A dependência química ainda é um dos grandes desafios sociais do Acre. Em meio a essa realidade, a Associação de Parentes e Amigos dos Dependentes Químicos (APADEQ), em Rio Branco, tem se destacado pelo trabalho de acolhimento e recuperação de pessoas que buscam superar o vício e reconstruir suas vidas.
O espaço, que atende mulheres em situação de vulnerabilidade e que desejam se libertar dos vícios, oferece um ambiente seguro e de apoio emocional, espiritual e social. O objetivo é proporcionar não apenas abrigo, mas também devolver dignidade e criar novas oportunidades para as acolhidas, promovendo o fortalecimento da autoestima e o recomeço pessoal e profissional.
A secretária adjunta da Secretaria de Estado de Assistência Social e Direitos Humanos (SEASDH), Amanda Vasconcelos, afirma que a APADEQ conta com o apoio da Secretaria, que fornece doações de cestas básicas, vestuário social e kits de higiene.
“A Secretaria fica muito feliz em prestar esse apoio à APADEQ, seja com o guarda-roupa social, kits de higiene ou entrega de cestas básicas. Nosso papel é garantir direitos a essas mulheres em vulnerabilidade e oportunizar dignidade e respeito”, declarou Amanda Vasconcelos.
Equipe de Identificação da polícia civil na entrega de documentação das acolhidas - Foto: Cedida
Para o chefe da Divisão de Promoção de Registro Civil e Documentação da SEASDH, César Pinho, essas ações garantem que as acolhidas tenham condições de retomar a vida civil e acessar políticas públicas.
“A Secretaria atua como facilitadora no processo de emissão de documentos para as acolhidas. A maioria das mulheres que chegam à APADEQ não possui nenhuma documentação, e é nesse momento que nós atuamos, ajudando na identificação e emissão de documentos, desde registro de nascimento e casamento até o registro civil. Nosso intuito é demonstrar que é possível viver com dignidade, e a Secretaria atua diretamente nessa reconstrução da vida dessas mulheres”, afirmou.
Cirlene Lima, 51 anos, recebendo alta hospitalar - Foto: Cedida
De acordo com a coordenadora da APADEQ, Márcia Rodrigues, o trabalho desenvolvido é fruto da união entre solidariedade e compromisso social.
“O índice de dependência química entre mulheres cresceu nos últimos tempos e, com isso, vieram o abandono e a falta de rede de apoio. Aqui, nosso propósito é acolher com respeito e oferecer condições reais para que cada mulher possa recomeçar”, destacou a coordenadora.
APADEQ: instrumento de transformação social
Josilene Ferreira, 47 anos, conheceu desde muito cedo a dura realidade das ruas de Rio Branco. Sem conhecer os pais, cresceu em meio a abusos, violência, fome e dependência química — marcas de uma vida atravessada pela dor e pela falta de oportunidades.
“Desde que me entendo por gente vivi nas ruas. Acho que eu tinha uns oito anos quando vim do seringal para a cidade. Não tinha quem cuidasse de mim e fui colocada na rua. Ficava em uma taberna, passava muito frio, e foi lá que comecei a fazer o que os meninos da boca me pediam. Sem saber o que era droga, eu já era uma viciada”, contou Josilene.
Josilene, 47 anos, sendo encontrada e retirada das ruas - Foto: Cedida
Além do suporte material, a APADEQ promove atividades de capacitação e orientação profissional, incentivando a autonomia e a independência das acolhidas. O espaço também oferece acompanhamento espiritual e emocional, reforçando o papel da fé e da convivência comunitária na recuperação.
“Quando cheguei aqui, eu não tinha nada, nem roupa, nem documento, nem esperança. Eu não era ninguém, só tinha o corpo velho, magro, acabado. Agora estou limpa há um ano e dois meses, e tenho a oportunidade de reconstruir minha vida e ter um lar. Sou voluntária e moro aqui na casa. De forma nenhuma eu podia sair daqui, porque a APADEQ é meu lar”, contou, emocionada.
Com uma atuação baseada no acolhimento e na empatia, a APADEQ Rio Branco se consolida como um importante instrumento de transformação social, reafirmando que, com dignidade e oportunidade, é possível reescrever histórias e construir novos caminhos.