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Polícia

Diretor do Iapen-AC é acusado de grampear telefones de policiais penais femininas: ‘Vão pagar muito caro’

Diretor do Iapen-AC é acusado de grampear telefones de policiais penais femininas: ‘Vão pagar muito caro’

Servidoras relataram ainda que foram fotografadas e que se sentiram coagidas durante reunião feita no dia 14 de maio, para falar sobre supostos boatos na vida pessoal de Alexandre Nascimento, gestor do Iapen-AC. Governo diz que confia na conduta dele e que medidas estão sendo adotadas

O g1 teve acesso, com exclusividade, a relatos de policiais penais femininas que participaram de uma reunião, feita pelo presidente do Instituto de Administração Penitenciária do Acre (Iapen-AC), Alexandre Nascimento, acusado de assédio moral contra elas. No dossiê, é relatado que o gestor grampeou os telefones das agentes.

O governo do Acre disse, em nota [veja na íntegra abaixo], que confia na conduta do diretor. Procurados pelo g1, o Iapen-AC e Secretaria de Justiça e Segurança Pública (Sejusp-AC) disseram que não irão se pronunciar, já que a nota do governo já foi divulgada com este intuito. O posicionamento foi mantido em um novo contato ao Iapen nesta segunda (20).

No documento feito pelas agentes, elas relatam que foram chamadas na manhã do dia 14 de maio para uma reunião com Nascimento e com a diretora da unidade feminina, Maria Dalvani. Ao chegar no local, todas foram fotografadas, o que elas entendem como uma ameaça.

“Ele então deu continuidade à reunião, afirmando de forma ameaçadora que todos os telefones haviam sido grampeados pela Polícia Civil e que a Corregedoria já estava atuando em cima desse caso. Afirmou também que já tinha conhecimento que alguém pagou o valor de R$ 1.500 a um blog para que postassem sobre esse assunto da sua vida particular. Nesse momento, ele bateu no braço da cadeira e disse: todos vão pagar muito caro por isso”, diz o trecho do relato enviado ao g1.

iapenPoliciais penais femininas teriam sofrido assédio moral — Foto: Aline Nascimento/g1

O diretor, então, anunciou que a reunião seria para tratar de boatos sobre a vida particular dele. O boato a que Nascimento se refere seria um suposto caso extraconjugal entre ele e a filha de uma policial penal. Nascimento nega que a situação tenha acontecido. O diretor teria então sido grosseiro com as agentes.

“Para perguntar se nós tínhamos conhecimento sobre conversas paralelas que estavam surgindo sobre sua vida privada, ao que todas as servidoras ficaram caladas. Perguntou também se nós achávamos que aquilo que estava sendo propagado era verdade, da mesma forma todas as servidoras ficaram caladas”, diz uma das policiais.

A fala de Nascimento é simulada por uma das agentes:

– “A única vez que minha esposa foi na sede, foi para buscar um cartão, e as pessoas ainda ficam inventando histórias que não existem. Eu exijo respeito, [falou isso apontando o dedo para as servidoras de modo bem hostil e agressivo], respeitem a minha mulher, respeitem a filha da policial penal!”.

A pressão foi tão grande que uma das policiais penais passou mal durante a reunião por se sentir ameaçada.

O diretor exigiu ainda que as agentes entregassem os nomes de qualquer pessoa que ouvissem espalhando rumores sobre a vida dele, e que o defendessem de quaisquer acusações.

“Todas as policiais se sentiram coagidas, desrespeitadas e ofendidas, pois aquele tipo de reunião não cabia a nenhuma das pessoas que estavam presentes ali. Enfatizo também o dano psicológico que a atitude do senhor Alexandre causou a maioria das servidoras que estavam presentes, necessitando inclusive de ajuda médica especializada”, finaliza o relato.

O outro lado

Por meio de nota, o governo do Acre informou, na sexta-feira (17), que confia na conduta do presidente e que irá aguardar “algo concreto em relação às alegações”.

“As medidas investigativas pertinentes ao caso já estão sendo adotadas para que qualquer inverdade seja esclarecida. O respeito à democracia é princípio basilar e há que se respeitar os valores da ética, da proteção à família e da informação de forma correta e responsável”, diz.

Nota de Esclarecimento do Governo do Acre

“O governo do Estado do Acre informa que confia na conduta ilibada do presidente do Instituto de Administração Penitenciária (Iapen), Alexandre Nascimento, até que se demonstre algo concreto em relação às alegações.

As medidas investigativas pertinentes ao caso já estão sendo adotadas para que qualquer inverdade seja esclarecida.

O respeito à democracia é princípio basilar e há que se respeitar os valores da ética, da proteção à família e da informação de forma correta e responsável.

Governo do Estado do Acre”.

Nota da Associação dos Servidores do Sistema Penitenciário do Acre (Asspen/AC):

“Vem divulgar a presente NOTA DE REPÚDIO aos atos de arbitrariedade e desrespeito praticado pelo Presidente do Instituto de Administração Penitenciária do Estado do Acre contra as Policiais Penais integrantes da equipe “B” do Presidio Feminino, durante reunião realizada na unidade prisional.

Conforme consta nos relatos das policiais penais, o gestor de forma vil e ultrajante, por motivações pessoais e desvinculadas do exercício da função, brandou ameaças as integrantes da equipe, em situação de total descontrole emocional, utilizando do aparato estatal como meio intimidador, afirmando, inclusive, que as mesmas estavam sendo investigadas e que haviam celulares “grampeados”.

A conduta do ofensor trouxe danos morais e emocionais as servidoras, tendo a ASSPEN/AC se colocado à disposição das denunciantes sua assessoria jurídica para as providencias legais nos âmbitos administrativo, criminal e civil, como forma de evitar que situações semelhantes não se repitam no sistema penitenciário.”