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Economia

BC reavalia projeções e abandona “recuperação robusta” neste ano

Segundo ata do Copom, atividade será prejudicada pela limitação de oferta de insumos, juros altos e cenário externo ‘menos favorável’

O Banco Central (BC) fez uma reavaliação do cenário econômico e deixou de projetar uma “recuperação robusta” da atividade econômica no segundo semestre deste ano, aponta a ata da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) divulgada nesta quarta-feira.

O documento mostra o cenário que foi levado em conta pelo Copom na decisão de elevar a taxa básica de juros, a Selic, para 7,75% na última semana. Segundo a ata, indicadores recentes da produção industrial e do comércio vieram abaixo do esperado, apesar de uma recuperação ainda “robusta” do setor de serviços.

“O Comitê manteve a expectativa de uma retomada da atividade no segundo semestre, ainda que menos intensa e mais concentrada no setor de serviços. Essa reavaliação reflete o impacto das limitações na oferta de insumos em determinadas cadeias produtivas, que devem perdurar até o próximo ano”, aponta a ata.

O Copom ainda avaliou que a elevação dos juros e o aperto das condições financeiras contribuem para uma atividade econômica mais fraca. Em adição, o cenário internacional é menos favorável para países emergentes, com reversão de estímulos fiscais e processos de alta nos juros. O Comitê ainda entende que três fatores devem estimular a atividade.

“O Copom avalia que o crescimento tende a ser beneficiado por três fatores: a continuação da recuperação do mercado de trabalho e do setor de serviços; o desempenho de setores menos ligados ao ciclo de negócios, como agropecuária e indústria extrativa; e os resquícios do processo de normalização da economia conforme a crise sanitária arrefece”, diz o documento.

As projeções de crescimento para 2021 vem caindo por três semanas seguidas, de acordo com o relatório Focus, que reúne as expectativas do mercado. Atualmente em 4,94%, a projeção esteve em 5,04% há um mês.

As revisões para baixo também são vistas, com mais intensidade, para 2022. O Focus mostra projeção de alta no PIB de 1,2%, contra 1,4% na semana passada. Já o Itaú passou a prever queda na atividade de 0,5%.

Inflação e fiscal

A ata mostra ainda que a inflação está sendo pressionada pelo preço de bens industriais em conjunto com o setor de serviços, mas a “alta substancial” em commodities energéticas, como o petróleo, e a depreciação do Real foram os principais fatores para que as projeções de inflação do Copom se elevassem. 

Para 2022, a atual projeção de inflação do Copom é de 4,1% contra 3,7% na última reunião, em outubro. A meta é de 3,5%, com tolerância de 1,5 p.p para cima ou para baixo.

Esse cenário em conjunto com os “questionamentos” ao arcabouço fiscal, uma maneira do Copom se referenciar à tentativa de furar o teto de gastos, elevaram o risco de desancoragem das expectativas de inflação, o que pressionou para uma alta de juros maior do que o 1 ponto percentual (p.p) anteriormente previsto.

O documento inclusive aponta que o Comitê considerou subir os juros além do 1,5 p.p, mas os membros do Copom entenderam que esse ajuste é suficiente para colocar a inflação na meta em 2022.

“O Comitê ponderou que a assimetria no balanço de riscos, resultante dos desenvolvimentos no cenário fiscal, implica elevação do risco altista para as projeções do seu cenário básico, e avalia que esse viés de alta é agora maior do que o anteriormente considerado”, aponta.

Assim como fez nas atas das reuniões passadas, o Copom ressaltou que é necessário seguir com a agenda de reformas para garantir o “crescimento sustentável da economia”.

“Esmorecimento no esforço de reformas estruturais e alterações de caráter permanente no processo de ajuste das contas públicas podem elevar a taxa de juros estrutural da economia”, diz o documento.