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Amazônia

'Deixem a Amazônia em paz, a pecuária não precisa dela', diz líder pecuário

“Temos de trabalhar intensamente para estimular a produção agropecuária em bases ecologicamente sustentáveis".

"Isso deveria ser parte do programa de um governo preocupado com a retomada do crescimento econômico e social. Por derradeiro, que se assuma um novo lema de preservação ambiental e que se deixe a Amazônia em paz”, diz Sylvio Lazzarini, empresário do setor gastronômico paulista e outrora participante do Conselho Nacional de Pecuária e Corte (CNPC) do país.

Em artigo publicado nesta quinta-feira no jornal Folha de São Paulo, Sylvio Lazzarini, CEO da rede de restaurantes Varanda Grill, faz uma análise detalhada do mercado pecuarista do Brasil e diz que ele não precisa expandir novos pastos para a Amazônia, que hoje se encontra em chamas pelo grande aumento do desmatamento ocorrido este ano na região da maior e mais rica floresta tropical do mundo, essencial ao equilíbrio climático do planeta.

Segundo Lazzarini, a pecuária brasileira não precisa ocupar novas pastagens na Amazônia para crescer e se tornar ainda mais forte no país, pois o avanço de sua produtividade mostra que, entre 1990 e 2018, a área de pastagem caiu 15% (para 162 milhões de hectares), a produção de carne bovina aumentou 139% (ou 9,8 milhões de toneladas).

O empresário ressalta que esse expressivo resultado foi obtido graças à melhoria genética do rebanho, à introdução de inovadoras técnicas de manejo de pastagens, à suplementação mineral, ao confinamento de bovinos e à bem-vinda integração agricultura e pecuária, com a preservação de floresta. “Esse conjunto de boas práticas, além de outras em andamento, vai propiciar novos e contínuos aumentos de produtividade, como a elevação de 1,5 para 4 cabeças por hectare por ano. Isso já se observa em várias regiões do país”, assinala o empresário.

Para Sylvio Lazzarini, com tais ajustes, isolando-se integralmente a região amazônica, o Brasil terá um aumento de quase 55% na produção de carnes nos próximos dez anos, um feito notável que, segundo o empresário, produzirá considerável vantagem para o Brasil.

“Ironias e ofensas a governos aliados criam apenas um desnecessário antagonismo político, que causa enormes perdas. Ao menos 18 marcas famosas, por exemplo, acabam de suspender a compra de couro brasileiro por questões ambientais. Precisamos focar na adoção de várias ações emergenciais e coibir com rigor as queimadas criminosas na região amazônica”, completa o empresário comentando os insultos que o presidente Bolsonaro vem fazendo aos países desenvolvidos que defendem o meio ambiente amazônico.

Importância da integração lavoura-pecuária-floresta

No artigo, um dos principais empresários gastronômicos do país também faz uma análise dos números do setor agropecuário brasileiro e começa informando que três grandes centros respondem por 48% de tudo o que se produz hoje no planeta, com os Estados Unidos liderando com 20%, seguidos do Brasil (16%) e da União Europeia (12%). Entre 2014 e 2018, a produção norte-americana subiu 11% (contra 2% do Brasil e 6% da União Europeia), de acordo com o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos.

Segundo o departamento norte-americano, cinco países respondem por 71% das exportações mundiais, sendo que o Brasil ocupa o primeiro lugar do ranking, com uma participação de 19%. Para o empresário, isso incomoda os países produtores da União Europeia, primeiro porque os preços brasileiros são altamente competitivos e segundo porque o Brasil é o único com potencial e capacidade para atender à expansão projetada da demanda para os próximos anos.

Pelos números apresentados pelo empresário, em 2017, o rebanho bovino e bubalino brasileiro era de 219 milhões de cabeças e, desse total, apenas 19% estavam na região Norte, onde o Pará liderava, com 48% do total. “Ao contrário do que se pensa, o Brasil, além de ter solo e clima favoráveis, reúne todas as condições de elevar substancialmente a produção de carnes”, assinala.

O empresário assinala que o país utiliza novas e inovadoras tecnologias, ditadas por sistemas de produção sustentável, sem a necessidade de novas áreas de pastagens, como é o caso da integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF), processo que recupera áreas degradadas e propicia melhoria acentuada dos índices de produtividade do rebanho.

Para Lazzarini, o conceito de “Carne Carbono Neutro (CCN)”, desenvolvido pela Embrapa Gado de Corte, em Campo Grande (MS), é um exemplo notável, uma vez que, com reflorestamento integrado às pastagens, torna-se possível “armazenar” carbono e neutralizar o metano entérico exalado pelos animais, dando origem à chamada pecuária sustentável e ecológica.

“Mas não é só. A produtividade média do rebanho brasileiro, apesar dos avanços enormes nos últimos 30 anos, ainda é baixa se comparada com os principais concorrentes. A taxa de natalidade do rebanho é de 60%, e a taxa de desfrute (quantidade de cabeças abatidas em relação ao rebanho total) é de apenas 19%. Na Austrália, gira em torno de 28%”, completa o empresário.

(*) Editor do site www.expressoamazonia.com.br.