Uma temporada de queimadas intensas causadas por humanos na Floresta Amazônica destruiu milhares de quilômetros quadrados de mata, escureceu os céus de São Paulo, e desencadeou preocupação internacional sobre o destino da paisagem mais biodiversa do planeta.
Milhares de incêndios florestais foram iniciados deliberadamente por humanos na Amazônia nos últimos meses, tornando a destruição da floresta num fenômeno puramente antropogênico instigado pelo regime de extrema-direita do presidente Jair Bolsonaro. Para alguns, isso pode fazer parecer que a presença de pessoas na Amazônia está inexoravelmente ligada à ruína da floresta. Mas esse ponto de vista negligencia o passado mais profundo, e muito humano, da floresta. Para restaurar a Amazônia para o futuro, será essencial olhar para esse passado, e o papel persistente da humanidade nele, como um guia.
Nos últimos anos, cientistas acumularam muitas evidências demonstrando que a Amazônia foi moldada pelas pessoas muito antes dos colonizadores europeus colocarem os pés no continente. Povos indígenas, que chegaram na floresta tropical há pelos menos 10 mil anos, alteraram a paisagem ecológica do bioma numa escala em grande parte não reconhecida, a transformando num importante purificador de ar para a atmosfera da Terra.
“Há tempos a Amazônia é entendida como um espaço 'natural' ocupado principalmente por floresta virgem”, disse Helena Pinto Lima, pesquisadora e curadora de arqueologia do Museu Paraense Emílio Goeldi em Belém, por e-mail. “Esse mito de uma floresta imaculada tem cegado muita gente para o que cada vez mais está se mostrando ser uma paisagem cultural.”