Uma das cabeças da greve dos caminhoneiros de 2018, Wallace Landim, o Chorão, afirma que a situação econômica do país se deteriorou em 4 anos
O presidente da Abrava (Associação Brasileira de Condutores de Veículos Automotores) e um dos líderes da greve dos caminhoneiros de 2018, Wallace Landim , o Chorão, divulgou nota nesta segunda-feira (16) afirmando que uma eventual paralisação da categoria é vista com “preocupação” devido à atual situação econômica do país.
Ele afirma que hoje o cenário é “muito diferente” de 2018, citando a fragilidade econômica provocada pelos “mais de dois anos de pandemia”.
“Fazer uma grande paralisação nesse momento pode atrapalhar recuperação econômica do Brasil, que ainda é muito tímida. Os caminheiros brasileiros apoiam o bem-estar da sociedade”, diz.
Landim diz que compreende a angústia dos caminhoneiros ao sentir os impactos da inflação e dos sucessivos aumentos do diesel, mas pede “sensibilidade e responsabilidade” para entender o impacto que uma greve causaria nos mais vulneráveis.
“Os caminheiros autônomos são importantes para o equilíbrio do sistema de transporte de cargas do país e, por isso, temos o importantíssimo papel de manter o povo brasileiro devidamente abastecido. Isso aumenta muito nossa responsabilidade social, fato que requer ações inteligentes para não prejudicarmos os mais vulneráveis e a classe média que são os que mais sofrem com os impactos da alta dos combustíveis e os que mais sofrerão com o desabastecimento dos supermercados e comércio de maneira geral. O desabastecimento é, sem sombra de dúvidas, um fator que pode elevar ainda mais a inflação e todo esse caos econômico que estamos vivendo”, afirma.
Landim também criticou o que chamou de “política predatória de aumento de preço do diesel” e o crescimento dos lucros e dividendos dos acionistas da Petrobras “as custas do sofrimento da nossa categoria e de cada cidadão desse país”.
O preço do óleo diesel acumula alta de 52,53% nos últimos 12 meses com o último reajuste no valor do combustível, anunciado pela Petrobras na segunda-feira (9). Desde então, o valor médio do litro nas refinarias passou de R$ 4,51 para R$ 4,91.
O líder dos caminhoneiros autônomos pediu atuação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) e da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) para extinguir os sucessivos aumentos de preço dos combustíveis, além de fiscalizar e punir os “cartéis” existentes no setor.
“Aqui, cabe uma crítica especial à ANP que, como Agência Reguladora, está sendo omissa com a sociedade, vez que a função precípua de um órgão regulador é proteger o cidadão de externalidades negativas e condutas oportunistas e criminosas. O que a ANP tem feito? A resposta é: absolutamente nada! Parece que o setor está sendo regulado pela Petrobras, uma empresa que visa lucros e distribuição de dividendos cada vez maiores aos seus acionistas”, pontuou Landim.
Redução no frete
Durante pronunciamento na última quarta-feira (11), o senador Lucas Barreto (PSD-AP) informou que apresentou um projeto de lei — o PL 1.205/2022 — para beneficiar os caminhoneiros que trabalham como transportadores autônomos de cargas (TACs).
O projeto prevê que, “na prestação de serviço realizado pelo TAC, o combustível terá caráter meramente ressarcitório, não compondo o valor do frete, devendo ter seu custo repassado integralmente ao tomador do serviço, de forma destacada e apartada do frete”.
Chorão disse que o PL “é a solução que os caminhoneiros autônomos precisam para sobreviverem nesse nefasto mercado do combustível, deixando de subsidiar as operações de transportes de grandes empresas.”
“Entendemos que o Projeto de Lei do Senador Lucas Barreto não trará impacto algum à sociedade, mas fará uma diferença enorme para cada caminhoneiro autônomo brasileiro. Então, além de cobrar maior atuação do governo e das suas instituições, agora precisamos que o congresso faça o PL 1.205/2022 tramitar com máxima urgência, de forma que os autônomos tenham seu direito mais básico respeitado, diminuindo as tensões, de forma a eliminar riscos de uma grande greve como a de 2018 que, infelizmente, por mais esforços que façamos, não está descartada de acontecer, em curtíssimo prazo”, adiciona o presidente da Abrava.
Entenda as ideias do governo para reduzir preços dos combustíveis
Após tentar uma solução com duas investigações do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) , o governo busca uma nova alternativa para reduzir o preço dos combustíveis: alterar o sistema de fretes da Petrobras . Segundo interlocutores do governo, a estimativa é que a medida reduza a cotação do petróleo de 10% a 15%.
O governo federal estuda uma mudança na cobrança do frete para caminhoneiros, a fim de aliviar a pressão que sofre sobre com relação ao aumento no preço do diesel, enquanto a Petrobras registra lucro recorde. A ideia é aproximar o modelo brasileiro do vigente nos Estados Unidos, onde é garantido o preço do frete para o caminhoneiro pelo preço final, quando a mercadoria é entregue.