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Top secret

Top secret

Em sigilo, a Polícia Federal está investigando a venda de sentenças no gabinete de quatro ministros do STJ. A pista que colocou delegados e agentes no rastro do que pode se transformar num escândalo de corrupção em Brasília estava na cena de um crime ocorrido em Cuiabá — um celular caído no chão do carro, próximo ao corpo do advogado Roberto Zampieri, um conhecido advogado de Cuiabá.

Rotina

Como manda o protocolo, os peritos lacraram o aparelho. Na tela de início, havia o alerta de 39 mensagens de WhatsApp não lidas. A última delas tinha sido enviada por alguém identificado como “Des Sebastião”. Nada aparentemente relevante.

Correria

Logo depois, porém, percebeu-se que havia algo estranho. Os familiares do morto tentaram impedir a apreensão do aparelho. Sem sucesso, queriam evitar que os policiais acessassem os dados, argumentando que havia ali segredos profissionais entre advogado e clientes. Juízes e desembargadores de Mato Grosso também se mobilizaram com o mesmo objetivo. Um magistrado chegou a enviar um preposto à delegacia e conseguiu reaver o celular.

Distorção

Fato é que as investigações conduzem a um esquema de venda de sentenças. Cada ministro do Superior Tribunal de Justiça tem à disposição uma equipe de assessores de gabinete. Cabe a eles, entre outras atividades, preparar as minutas que subsidiam as decisões do magistrado, através da análise de documentos nos autos. Se mal-­intencionados, eles podem de fato manipular essas informações e induzirem os magistrados a erro.

Fio da meada

Por isso, sigilo e confiança são fundamentais nessa relação, mas, ao que parece, ambos foram quebrados. A imprensa nacional já teve acesso a quatro minutas que foram compartilhadas pela quadrilha. Encontradas no celular do advogado morto, elas estão balizando as investigações da PF sobre a atuação dos funcionários do STJ na venda de decisões.

Desvirtuamento

“Esses documentos não deixam sombra de dúvida de que as minutas eram repassadas a terceiros e, depois de negociadas, se transformavam em decisões”, diz uma autoridade com acesso ao caso.

Lá e cá

E o que o Acre tem a ver com isso? É que um dos gabinetes investigados vem a ser o da ministra Nancy Andrighi, relatora dos processos envolvendo a Operação Ptolomeu e seus derivados, ação que envolve vários empresários e agentes públicos do Acre e Amazonas, daí a percepção de que o caso pode envolver algum personagem do nosso estado. É aguardar para vê se o pequeno Acre se tornará novamente noticia nacional.

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Falsificação

Às vésperas da votação do primeiro turno em São Paulo, Pablo Marçal (PRTB) divulgou, nesta sexta (4), um laudo médico falso apontando que Guilherme Boulos (PSOL) teve surto psicótico grave após usar cocaína. O ex-coach estava sendo cobrado por seus seguidores após não apresentar, durante o debate na TV Globo, o documento que prometeu comprovando o uso abusivo de drogas pelo deputado.

Castelo de areia

A farsa montada pelo candidato Marçal começou a ruir em pouco tempo. Ainda ontem, sexta-feira, 04, uma ex-funcionária de José Roberto de Souza, médico responsável pelo suposto laudo publicado por Pablo Marçal (PRTB) sobre uma internação de Guilherme Boulos (PSOL) por uso de drogas, afirmou ao jornal O GLOBO que não reconhece a assinatura que consta no documento.

Provas documentais

Ela enviou à reportagem do matutino carioca imagens de um certificado de conclusão de um curso que ela própria fez no Instituto de Hematologia e Hemoterapia de Campinas (IHHC), avalizado pelo patrão – no caso o então médico José Roberto de Souza, já falecido. A assinatura deste documento — em que também consta o CRM do médico, o mesmo do receituário divulgado por Marçal — é diferente da que aparece junto às supostas informações sobre Boulos.

Precaução

“Trabalhei 31 anos com o doutor José Roberto. Aquela assinatura não é dele. Ele sempre falava: “Faço a assinatura desse jeito porque nunca ninguém vai conseguir falsificar”. Quando vi aquela assinatura (no laudo), isso veio na minha cabeça e decidi zelar pelo nome dele”, contou Iolanda Rodrigues ao repórter Bruno Alfano, do jornal O GLOBO.

Estrago

Ainda na noite dessa sexta-feira, o Instagram tirou a publicação de Marçal do ar. Às 23h00, antes de ser derrubada, a postagem tinha alcançado mais de 373 mil likes e 70 mil comentários, conforme mostra levantamento feito pelo GLOBO.

Personagens

Desde o início da campanha, Marçal tem feito insinuações e acusações de que Boulos seria usuário de cocaína, sem nunca ter apresentado provas. Durante a campanha, as insinuações do ex-coach foram atribuídas a uma confusão: Boulos é homônimo de outro político que tornou-se réu por porte de drogas em 2001. Para aprofundar o envolvimento de personagens que agem a margem da lei, o dono da clínica ‘Mais Consulta’, Luiz Teixeira da Silva Junior (foto), que emitiu o laudo dizendo que Boulos teria buscado atendimento por consumo de drogas, já foi condenado por falsificar diploma do curso de medicina e ata de colação de grau.

Pano de fundo

Na avaliação de jornalistas políticos do cenário paulistano, o ataque a Boulos (que já havia desarmado outras tentativas de Marçal de lhe imputar o uso de cocaína através de homônimos, distorcendo uma internação por depressão e até usando vídeos de notórios produtores de fake news) atinge o deputado, mas mira, na verdade, Ricardo Nunes (MDB).

Objetivos

Na semana passada, 43% dos eleitores de Bolsonaro em 2022 estavam com Marçal e 39% com Nunes. Agora, a vantagem cresceu e foi a 51% a 32%, segundo o Datafolha. O deputado do PSOL está apanhando com uma fake news para convencer eleitores de Nunes que Marçal é mais capaz não apenas de vencer Boulos no segundo turno, mas também de agir conforme a cartilha da extrema direita.

Anormal

O presidente do MDB de Nunes, Baleia Rossi, disse à Folha de S.Paulo, que o coach rompeu os limites éticos. “Isso daí é uma coisa absolutamente fora da normalidade democrática”, afirmou. O uso da fake também pode afastar de Boulos votos de eleitores indecisos ou pouco decididos que ele busca nesta reta final. Vale lembrar que ele tem uma caminhada com Lula, neste sábado, na avenida Paulista.

Distanciamento

Tudo isso ocorre na noite em que Jair Bolsonaro (PL) reafirmou seu apoio a Nunes em uma live com o coronel Mello Araújo, candidato a vice na chapa do prefeito. Nela, o ex-presidente disse que eles são os únicos capazes de “derrotar a extrema esquerda” e cutucou Marçal. A ação do coach visou também a reduzir o impacto desse chamado.

Estratégia

O candidato do PRTB age dessa forma porque sabe que não terá sua candidatura impugnada, pelo menos não antes da votação. Apesar de direitos de respostas e suspensões de contas em redes sociais, ele teve liberdade de atacar, agredir e mentir livremente durante o primeiro turno. A falta de instituições que garantissem que operasse dentro dos padrões democráticos agora gera monstruosidades que podem manipular o resultado a dois dias da votação.