, o governo do estado informou que não se posicionaria. O g1 entrou em contato com o advogado de defesa da ex-coordenadora, Marco Antonio Palácio Dantas, nesta sexta-feira (28) e ele disse que não se posiciona sobre o caso, por se tratar de um processo em segredo de Justiça.

Sobre a segunda fase da operação, o governo do Acre disse, por meio de nota, que “o governador Gladson Cameli mais uma vez manifesta respeito, bem como colabora com todos os passos da investigação, de modo que fique esclarecido que o governo sempre agiu dentro da legalidade e do interesse público.”

A PF apreendeu mais de R$ 3,4 milhões entre dinheiro e bens de investigados

  • Seis veículos, estimados em R$ 1,7 milhão;
  • R$ 600 mil em espécie, entre dólares, euros e reais;
  • 33 relógios e 10 joias de alto valor, totalizando mais de R$ 1 milhão, aproximadamente;
  • R$139 mil reais em celulares apreendidos.

policia federal 002 webOperação Ptolomeu: PF apreende mais de R$ 3,4 milhões entre dinheiro e bens de investigados no AC — Foto: Divulgação/Polícia Federal-AC

O apartamento do governador do estado, Gladson Cameli (PP) foi um dos locais onde as buscas foram realizadas. Além disso, os policiais estiveram no escritório do governador; Palácio Rio Branco e Casa Civil. Além do governador, servidores públicos do Acre e familiares do gestor em Manaus (AM) foram alvos da operação.

policia federal 003 webSaiba quem são os alvos de operação da PF contra cúpula do governo do Acre — Foto: Reprodução

Saiba quem são os alvos:

  • Ana Paula Correia da Silva Cameli: esposa do governador e que seria uma das beneficiárias do esquema. Atualmente, ela está proibida de acessar repartições de órgãos públicos estaduais e de manter contato com demais investigados.
  • Anderson Abreu de Lima: tio do governador e secretário de Estado de Ciência e Tecnologia no Acre. Ele é representante legal de uma das contas bancárias do governador. Atualmente afastado do cargo, também está proibido de acessar repartições públicas estaduais e de manter contato com os demais investigados.
  • Rosângela da Gama Pereira Pequeno: ex-coordenadora de gabinete do governador e também representante legal de uma das contas bancárias de Gladson Cameli. Ela foi presa após aparecer em um vídeo escondendo um celular da PF, sendo exonerada um dia depois. Ela segue presa em Rio Branco.
  • Rafael Batista Vieira: ocupa cargo comissionado no Senado Federal no gabinete da suplente de Gladson Cameli, além de ser um dos procuradores da conta corrente do governador.
  • Sebastião Da Silva Rocha: funcionário de confiança de Gladson Cameli há quase duas décadas e era lotado no escritório regional do Governo do Acre em Brasília. Já efetuou depósitos em espécie na conta pessoal do governador, além de ter utilizado seu irmão (policial militar) para efetuar pagamentos do cartão de crédito do mesmo, segundo as investigações. Atualmente está afastado das funções.
  • Amarildo Martins Camargo: chefe de segurança do governador, seria o responsável pelo transporte de R$ 70 mil em espécie para negociação de veículo. Segundo a PF, há fortes indícios de uso da função pública armada em prol de interesses privados do governador. Atualmente ele está afastado do cargo e proibido de manter contato com o governador.

Além disso, houve a prisão de Rudilei Estrela, por tentar interferir e influenciar testemunhas durante a investigação. Ele foi solto no dia 26 de dezembro, após vencer o prazo de prisão temporária.

Mandados cumpridos no Amazonas

  • Eladio Messias Cameli, pai do governador;
  • Gledson de Lima Cameli, irmão do governador;
  • Construtora Rio Negro
  • Construtora Etam
  • Marmud Cameli & Cia Ltda

Eladio Messias Cameli, pai do governador e sócio da Construtora Etam Ltda, aparece como receptor de altos valores. Segundo a PF, nos oito primeiros meses da gestão de Gladson Cameli, foram depositados ao pai dele mais de meio milhão de reais. O irmão do governador, Gledson Cameli, também aparece como um dos beneficiados de algumas movimentações.

Investigação

Segundo a investigação da PF do Acre, o grupo, formado por empresários e por agentes públicos ligados à gestão estadual, aparelhou a estrutura do governo para cometer crimes de corrupção e lavagem de dinheiro, desviando recursos públicos e ocultando a destinação dos valores.

A PF não especificou quais são as suspeitas que recaem sobre o governador, nem especificou quais são os crimes imputados a cada um dos investigados.

A CGU apurou que as empresas envolvidas têm diversos contratos com o governo acreano. Parte deles envolve convênios federais e repasses relacionados ao Sistema Único de Saúde (SUS) e do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (FUNDEB). Não foram especificados quais contratos são considerados suspeitos.

Durante a investigação, foram identificadas diversas transações financeiras suspeitas em contas correntes, pagamentos de boletos de cartão de crédito, transações de imóveis de alto valor e aquisições de veículos de luxo por valores mais baixos do que os de mercado. Também foi verificado que o grupo frequentemente movimentava grande quantidade de dinheiro em espécie, inclusive com uso do aparato de segurança pública do estado.

Além dos mandados de prisão e de busca e apreensão, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) determinou o bloqueio de cerca de R$ 7 milhões nas contas dos investigados, além do sequestro de carros de luxo comprados com os recursos desviados do governo. Também foi determinado pelo STJ que os investigados sejam proibidos de acessar órgãos públicos e de fazer contato entre si.