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Polícia

Durante operação, dentista denuncia agressões e registra queixa por abuso de autoridade contra delegado no AC

Delegado nega denúncias e diz que dentista estava ‘revoltado’ e desacatou policial. Caso ocorreu na segunda-feira (29) e dentista diz que registrou denúncia na Corregedoria e MP

Uma operação da Polícia Civil em um consultório odontológico de Rio Branco, na última segunda-feira (29), terminou com denúncia contra policiais e registro de queixa por abuso de autoridade contra o delegado Pedro Resende. A denúncia inclui abuso de autoridade e agressões pelos agentes da Polícia Civil.

A ação de cumprimento de mandado de busca e apreensão faz parte de uma investigação da polícia com relação a vários crimes como falsidade de documento público, crimes contra ordem tributária e estelionato.

As denúncias de agressões e abuso de autoridade foram feitas pelo cirurgião dentista Alison Mota. Ao G1, ele contou que tinha chegado para trabalhar naquele dia e que ao ficar sabendo da operação e que não poderia entrar na clínica, ficou sentado do lado de fora aguardando.

Em seguida, tirou uma foto que, segundo ele, seria para postar nas redes sociais para justificar o cancelamento dos atendimentos dos pacientes. Ele relatou que um dos policiais se aproximou e pediu que ele apagasse a foto, já que não queria aparecer na imagem.

“Depois de um tempo de conversa com o policial que, inclusive, foi educado, apaguei a foto e mostrei meu telefone para ele conferir. Logo em seguida, o delegado, sem ter conhecimento nenhum, chegou e mandou me algemar e levar preso. Foi quando eu, por não ter feito absolutamente nada fora da lei, questionei porque estava sendo preso e ele simplesmente virou as costas e saiu. Enquanto isso o policial começa a tentativa de me algemar e é quando começam as agressões, um me deu um mata-leão, me jogou no chão, levei joelhada nas costas”, relatou o dentista.

Mota disse que ao chegar na Delegacia de Flagrantes não foi feito nenhum registro com relação ao suposto desacato que ele teria cometido contra os policiais. E como já estava na delegacia, resolveu registrar um boletim contra o delegado e policiais que fizeram a abordagem.

“Eu não tinha cometido nenhum crime, até porque tirar foto não é crime, são funcionários públicos que estão atuando no momento. Mesmo assim, acatei o pedido e apaguei. Na delegacia, nenhum momento fala de desacato no papel que eles registraram, só que eu não concordei com a situação e eles me levaram”, disse Mota.

Por lei, qualquer cidadão pode filmar ou registrar ações policiais. A Justiça entende que os agentes públicos são passíveis de fiscalização, inclusive de qualquer cidadão.

O dentista afirmou que fez o exame de corpo delito e que nessa quarta-feira (1) registrou a denúncia contra a ação do delegado e dos policiais na Corregedoria de Polícia Civil.

O corregedor da Polícia Civil, Thiago Duarte Fernandes, por meio da assessoria de imprensa, confirmou que recebeu a denúncia e que o caso vai ser apurado, mas disse que não iria comentar a respeito.

Delegado nega acusações

O delegado negou as denúncias e disse que o dentista estava ‘revoltado’ e desacatou o policial. Segundo Resende, ele estava dentro da clínica quando foi informado pelos policiais que estavam do lado de fora que tinha uma pessoa desacatando a equipe. Foi quando ele saiu para ver o que estava acontecendo e mandou que levassem o dentista para a Delegacia de Flagrantes.

“Em momento algum eu encostei um dedo nele. Não cheguei e prendi ou mandei algemar, mentira. Só falei para levar para Defla. Ele que estava todo revoltado, que começou a desacatar os policiais. Eu nem estava lá fora, estava fazendo meu serviço que era fazer a busca na clínica da tia dele. Ele fez isso para denegrir minha imagem, para prejudicar o trabalho policial e desviar o foco da empresa”, afirmou Resende.

Vídeo da ação

Após a denúncia começar a ser divulgada nas redes sociais, o delegado Pedro Resende soltou um vídeo gravado por câmeras de segurança do local em que mostra o momento da ação policial.

Nas imagens, o delegado aparece saindo do imóvel onde estava sendo cumprido o mandado de busca e apreensão e se aproxima dos policiais que estavam com o dentista do outro lado da rua. Em seguida, Resende faz um gesto com a mão, como um comando e sai andando. Antes disso, é possível ver que o dentista estava sentado conversando um dos policiais.

É quando o dentista resiste à prisão e tenta reagir, mas logo um dos policiais dá um mata-leão e tentam segurar Mota. Inicialmente são vistos quatro policiais, além do delegado, mas logo pelo menos outros quatro se aproximam para tentar imobilizar o rapaz. Durante toda a ação, é possível ver que o delegado só observa a abordagem.

Outras polêmicas envolvendo delegado

Essa não é a primeira vez que o delegado Pedro Resende se envolve em polêmica e denúncia de abuso de autoridade.

Em 2015, uma sargento da Polícia Militar, que pediu para ser identificada apenas por “Uchôa”, de 36 anos, disse ter recebido voz de prisão após um desentendimento com o delegado Resende por se negar a dar o número pessoal para o delegado.

De acordo com a sargento, ela levava um suspeito de roubo à Delegacia de Flagrantes (Defla), em Rio Branco, quando o delegado teria pedido o número de telefone pessoal dela para “procedimentos futuros”.

“Ele me deu voz de prisão, inclusive na frente do meu superior. Mandou que me conduzissem à cela, mas me neguei. Passei o número do telefone do meu batalhão, caso ele precisasse, porém, ele alegou que eu me neguei a passar, e não foi verdade”, contou na época.

O delegado se defendeu e disse que o que houve foi um incidente. “Pedi o celular dela, ela não quis fornecer e foi feito uma conversa tranquila. Terminei meu plantão e ela foi para o trabalho dela. A questão foi resolvida de forma amigável. Foi um pequeno contratempo que foi resolvido de maneira pacífica e cordial entre todos”, destacou.

No ano de 2017, uma ocorrência que envolvia um cano de ar-condicionado em uma propriedade no Bujari, no interior do Acre, terminou com o delegado Pedro Resende levando um soco no rosto e o suposto agressor, o professor Manoel de Abreu, de 52 anos, pronto-socorro. A família de Abreu acusou a polícia de agressão.