O presidente da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), José Roberto Tadros, reafirmou que o setor terciário, que engloba comércio e serviços, foi o mais atingido pela pandemia da covid-19. Em entrevista na quarta-feira (15) ao programa Agenda Econômica, da TV Senado, ele afirmou que as micro, pequenas e médias empresas não estão suportando o longo período de portas fechadas. “Vivemos hoje clima de guerra, e é preciso encontrar fórmulas que deem suporte ao reerguimento da atividade do comércio”, declarou.
“Maior empregador do Brasil e responsável por 65% do Produto Interno Bruto (PIB), sofremos mais porque, ao contrário da indústria e da agricultura, não exportamos, o que seria um alívio importante num momento delicado como esse.”
A paralisação das atividades provocada pela crise do novo coronavírus revelou números negativamente expressivos para a economia do País, segundo o dirigente: R$ 240 bilhões de perdas em vendas, cerca de 15 mil lojas que encerraram suas atividades e desemprego em massa. Só o setor de turismo demitiu quase 1 milhão de pessoas.
“O Turismo, dos segmentos ligados à CNC, é o que mais sofreu, não apenas no Brasil, mas no mundo inteiro. É uma realidade tão dura que, na minha opinião, turismo e hotelaria são setores que merecem do governo o mesmo tratamento que as companhias aéreas receberam. São negócios que estão interligados, um não vive sem o outro.”
Crédito
Tadros reconheceu e considerou importante que, ainda em março, o governo federal tenha criado linhas de crédito dentro do Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe) para socorrer as empresas, basicamente refinanciar a folha de pagamento. Além disso, editou medidas provisórias na área trabalhista que deram apoio ao cotidiano corporativo, como antecipar férias, diminuir carga horária com a equivalente redução salarial e suspender contrato de trabalho temporariamente.
“O governo irrigou os bancos com R$ 15,9 bilhões para os empréstimos a pequenos negócios, como forma de atenuar os efeitos da crise, mas a burocracia das instituições financeiras não deixou os recursos chegarem ao destino para o qual foram destinados. Isso está causando enormes dificuldades a quem não tem capital de giro e vive da renda do dia a dia”, argumentou. Tadros lembrou que o Ministério da Economia criou o Fundo Garantidor de Operações (FGO) para funcionar como um fiador dos empréstimos.
Mesmo reconhecendo que os bancos tomam medidas preventivas para evitar que sua taxa de prejuízo seja muito elevada, o presidente da CNC ponderou que o mundo vive uma realidade atípica e é preciso que se pense “em um novo modus operandi, porque, sem crédito, as empresas ficarão sufocadas. A consequência será um nível profundo de desemprego que, a continuar o atual quadro, poderá chegar a 20 milhões de pessoas”, alertou.
Refis
José Roberto Tadros voltou a defender a criação, em caráter excepcional, de um novo Programa de Recuperação Fiscal, mais conhecido por Refis, para facilitar a regularização de tributos em atraso de pessoas jurídicas. “Somente isso aliviaria a pesada carga tributária enfrentada pelo empresariado.” Lembrou que o governo Bolsonaro ainda precisa promover algumas reformas fundamentais para o País, entre elas a tributária.
Tadros também falou sobre a sugestão de analistas da área financeira para que seja criado um mercado de crédito paralelo para as micro e pequenas empresas, nos moldes do que existe na Europa e nos Estados Unidos. A seu ver, essa é uma sugestão que poderia ser avaliada pelo Sebrae, do qual é presidente do Conselho Deliberativo Nacional, o qual tem grande expertise por ter seu foco de atuação nas micro e pequenas empresas.
Atividade
Para ele, o comércio vive hoje um círculo danoso de atividade econômica. “Temos um vírus como inimigo oculto. A solução só virá quando nossos cientistas descobrirem a vacina. Até lá, temos que trabalhar para atenuar os danos, reabrindo os estabelecimentos aos poucos, de acordo com os segmentos, seguindo rigidamente as normas das autoridades sanitárias e da Organização Mundial de Saúde.”
Tadros disse que é preciso pensar positivo. “Somente com essa reabertura gradual do varejo, o comércio já reduziu sensivelmente suas perdas. Em junho, o faturamento do setor foi em torno de R$ 9,5 bilhões maior do que no mês anterior. Pela nossa perspectiva, com a economia voltando, mesmo lentamente, a um círculo virtuoso, a demanda reprimida por cerca de 90 dias começará a deslanchar e os negócios se recuperarão”, concluiu.