Na avaliação do presidente Jair Bolsonaro, até ontem o mais duro revés sofrido por seu governo, este ano, foi a decisão do Supremo Tribunal Federal que permitiu a instalação da CPI da Covid-19 no Senado. O desgaste tem sido grande desde então. Mas, ontem, finalmente, outra decisão superou a primeira em gravidade.
Chancela
Os ministros Ricardo Lewandowski e Alexandre de Moraes mantiveram a quebra dos sigilos telefônico e telemático dos ex-ministros Eduardo Pazuello, da Saúde, e Ernesto Araújo, das Relações Exteriores, e de Mayra Pinheiro, secretária de Gestão do Trabalho do Ministério da Saúde, a “a capitã cloroquina”.
Contraposição
Na última sexta-feira, a Advocacia-Geral da União (AGU) apresentou um mandado de segurança ao Supremo no qual pedia a anulação da decisão da CPI de quebrar os sigilos de Pazuello. Antes, por sua conta e risco, Pazuello e Mayra deram entrada nos seus próprios pedidos.
Argumentos
A ação da AGU dizia que a CPI tomara sua decisão sem “qualquer fundamentação” e com base “na pressuposição genérica” de que o general Pazuello foi titular do Ministério da Saúde, o que não seria suficiente “para uma medida de extrema gravidade”.
Passando ao largo
Lewandowski simplesmente rejeitou-a. No seu entendimento, as medidas adotadas pela CPI são pertinentes com as investigações e não se mostram, “a princípio, abusivas ou ilegais”. Por razões semelhantes, Alexandre de Moraes também rejeitou o pedido feito por Araújo.
Malandragem
Teme Bolsonaro que a quebra dos sigilos dos três revele segredos embaraçosos para o governo guardados na memória de celulares e de computadores. Mais cuidadoso foi o ministro Ricardo Salles, do Meio Ambiente, suspeito de envolvimento com contrabando de madeira, que levou 19 dias para entregar seu celular requisitado.
Caixa preta
A operação de combate à pandemia implicou em muitos gastos. Dirigentes e lobistas de empresas farmacêuticas pressionaram o governo para que comprasse respiradouros, testes, vacinas e drogas ineficazes contra o vírus. Ao que se viu, o governo estimulou a compra de drogas e empurrou as demais compras.
Prova dos nove
A direção da CPI está convencida de que muito dinheiro correu diretamente para o bolso de funcionários graduados do governo. Com os documentos que reúne, pretende provar. A conferir em breve se isso é verdade.
Maré
A pouco mais de um ano da campanha eleitoral, uma nova onda começa a se formar nos mares do centro: diante das dificuldades do PSDB, da indecisão de Luciano Huck e do naufrágio de João Amoêdo, PSD e MDB içam velas, esquadrinham mapas e consultam suas bússolas rumo a uma aventura presidencial. Se uma dessas caravelas aportará em terra firme, só 2022 dirá. Por ora, ao adotarem a opção pela candidatura própria ao Planalto, os dois partidos buscam navegar em águas menos mexidas no meio da polarização entre Lula e Bolsonaro.
Divisão…
MDB e PSD sabidamente mantêm laços com Jair Bolsonaro e com Lula. Neste momento, ambos sofrem assédio dos dois lados da polarização e tentam evitar uma fragmentação de suas tripulações.
…à vista
Candidaturas próprias ajudam a evitar motins e sempre deixam escotilhas abertas para o diálogo com os petistas e com o governo federal.
Alvíssaras
Ao fim e ao cabo, há sempre a esperança de uma candidatura de centro pegar uma corrente e, com vento a favor, se viabilizar eleitoralmente.
Captain…
No PSD do ex-ministro Gilberto Kassab, a empreitada presidencial atende pelo nome de Rodrigo Pacheco (MG), o presidente do Senado que pode deixar o Titanic do DEM.
…my captain
O MDB, comandado por Baleia Rossi, pensa em lançar uma mulher como candidata ao Planalto. A senadora Simone Tebet (MS) desponta bem.
Mapas
Na cartografia eleitoral, PSD e MDB ainda permanecem livres, enquanto PP, PL e Republicanos já são dados como certos na nau bolsonarista. PSB, PSOL e PCdoB devem mesmo se aboletar com Lula.
Ninho
Aécio Neves esteve com FHC. Conversaram sobre a pré-candidatura de Tasso Jereissati (CE) a presidente pelo PSDB.
Ajuda aí, pô
O PSL quer convencer José Luiz Datena a concorrer ao Planalto.
Ainda é cedo
ACM Neto, presidente do DEM, busca recompor pontes com o centro. Mas ainda há muita desconfiança quanto ao projeto do ex-prefeito. Acham que ele já está apalavrado com Jair Bolsonaro.
Turning…
Ladeira abaixo
Marcelo Queiroga vinha sendo elogiado por governadores até recentemente. Mas há uma crescente percepção de que ele também está caindo em descrédito. A “demissão” de Luana Araújo foi o ponto de inflexão para Queiroga.…point
Quem conhece o histórico de fritura de ministros por Bolsonaro ligou o alerta quando ele disse esse “tal de Queiroga”. A conversa do decreto contra o uso da máscara, sem pé nem cabeça, poderia ser um teste do presidente.
De novo?
A leitura é de que Bolsonaro vai jogando para enquadrar ou enfraquecer o ministro.
Motor
Do senador Rogério Carvalho (PT-SE), sobre os trabalhos da CPI da Covid: “Se alguém ainda achava que faltavam provas da atuação direta de Bolsonaro em favor da teoria da imunidade de rebanho, os documentos do Itamaraty são um Fiat Elba”.
Motor 2
O automóvel foi imortalizado na história da política brasileira no impeachment de Fernando Collor (1992). “Está provado o crime sanitário e Bolsonaro precisa ser responsabilizado”, diz Carvalho.