Desde 2012 ações do projeto incentivam artesãs e artesãos de todo o país a empreender de forma sustentável
Considerado referência na promoção e desenvolvimento sustentável do artesanato no país, o Sebrae tem desenvolvido ao longo das últimas décadas uma estratégia de atuação para transformar artesãos de todo o Brasil em donos dos seus próprios negócios. Nos últimos dois anos, foram realizados 4,6 mil atendimentos em 20 estados brasileiros, com o desenvolvimento de projetos e ações voltados para preparar os artistas com potencial empreendedor para melhorar a produção com perspectivas de atender às demandas de mercado.
Um desses projetos é o Brasil Original, que desde 2012 tem fortalecido a comercialização do artesanato brasileiro e agregado novos mercados ao segmento. A iniciativa foi criada para apoiar a instalação de lojas conceituais temporárias de artesanato em shoppings centers, com o objetivo de atrair um mercado consumidor de maior renda, durante a realização de grandes eventos esportivos no país, como a Copa das Confederações em 2013 e a Copa do Mundo de 2014.
Com os bons resultados alcançados desde então, o projeto teve continuidade em alguns estados do país com outras ações, como por exemplo, na Bahia onde o artesanato produzido caminha lado a lado com o turismo e faz referência à religiosidade regional. Somente no ano passado, o volume de negócios pelas ações do projeto no estado alcançou R$ 2,8 milhões a partir da realização de rodadas de negócios, feiras, eventos, além da comercialização de produtos na loja instalada Shopping Barra na capital baiana.
“As ações do Sebrae no artesanato foram decisivas para o reconhecimento do setor pelo varejo especializado com a ampliação da visibilidade do trabalho e dos produtos, obtendo com isso uma visão favorável para realização de negócios sustentáveis”, explica o presidente do Sebrae, Carlos Melles.
Uma das artesãs que transformou seu ofício em fonte de renda com o apoio do Sebrae na Bahia é Paula Iara Alves, de 45 anos. Com mãos habilidosas desde criança, ela sempre gostou de trabalhos manuais e encontrou no artesanato uma vocação. No começou não foi fácil convencer a mãe de que não seguiria o caminho das irmãs que se tornaram advogada, assistente social, publicitária e gastrônoma.
“Minha mãe chorou quando eu falei que seguiria a vida como artesã. Sempre acreditei no meu potencial e hoje sou a quem tem o maior salário”, contou. Depois de se formalizar como Microempreendedora Individual (MEI) com o apoio do Sebrae, ela conta que as portas finalmente se abriram. Com foco na venda de produtos para lojistas, ela participou de diversas capacitações e de rodadas de negócios onde conheceu muitos clientes, que atende há muitos anos.
No ano passado, depois de atingir um faturamento anual em torno de R$ 1 milhão, ela migrou de MEI para Microempresa (ME) e atualmente emprega 26 funcionários. No ano passado, aproveitando o aumento da demanda por produtos com referência à freira baiana Irmã Dulce, que foi beatificada pelo Vaticano, a artesã participou de uma curadoria para fornecer peças para o instituto fundado pela santa e as vendas foram um grande sucesso.
“Mudei minha percepção do que era ser artesã depois que conheci o Sebrae e com a formalização foram surgindo várias oportunidades de negócios. Hoje tenho aproximadamente 80 clientes no país inteiro. Somente na Bahia tem um cliente que compra R$ 260 mil de artesanato”, destacou. Morando atualmente no interior da Bahia, no município de Glória, a 700 km da capital, ela se sente agradecida por tudo que já conquistou e pela oportunidade de ajudar outras pessoas. “Sou o resultado positivo de tudo o que o Sebrae me proporcionou e fico mais feliz ainda ao saber que dou oportunidade emprego para pessoas que são muito pobres”, disse.
Empreendedorismo indígena
No estado do Amazonas, a produção do artesanato rico e variado também é fonte de renda para muitas pessoas. De acordo com a Secretaria Executiva do Trabalho e Empreendedorismo do estado, o artesanato amazonense cresceu 44% em comercialização em 2019 e ultrapassou em mais de meio milhão de reais as vendas alcançadas no ano anterior.
A produção artesanal indígena na região também recebeu apoio do Sebrae Amazonas por meio do projeto Brasil Original. As ações são realizadas de modo a incluir os índios de forma mais saudável na sociedade, onde muitos já se encontram inseridos, mas de uma forma periférica. Aproximadamente 200 artesãos indígenas recebem capacitações, consultorias e participam de oficinas e eventos para desenvolver produtos com inserção no mercado. No ano passado, a realização de rodadas de negócios com empresários de outros estados do país nos próprios territórios indígenas teve grande impacto nas comunidades.
Realizado em parceria com a Fundação Nacional do Índio (Funai) e outras instituições ligadas à causa indígena, a aproximação direta dos índios com lojistas não só promoveu a venda direta de produtos e oportunidades de negócios como também transformou a relação, às vezes conflituosa, entre etnias diferentes. Em termos de volume de negócios, o valor de vendas diretas e futuras alcançou quase R$ 500 mil nas rodadas de negócios de Alto Solimões e Alto Rio Negro, que contou com a participação de mais de 20 etnias indígenas.
A indígena Dinalva Campos, 31 anos, é umas das artesãs que participou dessas rodadas de negócios no estado. Moradora do município de Barcelos, localizada a 24 horas de barco de Manaus, ela tem o artesanato com sua única fonte de renda desde 2013, logo depois que se formalizou como Microempreendedora (MEI) com o apoio do Sebrae. Nascida na comunidade da etnia Marabitana, ela herdou a habilidade do artesanato da mãe, mas foi com as capacitações oferecidas pelo Sebrae que ela descobriu outras maneiras de valorizar seus produtos. “O Sebrae me mostrou como agregar valor ao meu trabalho artesanal e não ficar apenas produzindo peças tradicionais. Também criei uma identidade para o meu trabalho que tem a piaçava como a principal matéria-prima”, contou.
Segura de que pode ir mais longe, Dinalva quer continuar se capacitando e faz planos para estudar Design, área que conheceu por meio do trabalho desenvolvido pelo designer Sérgio Matos, que esteve na região Amazônica a convite do Sebrae Amazonas para ensinar técnicas e desenvolver produtos com os indígenas. Como coordenadora do Núcleo de Arte e Cultura Indígena de Barcelos (Nacib), ela faz questão de incentivar outros artesãos indígenas na região a empreender e se formalizar. Para ela, a formalização é sinônimo de segurança e traz benefícios. “A formalização mudou tudo, principalmente financeiramente. Antes o artesanato era um complemento de renda. Hoje trabalho com mais tranquilidade e posso oferecer uma educação e saúde melhor para a minha filha”, ressaltou.