No segundo cenário e considerado mais provável pela autoridade monetária, a inflação ficaria em 6,3% em 2022
O Banco Central (BC) manteve sua previsão de crescimento para este ano em 1% e apontou dois cenários para a inflação em 2022. Em ambas, o índice de preços fica acima da meta estipulada para este ano.
As expectativas constam no Relatório Trimestral de Inflação divulgado nesta quinta-feira pela autoridade monetária. No documento, consta que a manutenção da previsão do PIB considerou fatores negativos e positivos para o crescimento do país.
No lado negativo, o BC aponta que a escassez de matéria-prima deve afetar a recomposição de estoques e o desempenho da indústria, enquanto o risco fiscal e a alta nos juros também devem trazer o crescimento para baixo. Além disso, o conflito entre Ucrânia e Rússia e os impactos na produção também afetam o país.
“A elevação dos preços de commodities e dos preços de produtos importados – especialmente desde a escalada do conflito entre Rússia e Ucrânia −, embora atenuada pela recente apreciação do real, pode ser considerada um novo choque de oferta do ponto de vista da economia doméstica, com impacto altista sobre a inflação e negativo sobre a atividade econômica no curto prazo”, apontou o BC.
Para o positivo, o BC ressaltou que o PIB de 2021 veio acima do esperado e a tendência é que o primeiro trimestre deste ano também mostre números positivos e espera que esses resultados favoreçam as expectativas para o ano.
“Adicionalmente, mantém-se perspectiva favorável para alguns setores específicos, como a agropecuária e as atividades econômicas que ainda estão em processo de recuperação dos impactos negativos da pandemia”, disse no documento.
Com a manutenção da projeção, as expectativas do BC ficam ainda distantes das do mercado, que espera uma alta de 0,5% no PIB este ano, conforme mostrado pelo relatório Focus desta semana.
Inflação
Para a inflação, os dois cenários desenhados pelo BC consideram diferentes preços do barril de petróleo. No primeiro, o barril ficaria mais caro, acima dos US$ 118 dólares até 2023. Já no segundo, o barril terminaria 2022 em US$ 100 e aumentaria aos poucos no ano seguinte.
No caso do barril mais caro, a inflação ficaria em 7,1% em 2022 e 3,4% em 2023 e a probabilidade da inflação ficar acima do teto da meta seria de 97%, segundo o BC. No segundo cenário e considerado mais provável pela autoridade monetária, a inflação ficaria em 6,3% em 2022 e 3,1% em 2023, com probabilidade de 88% de estouro do teto da meta.
A meta é de 3,5% ao ano, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo.
Caso seja confirmado, 2022 seria o segundo ano consecutivo em que o Banco Central não consegue cumprir a meta de inflação. Em 2021, a inflação de 10,06% ficou bem acima da meta de 3,75% ao ano.
Nesse cenário, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, terá que escrever uma carta ao ministro da Economia explicando as razões para o descumprimento da meta, assim como fez no início deste ano.