Gustavo Cunha está internado em Rio Branco com traumatismo craniano após sofrer acidente em Brasileia, no último sábado (12). Família diz que médicos liberaram paciente sem fazer exames e sem atendimento adequado. PM-AC nega que morador tenha sido agredido
A família de Gustavo Costa Cunha, de 27 anos, procurou o Ministério Público de Brasileia, interior do Acre, nessa quinta-feira (17), para fazer uma denúncia contra o Hospital Regional do Alto Acre e a Polícia Militar. A denúncia diz que Cunha teria sido agredido por policiais dentro da unidade de saúde e liberado pelos médicos após sofrer um acidente de trânsito e batido a cabeça no sábado (12).
Na manhã de domingo (13), o rapaz foi levado da delegacia para o hospital novamente para fazer exames de corpo de delito e acabou intubado com traumatismo craniano. Cunha foi transferido para Rio Branco onde continua em coma.
Ao g1, a mulher do rapaz, Janete Nascimento de Souza, diz que o marido não fez nenhum exame no hospital e foi liberado pelos médicos, mesmo ainda sangrando, após tomar uma injeção e ter uma atadura colocada na cabeça.
Enquanto era atendido no hospital, Cunha foi preso pela PM-AC por dirigir embriagado e se envolver no acidente. Antes de sair da unidade de saúde, Janete diz que o marido foi agredido pelos policiais que atendiam a ocorrência e tentavam conter o homem.
“Me tiraram para fora do pronto-socorro. Algemaram ele para limpar o rosto dele e mandaram eu sair. Levaram ele para o banheiro algemado, mas ele não estava aguentando ficar em pé e arrastaram ele. Uma policial deu duas mãozadas na cara dele, uma de cada lado. Ele ficava se mexendo, xingando e tentando se soltar. Uma policial bateu com força nele e nessa hora a gente tentou arrombar a porta, batemos com força. Os policiais viram que a gente estava olhando pelo vidro”, relatou.
A suposta agressão teria sido presenciada e ouvida por familiares que aguardavam do outro lado da porta onde Cunha estava. “Não fizeram nenhum exame nele no hospital”, criticou a mulher.
O comando do batalhão da PM-AC confirmou que Cunha foi preso por estar dirigindo embriagado, levado do hospital para a delegacia e entregue para a Polícia Civil. O comando negou as agressões.
“Os dois veículos tinham se acidentado, o local foi isolado, foi feito o boletim de ocorrência e passado para a Polícia Civil. De nossa parte não teve nenhum tipo de agressão ou utilização inadequada da força. Inclusive, dessa situação, foi um acidente que ele mesmo ocasionou e quando os policiais chegaram no local ele nem estava mais, estava no hospital e foram lá conversar com ele e viram que ele estava sob efeito de álcool”, disse o comandante do batalhão, tenente Tales Rafael.
A reportagem entrou em contato com a direção do Hospital Regional do Alto Acre e aguarda retorno.
MP recebeu denúncia
Familiares do jovem procuraram a promotoria da cidade e se reuniram com a promotora Pauliane Mezabarba.
A promotora explicou que quando o Ministério Público recebe um tipo de denúncia como essa é aberto um procedimento chamado de Notícia de Fato, que já foi instaurado.
“Nos reunimos com os familiares e, a partir daí, vamos pedir ofícios tanto para a delegacia quanto para o hospital, para podermos entender o que, de fato, aconteceu naquela ocasião que levou esse rapaz, ficar em coma.’
Ela disse que após a denúncia ser apurada, o MP vai pedir a responsabilização dos culpados, se houver.
“Os familiares nos repassaram todas as informações que conseguiram aferir de tudo o que aconteceu. Agora vamos analisar poder tentar entender o que aconteceu e responsabilizar os eventuais responsáveis que causaram esse dano, tanto para o rapaz quanto para a família dele”, acrescentou.
Acidente de trânsito
Janete conta que Gustavo Cunha ia buscá-la no trabalho quando o acidente de moto ocorreu. Ela confirmou que o marido tinha realmente ingerido bebida alcoólica antes do acidente.
“Vendo churrasquinho até onze horas e ele me buscava de moto porque estava sem carro. Ele tinha bebido umas quatro latinhas [de cerveja]. Não estava bêbado. Ele trabalha comigo, me deixa lá, me busca”, resumiu.
A mulher reclama também que a PM-AC não falou por qual motivo Cunha estava sendo preso. Ao chegar na delegacia, o homem foi colocado em uma cela e Janete informada que o caso seria resolvido apenas na segunda-feira (14) com o delegado.
Ela, então, contratou um advogado para tentar resolver a situação com medo de o marido passar mal na cela. “O advogado foi lá uma 4h, entrou e tentou acordar ele e não conseguiu, ele estava apagado. Não me disseram nada, não falaram porque prenderam ele, pedi para saber, disse que ele não é nenhum bandido e nem malandro, é um trabalhador e estava indo me buscar no trabalho. Só falaram que ele estava exaltado”, relembrou.
O advogado teria voltado na delegacia por volta das 7h de domingo (13) e soube que uma equipe do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) tinha ido atender Cunha dentro da cela. “Ele falou que o pessoal do Samu tinha ido lá 5h porque ele estava vomitando sangue, atenderem ele e falaram que estava bem”, falou Janete.
Gustavo Cunha só voltou para o hospital, dessa vez para fazer exames de corpo de delito, quando o advogado teria falado com o delegado da cidade. Segundo a família, ele deixou a delegacia andando, mas aparentava estar desorientado. Na unidade de saúde, o homem passou por exames e foi descoberto o traumatismo na cabeça.
“Falei na delegacia que ele tinha levado uma forte pancada na cabeça, que ele não estava bem. Só fizeram exames nele no outro dia, intubaram e já mandaram para Rio Branco. Quando você sofre um acidente de trânsito quando chega no hospital se bate um raio-x completo do corpo. O Gustavo não teve exame nenhum, se tivesse tido o atendimento adequado não estaria na situação que está. Ele chegou não falava coisa com coisa, a agressividade dele não era com os médicos. A PM-AC não quis nem saber o que estava acontecendo”, finalizou.