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Polícia

Justiça do Acre nega liberdade a suspeito de mandar matar ex-prefeito Gedeon Barros

Justiça do Acre nega liberdade a suspeito de mandar matar ex-prefeito Gedeon Barros

Defesa de Carmélio da Silva Bezerra alegou no pedido que a liberdade do cliente não oferece risco à ordem pública e por ele ter problemas de saúde. Carmélio e Mazinho Mariano foram presos em dezembro do ano passado durante operação policial

A 1ª Vara do Tribunal do Júri da Comarca de Rio Branco negou um pedido de liberdade para Carmélio da Silva Bezerra, preso desde 20 de dezembro do ano passado e apontado como um dos mandantes da morte do ex-prefeito de Plácido de Castro Gedeon Barros. A defesa do suspeito pediu o relaxamento ou a revogação da prisão alegando que a liberdade do cliente não oferece risco e também por ele enfrentar problemas de saúde.

Contudo, conforme a Justiça, esses problemas não são especificados e nem confirmados com laudos e relatórios médicos. “Não há nos autos qualquer laudo médico que embase ou justifique a necessidade de conversão da preventiva em prisão domiciliar, apenas fotos e prints desconexos, sem contexto ou documentação médica (...)”, diz parte da decisão.

Carmélio Bezerra e Liomar de Jesus Mariano, mais conhecido como Mazinho Mariano, foram presos em Plácido de Castro, interior do Acre, e na Estrada Transacreana, zona rural de Rio Branco, no dia 20 de dezembro. A operação policial ocorreu em três cidades acreanas. Um terceiro envolvido, que já estava preso, também foi alvo da ação.

No processo, a Justiça destaca que um dos envolvidos fez uma delação premiada e entregou os demais suspeitos do crime. Segundo o delator, ‘os mandantes do crime seriam um agiota residente do município de Plácido de Castro e um boliviano, em virtude de uma dívida que a vítima teria com estes’.

Ainda de acordo com o relato do suspeito, Carmélio da Silva Bezerra, vulgo Véio, e Liomar de Jesus Mariano, vulgo Mazinho, que em conformidade com o declarado pelo delator estavam presentes em várias oportunidades durante as reuniões de planejamento do crime’.

O delator diz também que a ideia inicial era de que crime parecesse um latrocínio, roubo seguido de morte, para que a polícia não chegasse aos mandantes.

Ao analisar o pedido de soltura para Carmélio Bezerra, o juiz de Direito Danniel Gustavo Bomfim destacou que o ‘pedido da “pena restritiva de liberdade” formulado pelo advogado não encontra qualquer lógica nesse momento, eis que se trata deprisão provisória e estando os autos ainda em instrução, não havendo qualquer pena imposta, apesar do que alega o requerente’.

Além disso, o magistrado destaca a gravidade do crime e a garantia de manter a ordem pública.

“Diante desse panorama até então obtido pela investigação, evidente a presença do pressuposto da garantia da ordem pública, pois a motivação acima exposta em que denota-se o alto poder financeiro dos criminosos, por si só, causa insegurança, temor e instabilidade na sociedade visto que o alto grau de premeditação e planejamento do crime em tela demonstra terem os mesmos experiência e influência no cenário criminoso, detendo de meios suficientes a, inclusive, determinar uma tentativa de assassinato dentro de um estabelecimento criminal apenas com o intuito de queimar o arquivo vivo, que é o delator”, diz.

A reportagem não conseguiu contato com a defesa de Carmélio Bezerra.

caso gideon 002Gedeon Barros foi morto dentro do carro — Foto: Eldérico Silva/Rede Amazônica Acre

Vítima devia dinheiro para ex-secretário de esportes

De acordo com o processo, Gedeon devia R$ 130 mil Mazinho Mariano, um dos presos pela Polícia Civil. Mazinho era aliado político de Gedeon, tendo, inclusive, disputado as Eleições 2020 como candidato a vice na chapa do ex-prefeito.

O suspeito também atuou como secretário de esporte de Plácido de Castro. Em fevereiro de 2021, três meses antes de Gedeon ser assassinado a tiros em Rio Branco, Mazinho entrou com uma ação monitória na Justiça contra o ex-prefeito e a mulher dele, Maria Lúcia Dias da Silva Barros.

No processo, Mazinho Mariano alegou que o casal devia R$ 102.620,37, decorrentes de negociações relativas à compra e venda de produtos entre eles em 2017 e tendo uma nota promissória entregue para ele como garantia de pagamento.

Em 2021, com valores atualizados, a dívida chegou em R$ 166.312,48, tendo o ex-prefeito e esposa pagado R$ 36.312,48. Mazinho destaca no processo que tentou receber os valores ao longo dos anos, contudo, o casal pediu mais prazo para pagar a dívida, alegando que tinha o dinheiro em forma de bens.

Ainda segundo o processo, o suspeito resolveu entrar na Justiça porque o casal começou a se desfazer de alguns bens móveis para, supostamente, não pagar a dívida. De imediato, Mazinho entrou com um pedido de liminar e de apreensão de um veículo do casal para tentar conseguir alguma parte do pagamento.

Segundo o processo, Gedeon Barros começou ‘transferindo um imóvel que lhes pertenciam a um cunhado, bem como a empresa onde o executado Gedeon de Souza Barros se mostra inapta por omissão de declaração. Ainda possuem um veículo, marca Toyota Hillux, que se encontra em mãos de terceiro, para demonstrar a inexistência de bens passíveis de saldar a dívida’.

O pedido de liminar do ex-secretário foi negado pela Justiça na época, contudo, a ação seguiu os trâmites.

Prisão suspeitos

A operação contou com apoio do Centro Integrado de Operações Aéreas (Ciopaer) para a prisão do suspeito em local de difícil acesso na Transacreana.

“A investigação não finalizou, mas estamos muito próximos dessa conclusão. Hoje, temos duas pessoas presas pela execução. No dia de hoje [quarta, 20] foram 6 mandados de prisão, e três foram cumpridos. Outros três são de autores intermediários, que auxiliaram na logística, com empréstimo de motocicleta, da arma de fogo. Esses estão foragidos e a gente vai trabalhar para localizá-los e cumprir esses mandados de prisão”, explicou o delegado Alcino Júnior, responsável pelas investigações.

Ainda conforme Júnior, a motivação do crime foi uma disputa comercial entre parceiros de negócios do ex-prefeito.

O delegado afirmou que os responsáveis pelo planejamento do crime eram pessoas do convívio de Gedeon, e que contrataram a dupla que perseguiu e efetuou o disparo que tirou a vida do ex-prefeito. Ele também disse que os valores pagos na execução do plano ainda estão sendo investigados.

“A motivação, ao que nos parece, foi um desacordo comercial, societário, entre a vítima e os responsáveis pelo planejamento do crime, por negociações que mantinham durante e após o mandato dele [Barros]. Ainda é preciso aprofundar nesse aspecto. Houve a contratação de duas pessoas, que utilizaram uma motocicleta, monitoram o ex-prefeito, o seguiram e quando tiveram oportunidade efetuaram disparo único para causar sua morte e se evadiram do local”, acrescentou.

Na coletiva, o delegado-geral de Polícia Civil, José Henrique Maciel, ressaltou a complexidade da investigação e disse que os próximo passo será chegar aos mandantes e intermediários.

“Até uns meses atrás, tínhamos apenas os executores, mas quem tinha planejado, dado a ordem, e qual tinha sido a motivação, foi a complexidade da investigação. Se tivéssemos parados apenas nos executores, apresentaríamos só quem participou naquele dia. Mas, a gente tem que entender o porquê de tudo isso. E é isso que estamos finalizando no inquérito, mas já avançamos muito. Há muitas pessoas que não estavam lá, mas participaram do crime”, destacou Maciel.

Mazinho se diz inocente

O advogado Wellington Silva confirmou que Mazinho Mariano e Gedeon eram amigos e ele colaborava com as investigações desde o início. Ainda segundo a defesa, Mazinho apresentou dados bancários, telefônicos e outros solicitados pela polícia ao longo das investigações.

A defesa alega que Mazinho é inocente e chamou a prisão de injusta.

“Inclusive, apresentamos petições pedindo oitivas e depoimentos para que o Mazinho pudesse colaborar no que fosse necessário. Nos disponibilizamos para apresentar o celular dele voluntariamente para que fosse periciado, quebra de sigilo bancário, telefônico, apresentamos tudo. Então, essa prisão é totalmente absurda porque era investigado colaborador. Ele soube que o nome era investigado na imprensa e por conversas no município, então, já me constituiu e começamos a colaborar no inquérito, o delegado anterior tinha uma linha de raciocínio que tinha o Mazinho como colaborador. Fomos surpreendidos com essa prisão preventiva. Ele é inocente, é uma prisão de um inocente, injusta. Vamos provar isso”, afirmou.