“O cenário de 2020 é incomparavelmente mais preocupante.”
Essa é a análise da ex-ministra Marina Silva em relação aos próximos passos da agenda ambiental de Jair Bolsonaro. Não que a crise de 2019 não tenha sido suficientemente grave, mas Marina, 61 anos, que por mais de cinco comandou o Ministério do Meio Ambiente no governo Lula, não enxerga, por enquanto, meios e intenção do atual titular em retomar o caminho da proteção ambiental. “Até porque a governança foi desmontada, o Ibama e o ICMBio estão enfraquecidos”, analisa. “É a primeira vez na história do Brasil que temos um ministro antiambientalista.”
Ex-senadora pelo Acre, a historiadora conversou com a reportagem por uma hora e meia na sede do partido que criou, a Rede Sustentabilidade, em Brasília. Quando soube que havia sido escolhida pelos leitores aliados da Agência Pública como entrevistada do mês, disse imaginar o motivo: as recentes tragédias ambientais que atingiram em cheio o Brasil, como a explosão das queimadas na Amazônia e o derramamento de óleo que atinge o Nordeste e o Sudeste. O meio ambiente foi tema, mas não só: ela falou sobre a situação na América Latina, sobretudo na Bolívia; se colocou a favor da prisão em segunda instância – com a ressalva de que a recente decisão do STF deve ser respeitada – e relembrou sua saída do governo Lula.
As críticas à atuação do presidente Bolsonaro e sua equipe não se restringiram à pauta ambiental – de acordo com Marina, o atual governo promove “um desmonte generalizado” nas agendas brasileiras. Ela não acredita, porém, que o país corra o risco de sofrer novas “aventuras autoritárias”, ainda que essas intenções apareçam no discurso da família presidencial. “Não há lugar para reeditar o autoritarismo no Brasil. Todavia, se não há lugar para reeditá-lo, é porque a nossa vigilância, desde que reconquistamos a democracia, nunca baixou. É ela que vai nos assegurar – o Congresso, as instituições do poder Executivo, Legislativo e Judiciário”, destaca.