Veralúcia Marques Coura está presa em São Paulo e acompanhou julgamento por videoconferência nessa terça-feira (28). Ela não pode recorrer da sentença em liberdade
Veralúcia Marques Coura, de 54 anos, uma das envolvidas na morte da jovem Kesia Nascimento da Silva em 2020, em Rio Branco, foi condenada a mais de 29 anos de prisão em regime inicial fechado pelo crime. O julgamento ocorreu nessa terça-feira (28) e foi acompanhado pela acusada por videoconferência.
Ela está presa em São Paulo. Veralúcia foi condenada pela 1ª Vara do Tribunal do Júri da Comarca de Rio Branco por homicídio qualificado, ocultação de cadáver e participação em organização criminosa.
Ela não pode recorrer da sentença em liberdade.
Conforme a Justiça do Acre, a defesa de Veralúcia recorreu da sentença para a superior instância. O g1 não conseguiu contato com os advogados da condenada até última atualização desta reportagem.
Além da ré, que acompanhou todo o julgamento por videoconferência do Presídio Franco da Rocha, em São Paulo, quatro testemunhas foram ouvidas por videoconferência.
“Ressalte-se que o crime ocorreu no contexto das facções criminosas, o que, por si só, gera intranquilidade e medo na sociedade. Essas causas demonstram ser a acusada pessoa altamente nociva à sociedade. Inclusive, há notícias de que a mesma está presa na Comarca de São Paulo por outros crimes. Por fim, registre-se que seria um contrassenso conferir a ré que foi mantida custodiada durante todo o processo e agora condenada pelo Júri popular, o direito de aguardar em liberdade o trânsito em julgado da condenação”, diz parte da sentença.
Denúncia
Conforme a denúncia do Ministério Público do Acre (MP-AC), Veralúcia é apontada como responsável pelos julgamentos do chamado ‘tribunal do crime’ de uma determinada facção criminosa, com atuação em todo território nacional.
No caso da vítima Késia (foto acima), a denúncia narra que a execução do homicídio foi precedida de uma reunião do ‘tribunal do crime’, autorizada por Veralúcia Marques e liderada por Rita Rocha do Nascimento, que foi condenada em setembro do ano passado a mais de 30 anos.
Elas, junto com outro réu e quatro pessoas não identificadas, teriam manifestado consentimento com o assassinato da jovem e se mantiveram reunidos, por videoconferência, até receberem a confirmação da efetiva morte da vítima.
Desaparecimento e morte
Kesia sumiu no dia 28 de janeiro de 2020 em Rio Branco e, apesar de o corpo dela nunca ter sido encontrado, a polícia concluiu que a jovem foi morta. Em novembro do mesmo ano, a Justiça do Acre aceitou denúncia contra nove pessoas acusadas de participação na morte da jovem.
Em dezembro de 2021, quatro pessoas foram condenadas a penas que, somadas, ultrapassaram 110 anos de prisão. O júri também ocorreu na 1ª Vara do Tribunal do Júri. O grupo respondeu pelos crimes de homicídio duplamente qualificado, corrupção de menores, ocultação de cadáver e por integrar organização criminosa.
Entre os réus estavam: Thalysson Jesus da Silva, João Vitor da Cunha Pereira, Moisés Inácio da Silva, Ana Lúcia Barros de Oliveira, todos presos no Acre. Thalysson, Moisés Inácio e João Vitor foram condenados a 30 anos e 4 meses cada um. Já Ana Lúcia levou uma pena de 27 anos e 9 meses. Na decisão, a juíza Luana Campos negou o direito de os réus recorrerem a liberdade.
Em maio do ano passado, os réus Camila Cristine de Souza Freitas e José Natanael Aquino Duarte foram condenados a penas que, somadas, chegaram a 60 anos por envolvimento na morte de Kesia. Eles foram condenados por homicídio, ocultação de cadáver, corrupção de menores e omissão. Camila foi condenada a 32 anos, 9 meses e 10 dias e José Natanael a 27 anos, 9 meses e 10 dias, em regime inicial fechado e sem direito de recorrer em liberdade.
Além dos réus que foram condenados, Amanda de Lima Moura, que está foragida, teve o processo desmembrado.
Crime assistido por videoconferência
Kesia sumiu após deixar o filho pequeno em uma lanchonete da família, na Estrada da Floresta, em Rio Branco. Ela tinha esquizofrenia, fazia tratamento contra a doença e tomava remédios.
As investigações da Delegacia de Homicídio e Proteção à Pessoa (DHPP) apontaram que a ordem para matar a jovem partiu de duas mulheres que estavam em São Paulo.
A polícia concluiu ainda que a jovem foi morta, decapitada e esquartejada e depois teve o corpo jogado no Rio Acre. A motivação do crime seria porque a jovem teria mudado de facção criminosa e, então, foi vítima de uma retaliação.
Além dos nove acusados, dois adolescentes também foram apontados pela polícia como participantes do crime.