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Polícia

Ex-padre investigado por estupro de jovem em paróquia no Acre vira réu no processo

Ex-padre investigado por estupro de jovem em paróquia no Acre vira réu no processo

Crimes teriam sido praticados pelo ex-padre Fábio Amaro entre 2008 e 2009, quando o suspeito era sacerdote em Rio Branco. Atualmente ele mora em Pernambuco e foi ouvido sobre os crimes na delegacia da cidade de Arcoverde

Em maio deste ano, a equipe da Rede Amazônica Acre denunciou, com exclusividade, o ex-padre Fábio Amaro, que atuou em várias paróquias do Acre. Na época, ele havia sido indiciado pela Polícia Civil do estado suspeito de abuso sexual. Os crimes teriam sido praticados entre 2008 e 2009, quando o suspeito era pároco em Rio Branco e teria abusado de um adolescente, que tinha entre 15 a 16 anos, e de uma jovem, de 18, que frequentava a igreja e se confessava com ele.

Após a repercussão da reportagem exibida pela Rede Amazônica, o Ministério Público do Acre (MP-AC) ofereceu denúncia contra o ex-padre pelo crime de estupro contra menor de 18 anos. O MP-AC concordou com a conclusão das investigações da Polícia Civil.

A denúncia contra o Amaro foi recebida pela 2ª Vara da Infância no dia 14 de novembro deste ano. A juíza responsável concordou, provisoriamente, com a imputação penal do Ministério Público. O ex-padre agora réu e tem 10 dias para responder à acusação a partir do momento que for notificado. O processo segue em segredo de Justiça.

Fábio Amaro deve responder apenas pela acusação de abuso contra o jovem ouvido no processo. Há ainda informações de outras vítimas, mas sem denúncias oficializadas.

O rapaz que denunciou o padre, atualmente com 30 anos, contou que participou de um encontro da igreja católica e teria ouvido uma colega dizer que tinha sido aliciada por um padre. Sobre o religioso ter virado réu no processo, ele diz que o sofrimento tem se prolongado e a preocupação é que outras pessoas sejam vítima dele.

“Além desse sofrimento que se prolonga, também é uma preocupação, com a possibilidade que outras pessoas possam também estar correndo esse risco de passar por essa experiência dolorosa, essa experiência cruel, do qual eu e outras pessoas também passaram. Então, a minha esperança do momento, é que a justiça seja feita não apenas por mim, mas também para prevenir outras vidas”, contou.

A equipe da Rede Amazônica Acre entrou em contato com a defesa do ex-padre, que informou que só se manifesta nos autos do processo.

Relembre as denúncias

Com exclusividade, a Rede Amazônica Acre, maio deste ano, conversou com as vítimas, que não foram identificadas na reportagem. Todas frequentavam a igreja católica e tiveram o sonho de seguir carreira cristã destruído.

Apesar das duas denúncias, o Fábio Amaro responde criminalmente apenas pelo estupro do rapaz. Atualmente, ele mora em Pernambuco e foi ouvido na delegacia da cidade de Arcoverde (PE), na época, a pedido da Polícia Civil do Acre.

Em depoimento, ele negou conhecer as vítimas e alegou também desconhecer até o acordo que fez com o bispo Dom Joaquín Pertiñez.

No estado pernambucano, o ex-padre estava ligado a uma instituição sem fins lucrativos que trabalha com projetos sociais de ressocialização. Após prestar depoimento, ele teria pedido desligamento.

Denúncias

O rapaz que denunciou o padre, atualmente com 30 anos, contou que participou de um encontro da igreja católica e teria ouvido uma colega dizer que tinha sido aliciada por um padre. Sem saber ao certo do que se tratava, ele teria comentado com um amigo, e a informação chegou até o padre Fábio Amaro. A partir de então, segundo ele, o sacerdote teria passado a ameaçar e a abusar dele.

“Ele tirava a roupa, tirava minha roupa e, muitas vezes, fazia eu pegar nas partes íntimas dele, assim como pegava nas minhas e toda vez que pedia para ele parar, dizia: ‘o que você falou de mim foi um crime e se você não fizer o que eu mandar, falar para alguém, vou processar sua família, você é menor e quem vai responder é sua família. Coloco seu pai e sua mãe na cadeia e tiro tudo deles’”, detalhou.

A vítima destaca que os abusos aconteciam no quarto, dentro da paróquia, pelo menos três vezes na semana. Os crimes teriam sido praticados durante dois anos até o jovem entrar em um seminário e ficar praticamente isolado do mundo externo.

O isolamento foi visto também como uma forma de escapar dos abusos praticados pelo sacerdote. “Pensei: lá no seminário religioso ele não poderia ir, mas, ao mesmo tempo, ficava na minha mente que eu poderia encontrar outros padres ali dentro iguais a ele. Essa era minha única saída, não poderia compartilhar isso com ninguém”, recordou.

Diocese soube de abusos e exigiu renúncia

A Diocese de Rio Branco disse que assim que teve conhecimento das denúncias contra o padre pediu o afastamento dele na época. À reportagem, o bispo Dom Joaquín Pertiñez explicou que, ao saber dos casos, confrontou o padre, que confirmou os crimes, e então o suspeito foi avisado de que teria que renunciar ou seria excomungado.

Ainda segundo o bispo, o padre decidiu pedir a renúncia e justificar que precisava mudar de estado por conta da morte do pai.

“Nós tivemos uma conversa séria e eu disse a ele que se não renunciasse eu pediria a expulsão dele. E dias depois ele fez uma carta de renúncia e disse que ia para terra dele, cuidar da mãe, porque o pai tinha morrido”, relembrou dom Joaquín.

Sobre o caso não ter chegado na época à Polícia Civil, Dom Joaquim justificou que existe um protocolo do Vaticano que orienta as vítimas a escrever a denúncia de próprio punho em uma carta para que ele vá até a polícia.

Conforme o religioso, as vítimas foram orientadas a fazer essa denúncia, contudo, não quiseram seguir com o caso na época.

Sonho de ser freira

A segunda vítima que a reportagem teve acesso tinha 18 anos na época. O religioso teria pegado o número de telefone dela durante uma confissão e se aproveitado da informação que ela deu em segredo: o sonho de ser freira. Para se aproximar da vítima, ele prometeu ajudar.

Em uma ligação, o padre teria pedido para a jovem encontrá-lo após a missa das 17h na Catedral que iria levá-la para conhecer o convento. Porém, a viagem tomou outro destino e a vítima foi abusada pelo padre dentro do carro.

“A gente entrou em um carro, só que não me levou no convento, começou a andar em ruas desertas. Lembro muito a gente andando na Estrada do Calafate e na Estrada do Amapá. Ele ficava passando a mão nas minhas pernas, me cheirando, roçando a barba no meu pescoço e dizia que era uma pessoa muito carinhosa, que não era para eu confundir, que era assim tanto com homens e mulheres”, relembrou.

Além das ruas com pouca movimentação, o padre Fábio Amaro trazia os adolescentes para igreja que congregava, que fica na Baixada da Sobral, região periférica de Rio Branco. As vítimas relatam que, na época, o padre tinha um quarto dentro da paróquia onde cometia todas as formas de abuso.

A vítima recordou ainda que foi levada uma vez para dentro desse quarto, mas, inicialmente, não chegou a desconfiar das intenções do sacerdote porque a porta estava aberta. Porém, o padre ficou nu e agarrou a jovem à força, jogando ela em cima da cama e tentando tirar a roupa dela.

“Sentei na beira da cama, ele estava de batina e falou que ia trocar a roupa e já iria me deixar em casa. Saiu do cômodo completamente nu. Lembro que dentro do quarto tinha muita imagem de santo e questionei como ele conseguia fazer aquelas coisas com as imagens olhando e ele levava na brincadeira. Ele me tocava, eu dizia que não queria, que eu era virgem e não teria relação sexual com um padre”, falou.

A vítima explicou ainda que quando se negou a encontrá-lo novamente, o padre fez graves ameaças.

“Falou que se eu não fosse dele não seria de mais ninguém, que se soubesse que eu estaria me relacionando com outra pessoa eu ia pagar ele. Que a única vez que aconteceu isso foi comigo, que tudo isso era culpa minha, que eu que despertei isso nele”, complementou.

Depoimento de caseiro revela abuso contra menino

Em depoimento à Polícia Rodoviária Federal, em fevereiro de 2013, o caseiro da chácara Santo Cura, administrada pela igreja católica, falou que padre Fábio Amaro chegou com um adolescente de aproximadamente 12 anos no local uma vez.

Ele recordou que os dois foram em direção à piscina e minutos depois o garoto teria passado pelo caseiro correndo em direção à saída. O padre saiu em seguida e que após meia hora o menino retornou à chácara com policiais. “O menino foi lá e falou para os policiais que tinha mexido com ele e eles vieram”, resumiu.

Responsável pelas investigações, a delegada Mariana Gomes confirmou que a polícia conseguiu reunir provas que comprovam a versão dada pelas vítimas.

“Em um dos relatos passado por uma vítima, foi comprovado que, de fato, o acusado exercia à época a função de padre. Além disso, pode destacar também, que existem indícios de ele praticou abuso a outras pessoas, o que demonstra o histórico abusado em relação a esse acusado”, pontuou.