Acabo de ler no Libération que tossir sem parar, quando você sente pontadas no coração, não evita ataque cardíaco.
Sim, de repente, no primeiro sintoma – ou não – de um enfarte, os franceses começaram a tossir sem parar. A reportagem do Libération, no entanto, alerta que se trata de uma fake news.
Esqueça! Quando sentir aquela primeira pontadinha no peito, não adianta nada sair tossindo por aí.
Nos últimos tempos, não está nada fácil ler jornais e revistas e separar o que é verdade do que é mentira. A gente desconfia de tudo, inclusive da capa da Veja com essa história dos terroristas brazucas de um grupo chamado Sociedade Secreta Silvestre.
Nas redes sociais, a gente fica com um pé atrás até mesmo com fotos. É só bater os olhos numa que vem logo aquela dúvida: não seria montagem?
Hoje fiquei sabendo:
É falso que abrir perfume com o ar-condicionado ligado provoca incêndio dentro do carro.
É falso que vídeo mostra deputado que chamou Moro de ladrão colocando dinheiro na cueca.
É falso que Padre Marcelo foi empurrado após atacar mulheres.
É falso que haja mais de 400 casos de doença causada pelo consumo de tucunaré no Brasil.
Fake news sempre existiram, mas não com esse nome, aqui no Brasil. Quem será que espalhou, um dia, que manga com leite faz mal? E olha que não tinha rede social pra gente compartilhar e multiplicar por vinte mil essa história.
De boca em boca, silenciosamente, alguém colocou na cabeça do brasileiro que manga com leite faz mal. Faz mal, não. Mata! Ninguém nesse pedação de terra tinha coragem de arrancar a fruta do pé e misturar com o leitinho da vaca que pastava sossegada no campo. A não ser um amigo meu que, rebeldezinho que era, aos seis anos de idade fez um coquetel de leite com manga, deixando todos na casa desesperados.
De meia em meia hora, o menino dizia: “Já passou uma hora eu ainda não morri, já passou uma hora e meia e eu não morri, já passaram duas horas e eu ainda não morri”. E a família, enlouquecida, esperando ele bater as botinhas a qualquer momento.
Esse meu amigo nunca morreu e já passou dos setenta.
Mas não era só de manga com leite que viviam as fake news do passado. Minha mãe, por exemplo, colocou na cabeça dos cinco filhos que sair do banho e pisar fora do tapete, no chão frio, entortava a boca. Quando ela via um de nós correndo do banheiro pro quarto, depois do banho, descalço, gritava:
– Você vai ficar que nem seu Moacir!
Seu Moacir era um homem esbelto, dois metros de altura, que trabalhava no Serviço de Meteorologia com o meu pai. E tinha boca torta. Ele era muito engraçado, mas nunca tivemos coragem de perguntar por que tinha a boca torta. Minha mãe jurava que era porque pisou no chão frio ao sair do banho, na sua casa lá no bairro da Ressaca.
E quando a gente brincava de ficar vesgo? Adorávamos juntar os dois olhos, quando a mãe da gente aparecia e dizia:
– Não faz isso porque, se bater um vento, você fica caolho pro resto da vida!
Tudo fake news!
E não eram poucas. Eu acreditava que as pessoas têm aquelas manchas roxas no rosto porque a mãe tomou vinho durante a gravidez. Fake news!
Quantos dentes de leite eu não coloquei debaixo do travesseiro, quantos dentes de leite eu não joguei no telhado, esperando a fadinha trazer uma grana boa pra mim?
Quantas noites de Natal eu não fiquei segurando os olhos com os dedos pra eles não fecharem, esperando Papai Noel chegar?
Tudo fake news!
Algumas fake news acabam caindo por terra, desmoralizadas. Mas outras não, elas sobrevivem anos e anos. Ontem, por exemplo, ouvi de um motorista de Uber, que jurou de pés juntos, que o filho do Lula é dono da Friboi.