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Polícia

Após audiência, acusados de matar travesti a pauladas no Acre aguardam sentença

Dupla responde por crime de tortura com resultado de morte; corrupção de menor e organização criminosa. Audiência de instrução ocorreu há um mês na Vara de Delitos de Organizações Criminosas e sentença deve sair até próxima semana, segundo TJ-AC

Os dois acusados de matar a travesti Fernanda Machado da Silva a pauladas passaram por audiência de instrução há um mês na Vara de Delitos de Organizações Criminosas e aguardam sentença, que deve sair até a próxima semana. O processo corre em segredo e a informação foi confirmada ao G1 pelo Tribunal de Justiça do Acre.

Rafael Kewiw Braga e Vitor Alexandre Junqueira foram denunciados pelos crimes de tortura com resultado de morte; corrupção de menor e organização criminosa.

A denúncia foi feita pelo Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público do Acre (MP-AC) e recebida pela justiça no dia 3 de dezembro do ano passado. A dupla foi citada, passou por audiência e, segundo o TJ-AC, os autos estão conclusos para sentença.

Fernanda estava em um ponto de prostituição no bairro Preventório em junho do ano passado quando foi abordada por homens que a acusavam de ter roubado um celular. Mesmo negando, ela foi agredida e morreu ainda no local. Braga e Junqueira estão presos desde o dia 3 de agosto.

O laudo da polícia técnico-científica do Instituto de Criminalística comprovou que Fernanda foi agredida por uma ou mais pessoas, caindo algumas vezes no chão. Além disso, segundo o documento, as agressões foram com pedras, pedaços de madeira e tijolo. Porém, não foi possível precisar o ferimento que causou a morte da travesti.

Em depoimento, familiares confirmaram que Fernanda fazia uso de entorpecentes na rua e também se prostituía, mas que não cometia crimes. Na época, várias entidades ligadas à comunidade LGBTQIA+ no estado lançaram nota e pediram respostas sobre o crime. O Ministério Público do Acre (MP-AC) também acompanha o caso e o Judiciário aguarda a formalização da denúncia contra os suspeitos.

morte travesti 002 webTroca de mensagens mostra suspeitos conversando após o crime — Foto: Arquivo pessoal

Prints comprovam crime

Em outubro, o G1 divulgou prints anexados ao inquérito policial, que mostram troca de mensagens entre Rafael e o segundo suspeito, Vitor, que está identificado no aplicativo de mensagem como “Shorouco”.

Por áudio, Rafael, identificado como Beneguim, chama o comparsa por duas vezes até que Vitor responde: “Tu é doido é Beneguim, tu foi inventar de matar o gay pô [sic].”

A conversa segue, Vitor diz que os dois devem sofrer represálias por conta do crime e Rafael rebate: “Até parece que só foi eu… Depois que cheguei já espocando, vocês já emendaram comigo”, responde.

Logo, Vitor volta a culpar Rafael pela morte de Fernanda. “Tu espoco [sic] o cara de novo, nós já tinha batido, pra que tu foi bater no cara de novo com aquela ripa véia fuleira [sic]”.

morte travesti 003 webOs dois suspeitos se desentendem sobre a morte de Fernanda — Foto: Arquivo pessoal

Além disso, o processo contém imagens de câmeras de segurança de um posto de combustíveis que mostra o momento em que os suspeitos aparecem com pedaços de madeira antes de cometerem o crime.

Foi por conta dessas provas que o juiz titular da 2ª Vara do Tribunal do Júri, Alesson Braz, entendeu que manter os dois presos era uma questão de garantia da ordem pública. Em depoimento, Rafael negou o crime. Já o comparsa, confirmou as agressões, mas garantiu que não havia matado a travesti, colocando a culpa em Rafael. Os dois foram indiciados por homicídio qualificado.

morte travesti 004 webFernanda e a mãe em peça publicitária lançada pelo MP-AC uma semana antes de ser morta — Foto: Reprodução/MP-AC

‘Levanto amor’

Bastante conhecida, Fernanda era ativista em Rio Branco e participava de debates que abordavam justamente a violência contra a comunidade LGBTQIA+. Uma semana antes de ser morta, ela gravou para uma peça publicitária do MP.

Nas imagens, a mãe de Fernanda, Raimunda Nonata, diz que tem orgulho da filha e fala do amor que sente. “Eu tenho orgulho de ter minha filha, não tenho preconceito, amo ela do jeito que ela é. Para mim, vai ser minha filha amada do coração sempre. Eu amo muito ela.”

Em seguida, as duas se abraçam. O vídeo traz ainda uma fala de Fernanda em uma das ações do MP, onde ela diz que é preciso educar a sociedade para combater a violência contra a comunidade LGBTQIA+.

“Mata-se muito LGBTs no Brasil e no mundo. O Brasil hoje é o país que mais mata, não só fisicamente, mas com palavras. Então, como volto a falar, educar-se e educar as pessoas é primordial. Eu não levanto uma bandeira, não levanto uma sigla, levanto o amor. É isso que eu defendo, é isso que nós devemos defender.”