Cantor piauiense é conhecido por utilizar o humor para tratar de temas espinhosos e ter estilo visual pop alternativo combinado ao punk
Getúlio iniciou a entrevista exclusiva com o iG Queer de forma irreverente — sendo fiel ao seu estilo. Em uma conversa por vídeo, ele escolhia um lugar com sombra no Parque Ibirapuera, em São Paulo , enquanto utilizava um desses filtros animados que colocamos no rosto nas redes sociais.
Escolhida a árvore para apoio, o artista piauiense de 30 anos sentou no chão do parque e falou sobre sua carreira no forró, suas referências musicais e pessoais, e sobre seu novo disco — que ainda está em fase de preparação (confira a entrevista sobre o novo álbum neste link).
Ele começa as respostas refutando a alcunha de ser um representante do “forró queer”. “Eu gosto de pensar só como forró, ou forró eletrônico, porque acho que é sobre um gênero musical. Eu acho que as minhas questões de identidade ou de gênero são algo que estão ali, da mesma forma que questões héteros estão lá e o estilo não é chamado de ‘forró hétero’ ou qualquer coisa do tipo.”
“De repente o tempo passa, as coisas vão mudando de significado, vão virando outra coisa, e quando eu defendo o estilo como forró, é algo que já vem de uma raiz e de uma tradição musical que não vai mudar tanto de argumento”, acrescenta.
Getúlio ainda diz que utilizar o forró como gênero musical “não deve ser um direito só da normatividade”. “Eu não acho que tenho que botar um acréscimo no gênero musical que eu faço só por causa do que eu falo dentro dele”, diz.
“Marmota”: álbum usa humor e ironia para fazer críticas
Do Piauí, Getúlio migrou para Fortaleza , no Ceará, e viveu por lá 10 anos. Há cerca de um ano e meio ele está na capital de São Paulo. Todo esse processo migratório se reflete na música do artista.
O cantor ficou conhecido pelo seu primeiro disco, “Marmota”, lançado em 2021. O álbum reflete as questões de seu tempo, especialmente os problemas envolvendo o governo vigente à época, do ex-presidente Jair Bolsonaro . De forma irônica, e com muito forró como pano de fundo, o artista critica posicionamentos conservadores ao longo das 12 faixas do seu debut.
Outras temáticas também estão presentes no álbum. A faixa “Voguebike” é uma clara referência ao movimento ballroom , de origem afro-latina queer norte-americana. É nesta faixa, inclusive, que Getúlio reivindica o título de “the sad clown of forró (o palhaço triste do forró, em tradução livre).
“Cavalo Corredor” aborda questões contemporâneas como não monogamia e relacionamento aberto. Em “Sinal Fechado”, Getúlio está livre de rótulos de gênero e refere a si mesmo tanto no masculino quanto no feminino.
“Aquenda”, critica o vestuário normativo: “Prefiro usar calcinha, prefiro usar calcinha, ela aquenda a minha neca e valoriza a minha bundinha” , canta Getúlio na letra da música. “Tamanco de Fogo” ressignifica cantos evangélicos que soam como ameaças à comunidade LGBTQIAP+ , tal como fez Pabllo Vittar em “Rajadão”.