O salário mínimo de R$ 1.212, estabelecido para 2022, não chega a ser o dobro do custo previsto da cesta básica na cidade de São Paulo em janeiro - de R$ 700, segundo projeção do Dieese
O que dá para comprar com o salário mínimo de 2022 no Brasil?
O valor de R$ 1.212 não chegará a ser suficiente para comprar duas cestas básicas por mês na cidade de São Paulo em janeiro, segundo o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). A projeção é que a cesta básica custará em torno de R$ 700 na capital paulista em janeiro.
A cesta básica - composta por 13 itens - tem valores que variam entre as regiões do país e, por isso, representa uma parcela diferente do salário mínimo em cada uma delas. Na maioria das 17 capitais pesquisadas, no entanto, o preço da cesta representa mais da metade do salário mínimo.
O preço mais baixo, de R$ 473,26 (46,5% do salário mínimo), foi encontrado em Aracaju. O mais alto, de R$ 710,53 (aproximadamente 70% do salário mínimo), foi registrado em Florianópolis. Os dados são referentes a novembro de 2021, com cálculo baseado no salário mínimo vigente no momento.
Uma família, é claro, não tem só a conta do mercado para pagar. Para o Dieese, o valor do salário mínimo deveria estar em quase R$ 6 mil, considerando o nível de preços no país (também em relação a novembro de 2021). Isso é quase cinco vezes o valor estabelecido para o ano novo.
Gasolina e dólar
A título de referência, o novo salário mínimo também pode ser comparado a outros itens cuja alta chamou atenção em 2021.
Um salário mínimo inteiro equivale a encher três vezes um tanque de carro de 60 litros, considerando o preço médio da gasolina comum (R$ 6,684) em dezembro de 2021.
Se for comparado à cotação do dólar no último dia de 2021, o novo salário mínimo corresponde a US$ 217.
Sem aumento real
O valor do salário mínimo de 2022, de R$ 1.212, foi confirmado em medida provisória publicada nesta sexta-feira (31/12) e vale a partir de 1º de janeiro.
O aumento de R$ 112 em relação ao valor que vigorou durante o ano de 2021 (R$ 1.100) não representa aumento real, mas apenas a recomposição de perdas inflacionárias.
Para esse cálculo, é usada a taxa de inflação medida pelo INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor) - que abrange as famílias com rendimentos de 1 a 5 salários mínimos e tem por objetivo a correção do poder de compra dos salários.
O Ministério da Economia diz que o cálculo do novo salário mínimo considerou uma alta de 10,02% como INPC previsto para todo o ano de 2021. “Neste percentual, foram considerados os valores realizados do INPC para os meses de janeiro a novembro e as projeções do governo para o mês de dezembro”, diz a nota.
Além disso, o governo diz que o valor considera o chamado resíduo: a diferença entre a variação do INPC ocorrida em dezembro de 2020 e a estimativa dessa variação considerada quando foi feita a fixação do salário mínimo (de 2021) no fim de 2020.
A pasta diz que o novo valor atende ao estabelecido na Constituição Federal, que determina a preservação do poder aquisitivo do salário mínimo.
O governo estima que, para cada aumento de R$ 1 no salário mínimo, as despesas com benefícios da Previdência, abono e seguro desemprego, além de Benefícios de Prestação Continuada da Lei Orgânica de Assistência Social e da Renda Mensal Vitalícia, sobem aproximadamente R$ 364,8 milhões no ano de 2022.
O Dieese defende que deveria haver não apenas uma recomposição do salário mínimo, mas um aumento real, ao afirmar que os aumentos de preços - principalmente em alimentação e bebidas, transportes e habitação - afetou principalmente os trabalhadores com renda muito próxima ao salário mínimo.
“Aqueles trabalhadores com renda muito próxima ao salário mínimo foram os mais afetados com o rebaixamento drástico do poder de compra”, diz a entidade.
Mais 56 milhões de pessoas têm rendimento referenciado no salário mínimo, entre beneficiários do INSS e trabalhadores privados e públicos, segundo o Dieese.