Depois de seu desmatamento ter explodido em junho passado, com aumento de 88% em relação ao mesmo mês de 2018
, a Amazônia e seus 20 milhões de habitantes começam a viver mais uma fase do ciclo do inferno que representa o avanço das queimadas sobre as áreas derrubadas da região, trazendo doenças para todos, dificultando a navegação aérea e ferindo gravemente a grande floresta, que demora no mínimo sete anos para se recuperar, de acordo com estudo científico divulgado esta semana.
Segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), de janeiro a junho deste ano, já foram registrados 16.642 focos de incêndios florestais nos nove estados da Amazônia Legal (Acre, Amapá, Amazonas, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins), representando um aumento de mais de 35% em relação ao mesmo período do ano passado, quando haviam sido detectados 11.059 focos.
Os dados do Inpe apontam que as queimadas também devem disparar durante todo este ano na região, podendo ultrapassar as 90.408 registrados no ano passado, uma vez que nos meses de julho, agosto e setembro ocorrem o maior número de queimadas na Amazônia e em todo o país, principalmente por causa da derrubadas para formar novos campos de pastagens destinados à pecuária.
Mato Grosso lidera os incêndios florestais da Amazônia
O Inpe também mostra que o Estado de Mato Grosso, que reveza anualmente com o Pará os crescentes e maiores índices dos graves desastres ambientais na maior e mais rica floresta tropical do mundo, essencial ao equilíbrio climático do planeta, já lidera as queimadas em todo o país, contabilizando até o final da semana passada 7.096 focos de calor ou incêndios florestais do total de 27.969 ocorrências registradas em nível nacional desde o início deste ano.
Além de Mato Grosso, os dados do Inpe mostravam que as queimadas também já avançam em Roraima, com 4.603 focos; no Tocantins, com 2.987 focos; seguido do Maranhão, com 2.019 focos, e Mato Grosso do Sul, com 1.727 focos de incêndios florestais. Para mudar o quadro da tragédia ambiental e social, trazido todos os anos pelas queimadas da grande floresta, o Mato Grosso passou a proibir desde segunda-feira (15) desta semana as queimadas em seu meio rural, onde não se pode usar fogo para limpeza ou manejo nas propriedades agrícolas.
Estudo científico publicado esta semana na revista inglesa Global Change Biology por pesquisadores do Brasil, dos Estados Unidos e da Alemanha revela que, na Amazônia, as florestas levam sete anos para recuperar suas funções após a ocorrência de incêndios e queimadas. Segundo o estudo, esse é o tempo mínimo que as florestas da região degradadas pelo fogo recuperam sua capacidade de bombear água para a atmosfera e absorver carbono.
Os cientistas chegaram a essa conclusão depois de analisarem dados de um experimento conduzido pelo Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam) em uma fazenda do Mato Grosso. Nas áreas que passaram por queimadas controladas, as árvores grandes sobreviventes ao fogo se recuperaram rapidamente nos anos seguintes, porém mais fracas e vulneráveis a doenças e rajadas de vento, especialmente nas bordas da mata.
(*) Editor do site www.expressoamazonia.com.br.