Justiça entendeu que não houve abandono de incapaz, já que ela é mãe solteira e não tinha com quem deixar as três crianças. Além disto, não ficou comprovado o que causou o incêndio na casa onde moravam. Caso ocorreu em dezembro de 2020 em Rio Branco
O caso que marcou a cidade de Rio Branco em 2020, quando três crianças morreram carbonizadas em uma casa que pegou fogo no Portal da Amazônia, teve desfecho favorável à mãe das vítimas na última semana. Jociane Evangelista Monteiro foi inocentada pela Justiça do Acre, que entendeu que não houve abandono de incapaz, crime este que embasava a denúncia inicial do Ministério Público do Acre (MP-AC).
Contexto: A tragédia ocorreu no dia 19 de dezembro de 2020, depois que a mãe deixou as crianças, de 4 e 2 anos e uma bebê de 8 meses, trancadas em casa sozinhas para ir a um bar. Vizinhos ainda tentaram socorrer as vítimas ao ouvir os gritos, mas não foi possível retirá-los.
De acordo com a sentença, após as alegações finais e escutas de testemunhas, o MP-AC requereu a absolvição da ré, já que segundo o órgão, não constatou o delito de abandono de incapaz, sendo aplicado o perdão judicial.
A defesa de Jociane também postulou pela absolvição, alegando que ela é ré primária e que a perda dos filhos a atingiram gravemente, “e que sofreu, sofre e deverá permanecer sofrendo o resto de sua vida”.
A Justiça também entendeu que, por conta da estrutura familiar, ou seja, mãe solo de três crianças, ela não tinha condições de deixá-los com outras pessoas. Além disto, não ficou claro qual foi a causa exata do fogo que incendiou a residência.
“Assim, constata-se que foi uma grande fatalidade e que não haveria, nas circunstâncias em apreço, possibilidade de a ré agir, nas condições que tinha e no grau de conhecimento que tinha, de modo diverso, notadamente por ser mãe solteira com diversos filhos e sem apoio da família e dos pais biológicos de seus filhos”, complementou a sentença, proferida pelo juiz Cloves Augusto Alves Cabral Ferreira, da 4ª Vara Criminal da Comarca de Rio Branco.
Desdobramentos
Em abril de 2022, a 4ª Vara Criminal da Comarca de Rio Branco autorizou a exumação dos corpos das crianças de 2 e 4 anos, respectivamente, que morreram carbonizados, para retirar novas amostras biológicas.
O pedido foi feito em outubro de 2021 pela Polícia Civil do Acre porque, segundo o Instituto de Análises Forenses, as análises de DNA feitas nos restos mortais (dentes de leite) não revelaram a presença de DNA para estabelecer vínculo genético com o material fornecido pela mãe deles, Jociane Evangelista. Portanto, foram solicitadas novas amostras biológicas por meio da exumação das vítimas.
No caso da bebê de 8 meses, a perícia conseguiu identificar a presença de DNA para análise. Após o pedido, o instituto informou que não seria mais preciso fazer o processo de exumação do menino de 4 anos e, no dia 20 de abril de 2022 foi feita a exumação do cadáver da criança de 2 anos, e recolhido o material necessário. O laudo apontou que Jociane é mãe biológica do doador da amostra.
Ela foi denunciada pelo Ministério Público Estadual (MP-AC) pelo crime de abandono de incapaz com alguns agravantes, como o fato de ser mãe das vítimas. A denúncia foi aceita pela 4º Vara Criminal de Rio Branco no dia 21 de janeiro de 2021, quando o inquérito policial foi transformado em ação penal.
Antes desse caso, Jociane já tinha sido denunciada no Conselho Tutelar por negligência e maus-tratos.