..::data e hora::.. 00:00:00

Jamaxi

Tempestade

Tempestade

Ontem, 11, após um episódio envolvendo o deputado Edvaldo Magalhães (PCdoB) e o secretário adjunto de Governo, Luiz Calixto, na Assembleia Legislativa do Acre, que também teria resultado em acusações e ataques feitos a líder do governo, deputada Michelle Melo (PDT), o presidente em exercício do parlamento acreano, deputado Pedro Longo (PDT), convocou todos os parlamentares para um ato de repúdio sobre as supostas declarações feitas pelo adjunto Luiz Calixto. Na refrega verbal, Calixto e Magalhães desferiram mimos tipo ‘mau caráter’ e ‘vagabundo’.

Desagravo

“Em nome da Mesa Diretora, quero externar a solidariedade à líder do Governo, deputada Michelle Melo (PDT), que tem conduzido muito bem os trabalhos. Vossa excelência foi desacatada em reuniões de âmbito governamental. Isso não é aceitável. Me solidarizo também ao líder da oposição nesta casa, deputado Edvaldo Magalhães, uma pessoa que sempre é tratada com muito respeito por todos nós. É inadmissível que um parlamentar seja desacatado no âmbito do parlamento e no exercício de sua atividade parlamentar. Nós não vamos admitir esse tipo de coisa. Que essa nossa mensagem chegue ao governador porque eu tenho certeza que ele não concorda com isso”, disse Pedro Longo.

Posição

Por seu turno, a deputada Michelle Melo (PDT) usou a tribuna para repudiar as supostas acusações e ataques feitos a ela pelo secretário adjunto de governo. “É um basta que dou hoje como líder do governo. Todos merecem respeito, assim como o senhor Edvaldo. Chega de secretários não atenderem deputados; chega de secretários acharem que mandam mais que deputados, que fazem política sozinhos. Se fizessem, estariam nos nossos lugares e não estão. Que comecem a ouvir a voz deste parlamento. Desrespeito gera desrespeito. Ninguém nunca me chamou de incompetente e nunca terá o prazer de fazer isso”, destacou a deputada, transbordando emoção.

Virando a página

À noite, como se nada tivesse acontecido, 20 dos 24 deputados estaduais estavam num jantar com o governador Gladson Camel (PP)i em um restaurante no centro de Rio Branco, inclusive com a presença do secretário adjunto Calixto e da líder do governo Michelle Melo, rotulada como ofendida em sua honra.

Regabofe

Com um sorriso largo, Gladson chegou acompanhado de Nicolau Júnior (PP), primeiro secretário da Aleac, e foi de mesa em mesa a cumprimentar deputados e outros convidados. Também posou para fotos e selfies. Gladson disse que ligou para o comunista Edvaldo Magalhães assim que assistiu o vídeo do bate-boca e o convidou para o jantar, sendo que pelas informações colhidas resta que o comunista não compareceu ao convescote.

Imagem2

Cruzada

A vereadora Elzinha Mendonça (PSB) fez uso da Tribuna na Câmara Municipal de Rio Branco, na manhã de ontem, terça-feira, 11, apresentando requerimento em defesa de mulheres que sofrem assedio nos órgãos públicos.

Súplica

“Virou banalidade, corriqueiro, na gestão do prefeito Tião Bocalom, assediadores que mesmo tendo sido intimado pelo Ministério Público, continuam exercendo o cargo livremente. Diante disso, como presidente da Comissão em Defesa do Direito da Mulher, digo que essa Casa não compactua com esse tipo de situação e apresento um requerimento recomendando o afastamento preventivo cautelar dos servidores acusados e peço apoio dos meus pares para que a prefeitura municipal possa cumprir a Lei”, discursou a vereadora.

Imagem3

Maquiavélico

As mensagens encontradas pela Polícia Federal no telefone celular do senador Marcos do Val, do Podemos do Espírito Santo, revelam o parlamentar fazendo um perigoso jogo duplo na cúpula dos poderes da República em torno de uma suposta trama para deflagrar um golpe de estado destinado a anular as eleições presidenciais de 2022.

Leva e traz

Ao mesmo tempo que falava com o próprio Bolsonaro e trocava mensagens com o ex-deputado Daniel Silveira para tratar do plano, que previa gravar o ministro Alexandre de Moraes e abrir caminho para o que seria uma intervenção militar no país, do Val mantinha o próprio ministro do Supremo Tribunal Federal e presidente do Tribunal Superior Eleitoral a par de cada passo que dava.

Agente 86

Sim, se de um lado o senador tratava com Daniel Silveira e se reunia com Bolsonaro maquinando o plano para derrubar Alexandre e anular as eleições, de outro ele delatava ao ministro, quase que em tempo real, que o então presidente da República e o deputado cassado estavam tentando cooptá-lo para colocar em marcha o estratagema.

Estratégia

O plano que tinha o senador como personagem central envolvia a tentativa de flagrar eventuais inconfidências do ministro sobre o processo eleitoral. O próprio Marcos do Val encontraria o ministro e, equipado com aparelhos de escuta, o gravaria. O teor da gravação, de acordo com plano mirabolante gestado nas hostes bolsonaristas, seria a base para que militares alinhados ao bolsonarismo anulassem a eleição, decretassem uma intervenção no país e evitassem a posse de Lula.

Surrealismo

Por tudo o que se lê nas mensagens, é difícil delinear o que era real e o que era devaneio na trama. Mas é fato que as tratativas envolveram trocas de mensagens e ao menos uma reunião com Bolsonaro e, ao mesmo tempo, contatos múltiplos entre o senador que seria pivô do plano golpista e o ministro. É um retrato bem-acabado do caos brasileiro que, ao mesmo tempo, mistura intriga e traição e desvela o jogo em torno do poder em Brasília.

Enredo

Tudo começou no dia 6 de dezembro de 2022, quando o ex-deputado federal Daniel Silveira procura o senador Marcos do Val. Queria falar pessoalmente sobre um plano que, dizia, tinha potencial para mudar os rumos da história do país.

Jogo duplo

Ainda no dia 7 de dezembro, Marcos do Val manda mensagem para Alexandre de Moraes. “Boa tarde ministro! Ontem o Daniel Silveira me procurou. Me passou uma situação contra a democracia extremamente preocupante. O senador ainda envia ao ministro, no mesmo dia, prints das mensagens que havia recebido de Daniel Silveira. “Para guardar”, escreveu. “Ótimo”, responde Alexandre um minuto depois.

O golpe

Já no dia 8 de dezembro, Marcos do Val relata ao ministro que Daniel Silveira havia ido ao encontro dele, nas proximidades do Congresso Nacional, e telefonado para Jair Bolsonaro. Na ligação, o então presidente teria pedido para falar com o senador. “Bom dia, ministro. Ontem Bolsonaro pediu para falar comigo e me perguntou se poderia encontrar com ele hoje no fim da tarde. O objetivo é mesmo derrubar o presidente Lula. Quando sair da reunião, faço contato”, escreveu Marcos do Val.

Ação

Ao mesmo tempo, as tratativas de Marcos do Val com Daniel Silveira prosseguem. Os dois se falam o tempo todo por mensagem. Estão de prontidão para o tal encontro com Bolsonaro. Silveira se mostra animado. ”Após isso ser feito (referindo-se à missão), será um acontecimento histórico. Todos serão levados às posições que devem estar. De heróis e de traidores. A sua estará definida e marcada como um herói, só”, diz o deputado cassado, tentando animar o senador, que responde: “O importante é a missão ser um sucesso!”.

O encontro

Marcos do Val e Daniel Silveira combinam de se encontrar para, então, seguirem juntos até Bolsonaro. O ponto de encontro é um estacionamento entre o Palácio do Jaburu, residência oficial do vice-presidente, e o Palácio da Alvorada.

Pontos escuros

Não fica claro se a conversa com Bolsonaro se deu no Alvorada ou um pouco mais longe dali, na Granja do Torto, residência de campo da Presidência (Marcos do Val, ao se referir posteriormente a esse encontro, diz várias vezes que ele ocorreu na Granja). Pelas mensagens, a conversa com Bolsonaro durou menos de uma hora.

Respaldo

Daniel Silveira faz um pedido adicional a Marcos do Val: “Insisto em dizer que é uma oportunidade ímpar e peço não comente com absolutamente ninguém. Mesmo com esposa e qualquer familiar ou conselheiro. Essa é uma ação que somente você e seu consciente devem analisar”. No entanto, estão todos em uma esperança sem precedentes, pois somente com você o cenário da missão é possível, pois existe uma brecha aberta que não irá se abrir a ninguém”, emenda. A brecha aberta, no caso, era a possibilidade de Marcos do Val falar com Alexandre de Moraes e poder gravá-lo.

Segredo de polichinelo

A despeito do pedido de Daniel Silveira para guardar segredo, Marcos do Val compartilha o plano com assessores e também num grupo de “amigas”. Ele se gaba do papel que teria na história, ora se colocando como uma peça que ajudaria o bolsonarismo, ora se vendendo, como boa dose de megalomania, como alguém que passaria a ter os dois lados da política nacional nas mãos.

Mensagens com Bolsonaro

Em 9 de dezembro, Marcos do Val escreve para Bolsonaro: “Bom dia, presidente! Foi um grande prazer estar com você ontem. Dá para ver no seu olhar um desejo impressionante de ajudar o Brasil. Desta lista que você me enviou (refere-se a uma lista que Bolsonaro havia enviado com nomes de políticos que estariam sob risco de ficar inelegíveis em razão de ligações com os atos antidemocráticos), só o Magno Malta (também bolsonarista e também senador pelo Espírito Santo) que não consigo gostar. É uma pessoa que está sempre aproveito (sic) do sofrimento alheio para se sobressair”.

Prisão de Moraes

Em mais um lance do complicado jogo duplo que estava fazendo, ainda em 9 de dezembro Marcos do Val escreve novamente para Alexandre de Moraes. Desta vez, ele diz ao ministro que o plano incluía não só afastá-lo das funções no STF, mas também prendê-lo.

Lero-lero

Para dar mais tempo de saber como proceder diante desse sensível assunto, falei que voltaríamos a conversar na próxima semana. Toda conversa foi na Granja e entrei junto com o DS sem precisar me identificar. Não sujaria o meu nome e a minha honra, compactuando com essa missão. Sou um democrata ferrenho e um admirador da sua coragem em prol do Brasil. Os detalhes de como seria essa missão posso te passar pessoalmente ou da forma que achar melhor”.

Nitroglicerina

O relatório da Polícia Federal que analisa as mensagens termina levantando uma hipótese bastante plausível para o jogo duplo do senador nesta que, ainda que grave, é uma das histórias mais rocambolescas da história recente da República. O documento registra que Marcos do Val, com sua atuação de “caráter ambíguo”, “parecia valer-se de prints de conversas com as mais altas autoridades da República para, colocando-as umas contra as outras, angariar prestígio pessoal e político”.