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Polícia

Mais de 80% dos moradores de Rio Branco não se sentem seguros, aponta pesquisa do MP

Mais de 80% dos moradores de Rio Branco não se sentem seguros, aponta pesquisa do MP

Medo das facções corresponde 50,4% das respostas das pessoas, seguida do medo de furto/roubo com 47,3% e sair à noite, 32,5%

Uma pesquisa feita pelo Ministério Público do Acre (MP-AC), por meio da Promotoria Especializada de Tutela do Direito Difuso à Segurança Pública revelou que 82,3% dos moradores de Rio Branco vivenciam uma sensação constante de insegurança. Os resultados destacam alguns fatores que contribuem para esse sentimento, sendo o medo das facções criminosas a principal preocupação, apontado por 50,4% dos entrevistados.

A pesquisa, conduzida no período de 2019 a 2022, abordou diversos aspectos relacionados à Segurança Pública, incluindo a confiança nas instituições, percepções de segurança e dados socioeconômicos. Ao todo, foram aplicados 385 questionários.

Somente 17,7% dos moradores entrevistados disseram que se sentem seguras na capital acreana.

A percepção de segurança da população foi obtida por meio de perguntas relacionadas ao medo das pessoas com alguns aspectos da criminalidade, qual a satisfação delas com respeito à segurança pública e se elas se sentem seguras em Rio Branco.

Conforme os dados, o medo das facções foi identificado como o fator preponderante, seguido por receios de furto/roubo (47,3%) e temor ao sair à noite (32,5%). As pessoas que disseram não ter medo de nada representam apenas 1,8% da população pesquisada. A constante guerra entre facções tem deixado um rastro de violência em bairros da capital e no interior do estado.

O nível de satisfação da população em relação à Segurança Pública também foi mensurado na pesquisa do MP-AC. Ao todo, 31,7% disseram que estão totalmente insatisfeitos com a atuação dos órgãos, 20,3% estão insatisfeitos. Somando esses valores, têm-se 52% das pessoas estão insatisfeitas com a segurança.

As pessoas que são neutras representam 27,3% da amostra. Cerca de 20,7% das pessoas estão satisfeitas com a segurança pública em Rio Branco.

“A insatisfação das pessoas nas instituições de segurança pública pode estar ligada a diversos fatores, mas os principais são: a falta de resolução dos crimes, principalmente, furto/roubo e homicídios, demora no atendimento no momento de denunciar um crime. Muitos crimes reportados à polícia não se tornam inquérito policial”, pontua o órgão no relatório.

Confiança na polícia e instituições

A pesquisa abordou a confiança nas instituições públicas, revelando que, apesar dos desafios, a população confia na Polícia Federal, Ministério Público e Defensoria Pública. No entanto, a confiança na Polícia Civil e Militar é menor, indicando a necessidade de fortalecimento dessas instituições.

Quanto ao nível de confiança das pessoas na Polícia Civil, 15,8% dos entrevistados não têm nenhuma confiança, 13,8% têm pouca confiança, o que evidencia que 29,6% das pessoas não confiam no trabalho da organização. O nível de confiança é de 43,6%.

Para o MP-AC, a falta de confiança nessa instituição pode ser reflexo de experiências pessoais ou com pessoas próximas.

Para a Polícia Militar, os que não têm nenhuma confiança são 16,1% e 15,6% têm pouca confiança na instituição de segurança. Já os que confiam nos militares representam 43,7%.

A Polícia Federal aparece como uma das mais confiáveis na opinião dos entrevistados, apenas 16,4% disseram não confiar no trabalho da instituição e 65,5% confiam de alguma forma.

A pesquisa traz ainda resultados quanto ao nível de confiança no Ministério Público do Estado do Acre (MP-AC) e na Defensoria Pública do Estado do Acre, instituições que atuam na defesa dos direitos difusos dos indivíduos.

Em relação ao MP-AC, 26,2% disseram que não confiam na instituição. As pessoas que confiam somam 52,2%. Quando questionados sobre a Defensoria Pública do Acre, 17,9% afirmaram que não têm nenhuma confiança, 9,6% pouca confiança, 16,6% confiam e 29,6% confiam totalmente.

Também foi perguntado aos participantes qual o nível de confiança no Tribunal de Justiça do Acre (TJ-AC), 13,0% não têm nenhuma confiança no órgão e 12,5% disseram que confiam pouco. Os que confiam representam 48,8% de confiança.

Em relação ao Corpo de Bombeiros Militar do Acre, a maioria das pessoas confia plenamente na instituição, 80,8% dos entrevistados confiam e apenas 8,1% disseram não ter nenhuma ou pouca confiança no órgão.

Uso de armas por policiais de folga

A pesquisa também questionou a população sobre o uso de arma de fogo por policiais de folga em locais de aglomerações e que fazem uso de bebida alcoólica. Entre os locais citados na pesquisa estão: baladas, boates, bares, vias públicas, festas privadas e chácaras.

Cerca de 96,1% dos entrevistados disseram que os policiais não podem usar arma de fogo nesses locais.

Para os moradores da capital, a combinação entre arma de fogo e bebida alcoólica é perigosa. “É claro que essa máxima não vale apenas para os agentes de segurança pública, qualquer pessoa que anda armada não poderia consumir bebida alcoólica em locais de aglomerações”, destaca o relatório.

Em agosto deste ano, o deputado Adailton Cruz (PSB) informou, durante discurso na Assembleia Legislativa do Acre (Aleac), que pretende apresentar um projeto de lei para proibir que agentes de segurança pública portem armas em locais onde ocorrem festas.

Na época, o parlamentar disse que estava trabalhando na elaboração do projeto e citou um caso recente em que o jovem Wesley Santos da Silva, de 20 anos, morreu após ser baleado pelo policial penal e ex-diretor do presídio de Senador Guiomard, Raimundo Nonato Veloso da Silva Neto, durante a Expoacre.

Em outubro, em meio a polêmicas envolvendo policiais armados em festas e locais de aglomeração, o Instituto de Administração Penitenciária do Acre (Iapen-AC) publicou um decreto que regulamenta o porte de armas por policiais penais.

O documento foi publicado no Diário Oficial do Estado e reúne uma série de diretrizes que regem os direitos e deveres dos profissionais que atuam no sistema carcerário do estado em relação ao acesso a armas de fogo.

Dados socioeconômicos

O estudo detalha aspectos socioeconômicos, evidenciando que a maioria dos entrevistados é mulher (54,8%), evangélica (56,1%), de raça/cor parda (64,4%), com renda familiar entre um e dois salários mínimos (51,4%) e residentes em bairros impactados pelo domínio de facções.

“A renda possui um efeito ambíguo: ao mesmo tempo em que a vítima se torna mais economicamente atrativa, a mesma possui meios financeiros para se proteger de possíveis crimes. Sendo assim, quanto menor a renda das pessoas maiores as chances de serem vítimas de roubo e furto. Os resultados mostram que das pessoas que sofreram algum tipo de crime, 19,6% tinham renda familiar menor que um salário mínimo e 46,1% a renda familiar estava entre um e dois salários. Se for considerada a renda entre meio salário e dois salários mínimos, a porcentagem é de 65,7% das vítimas”, diz trecho do relatório.