Roberto Castello Branco comentou sobre as pressões do presidente em relação aos preços dos combustíveis durante a sua gestão
O ex-presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, afirmou nesta segunda-feira (28) que chegou a ignorar mensagens do presidente Jair Bolsonaro (PL) sobre o aumento dos combustíveis durante a sua gestão. Castello Branco assumiu o comando da empresa em janeiro de 2019 e foi demitido em fevereiro de 2021.
O economista deu uma entrevista ao programa Roda Vida, da TV Cultura, no mesmo dia em que seu sucessor, general Joaquim Silva e Luna, recebeu a notícia de que também deixaria o cargo. O também economista Adriano Pires foi o indicado pelo governo para a função.
“As pressões se fazem na forma de recados, através de mensagens, mas o melhor a se fazer é o que se tem convicção de que está certo. [Bolsonaro] chegou a me mandar mensagens, e eu simplesmente não atendia. Eu explicava e fornecia informações ao ministro Bento [de Minas e Energia] sobre o porquê os preços estavam subindo”, disse.
Roberto Castello Branco começou o programa dizendo que o mandato médio de um presidente da Petrobras é inferior a dois anos, o que seria ruim para a empresa, para a economia brasileira e para os investidores.
“Embora alguns mereçam, os presidentes são demitidos por circunstâncias políticas e, coincidentemente, tivemos três que caíram em função de problemas com os preços dos combustíveis: Pedro Parente, eu e agora o general [Silva e Luna]”.
“São pressões por interferências nos preços. A Petrobras não é um órgão do governo, não é uma estatal, é uma sociedade de economia mista. Essa é uma situação insustentável porque ela tem que atender a dois senhores: o governo e os acionistas privados”.
Sobre as pressões que devem cair sobre Adriano Pires, Castello Branco declarou: “Se ele vai resistir ou não, depende fundamentalmente da estrutura psicológica de cada um. Ninguém está blindado. O presidente da República chega, coloca alguém lá e muda tudo”, continuou.
O economista ainda discordou do fundo de estabilização de preços dos combustíveis, defendido pelo futuro presidente da Petrobras em entrevistas recentes. Para ele, a solução “menos pior” seria criar subsídios para ajudar famílias de baixa renda a comprar gás de cozinha.
“Para as pessoas pobres, que o governo, e não a Petrobras, faça um programa no estilo auxílio gás. Mas não com os recursos da companhia, não financiar com os recursos dos dividendos. Por que não tirar dinheiro das emendas de relator, do fundão eleitoral para subsidiar para os mais pobres?”, indagou.
As pressões sobre a Petrobras se dão diante da disparada dos preços praticados pela companhia. Somente na gestão Silva e Luna, a gasolina e o gás de botijão subiram, em média, 27%. O diesel teve alta de 47%, e o GNV (gás veicular) aumentou em 44%.
A política de preços da empresa é o principal alvo das críticas. Desde 2016, a Petrobras utiliza como referência a variação do barril de petróleo no mercado internacional. O óleo disparou diante das incertezas sobre o conflito entre Rússia e Ucrânia, e a companhia se viu obrigada a anunciar um reajuste no último dia 11.
“Todas as tentativas de fugir dessa regra dos preços de mercado resultaram em desastre”, defendeu o ex-presidente da Petrobras.
“A Petrobras tem uma escolha a fazer: prevalecer a racionalidade econômica, gerando caixa, valor, fazendo a economia crescer, ou então ceder e perder dinheiro. Nós já temos experiência do passado que já deveríamos ter aprendido. À Petrobras, como toda empresa, não cabe fazer política pública, isso é o governo que tem que fazer”.
Nesta segunda, Roberto Castello Branco também voltou a defender a privatização da empresa da qual foi presidente.
Ele disse que dois grupos se acham donos da companhia: sindicalistas e políticos, entre eles, o presidente Jair Bolsonaro. Ambos defenderiam seus interesses políticos e pessoais. “Por isso, defendo a privatização da Petrobras”, declarou Castello Branco.
Essa também foi a sua resposta para quando questionado sobre qual pré-candidato à presidência da República, Jair Bolsonaro (PL) ou Luiz Inácio Lula da Silva (PT), seria “menos pior” para a Petrobras.
“Eu acho que ambos não são bons como qualquer outro para uma companhia como a Petrobras. Nesse ponto eu sou insistente: o melhor caminho para a Petrobras, para os técnicos e a gente valorosa que tem lá, é a privatização”.
Em sua visão, o presidente Jair Bolsonaro não fala sério quando cogita vender a empresa para a iniciativa privada.
Bolsonaro tem ficado em segundo lugar nas pesquisas sobre intenção de voto, perdendo justamente para o seu maior oponente, Lula.
O economista também avaliou que o atual presidente não deve conseguir apoio do mercado neste ano eleitoral como conseguiu na última eleição. “Não há sinais de que o pessoal da Faria Lima continue acreditando nisso [liberalismo de Bolsonaro].