Luiz Henrique Teles quebrou as duas pernas ao cair de passarela durante salto. Corpo de Bombeiros diz que equipamento estava sem condições de uso
Internado no Pronto-Socorro de Rio Branco, o atendente de mercado Luiz Henrique Teles, de 18 anos, que quebrou as pernas ao saltar de uma passarela em Rio Branco durante a prática de pêndulo, conversou com o G1.
Ainda sem conseguir mexer as pernas, ele relatou o momento do acidente e como saiu da água para pedir socorro. Segundo Luiz Teles, ele não recebeu qualquer assistência do grupo que negociou o salto. O responsável por vender o salto nega.
“Colocamos um negócio [equipamento], o instrutor falou como devia ser e mandou pular. Pulei e, quando a corda esticou, já cai. A sorte foi que caí na água, mas o impacto foi tão forte que quebrou minhas duas pernas”, relembrou.
O rapaz mora em Porto Velho (RO) e tinha chegado na capital acreana no sábado (5) para visitar a mãe e outros familiares que moram no Acre. No domingo, ele saiu para dar uma volta no Centro com o irmão e ao passar pela passarela viu as pessoas saltando do pêndulo.
Ele e o irmão resolveram encarar a aventura e pagaram R$ 10 pelo salto. Segundo Teles, ele saltou da passarela junto com o irmão e um instrutor, em uma mesma corda. Uma falha no equipamento teria causado a queda dele dentro do Rio Acre.
Teles passou por cirurgia e segue internado sem previsão de alta médica.
Os irmãos chegaram a tirar uma foto com o instrutor antes do salto. Um vídeo gravado no local mostra os irmãos recebendo orientações e pulando da passarela. As pessoas se assustam quando não vêem Teles perdurado pela corda.
Queda
A queda foi tão rápida e repentina, segundo ele, que não deu tempo de pensar em nada, só sentiu o impacto na água. Teles caiu de uma altura aproximada de 13 metros.
“Estava com defeito, só que ninguém percebeu. Quando esticou a corda quebrou. Não deu para ouvir nada, tinha muita gente gritando, tinha muita gente. Caí na água e já não senti minhas pernas, bati os braços. Deus me ajudou e consegui chegar na terra”, destacou.
O rapaz conseguiu nadar até às margens do Rio Acre e foi atendido por uma ambulância do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) e uma equipe do Corpo de Bombeiros do Acre.
Ao G1, o tenente Alexandre Veras, do Corpo de Bombeiros, citou algumas falhas de segurança no salto do rapaz. Uma delas foi a condição do mosquetão, equipamento que deve ser travado para impedir a queda. Porém, além das péssimas condições de uso, o mosquetão não foi travado, apenas fechado.
“O problema não foi de resistência, a corda não rompeu, o mosquetão que o jovem estava submetido não quebrou. Não teve problema de resistência, mas sim de manutenção e manuseio. O mosquetão tinha uma espécie de travamento automático, mas esse equipamento especificamente não travou. Fechou, mas não travou. Quando o jovem foi lançado, a corda desplugou do mosquetão”, afirmou o tenente.
No pêndulo, a pessoa fica presa em uma corda, salta de uma edificação e fica balançando. Veras acrescentou que as cordas não são feitas para receber impacto, mas sim para suportar tração.
“O fato de ter pulado os três, era uma coisa que não era para ter sido feita. Mas, no esporte radical a pessoa tende a querer mais e arriscar. Pra gente dizer que foi negligência precisamos ver o equipamento, mas tenho quase certeza que o equipamento não é para trabalhar dessa maneira. As cordas não são feitas para receber impacto, mas para suportar tração, não para pegar solavanco de força, que foi o que aconteceu aí”, diz.
Falta de assistência
Há três dias internado, Teles revelou que ainda não recebeu nenhuma ajuda por parte da equipe que vendeu o salto. Apenas um irmão dele foi procurado e ofertado o dinheiro de uma passagem de ônibus de volta para Porto Velho.
“Procuraram meu irmão e falaram que iam pagar só minha passagem de volta para Porto Velho, mas meu irmão não aceitou porque não é só isso que tem que fazer, estou aqui no hospital, médico falou que vou ficar uns três meses internado aqui até tirar os ferros e fazer tudo de novo. Não me ajudaram em nada, não pagaram nada, não vieram perguntar se estou bem”, lamentou.
O jovem afirmou também que se arrepende de ter saltado da passarela, mas garantiu que a culpa não foi dele. “Me arrependo demais, não sei se vou perder meu emprego, estou aqui deitado. Não consigo mexer minhas pernas, minha mãe que me dá banho. Não consigo nem sentar. Me arrependo muito, mas não foi culpa minha”, frisou.
O G1 conversou também com o vigilante e pintor Célio Lira, que diz atuar também como instrutor de salto. Ele é um dos responsáveis pelo Grupo Garra e foi ele quem vendeu o salto para Teles e o irmão dele. No Acre, segundo o Corpo de Bombeiros, não empresa legalizada para oferecer esse tipo de serviço.
Ele garantiu que já procurou a família e se colocou à disposição para ajudar no que for preciso no tratamento do rapaz.
“Entramos em contato diretamente com a mãe dele e com o irmão. Nos colocamos à disposição para ajudar no custeio do tratamento dele e necessidade. O irmão dele pediu para pagar a passagem dele para Porto Velho, repus o dinheiro e fiz o depósito. Estivemos no hospital também, mas não podemos entrar para conversar”, falou.
Salto oferecido por amigos
O Grupo Garra, segundo Lira, é composto por amigos que praticam rapel, tirolesa, pêndulo e outras atividades com o uso de cordas aos fins de semana. Célio Lira é um dos instrutores do grupo e diz que pratica saltos há 20 anos.
“Não é uma empresa, somos um grupo de amigos que se junta nos fins de semana para praticar a atividade. Nesse caso, não existe uma necessidade de alvará, não somos uma instituição financeira, a gente se junta em algum local para praticar as atividades”, argumentou.
Ainda segundo Lira, o grupo não tem fins lucrativos e o dinheiro cobrado pelos saltos é dividido entre os amigos.
“Às vezes, estamos brincando e aparece uma ou outra pessoa que quer brincar também e a gente faz, ensina e dá uma instrução para a pessoa fazer o salto. É permitido fazer esse tipo de atividade ao ar livre”, justificou.
Sobre o acidente na passarela, Lira afirmou que ainda não conseguiu entender o que aconteceu, mas que os equipamentos não têm problemas de manutenção e nem de manuseio.
“Não está enferrujado. Tem uma aparência de ferrugem devido ao contato do suor das pessoas com o aço. Dá uma aparência de ferrugem. Tenho me perguntado constantemente, não sei o que pode ter ocasionado. Nossa corda suporta até 4,2 mil quilos. Faço a instrução e todo pessoal da equipe que precisamos ter cuidado com os equipamentos, não só a corda, mas tudo. Temos todo esse cuidado e mais cuidado também com o manuseio e instrumentos”, concluiu.
Exercício ilegal
O tenente do Corpo de Bombeiros do Acre Alexandre Veras ressaltou que o grupo não tem autorização para atuar e oferecer saltos para as pessoas. Segundo ele, não há empresas no Acre formalizadas e autorizadas pelo Corpo de Bombeiros para oferecer esse tipo de atividade.
“Sobre o trabalho em altura existe uma norma reguladora que regula trabalho em altura, que seria limpeza de prédio, alpinista industrial, mas essa questão de atividade desportiva, o bombeiro não emite nenhuma autorização, até porque não existiu no Corpo de Bombeiros do Acre nenhuma empresa para formalizar nesse sentido. É uma demanda que nunca chegou”, garantiu.